Não é verdade que as urnas eletrônicas no estado americano de Kentucky estão computando votos dados ao candidato republicano, Donald Trump, para a democrata Kamala Harris. O vídeo que circula com a alegação é verdadeiro, mas o caso registrado foi solucionado, segundo autoridades locais, e o problema não se repetiu.
A publicação enganosa acumulava ao menos 7.000 curtidas no Instagram e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta sexta-feira (1º).
URGENTE! Urnas eletrônicas em Kentucky (EUA) NÃO PERMITEM que os eleitores selecionem o nome de Trump na hora de votar!
Um vídeo em que um eleitor americano tenta votar em Trump, mas a urna seleciona o nome de Kamala Harris, tem sido compartilhado nas redes como se mostrasse uma fraude orquestrada para impedir a seleção do nome do republicano no estado de Kentucky. Isso, no entanto, é falso.
O caso aconteceu no condado de Laurel na última quinta-feira (31) em um equipamento específico. Segundo o republicano Tony Brown, autoridade eleitoral local, o que aconteceu foi um incidente isolado:
“Verificamos e não conseguimos recriar o incidente relatado. A máquina foi retirada de serviço e aguarda a chegada do representante da Procuradoria-Geral da República. Não tivemos reclamações antes ou depois da denúncia. Deixamos a máquina à vista e aguardamos novas instruções”, explicou em post no Facebook.
Horas depois, o representante da Procuradoria chegou ao local e gravou um vídeo com o mesmo equipamento para tentar repetir o problema. Segundo a autoridade, o voto só foi trocado quando o dedo foi pressionado entre as duas opções.
De acordo com um ex-diretor eleitoral americano ouvido pela Louisville Public Media, provavelmente o erro do eleitor foi tentar clicar no quadrado localizado no canto superior esquerdo. Para ele, o problema não teria ocorrido se o eleitor tivesse clicado no centro da opção, que é a orientação no momento da votação.
O secretário de Estado de Kentucky, Michael Adams, que também republicano, disse no X (ex-Twitter) que não houve troca de votos: “o eleitor confirmou que sua cédula foi impressa corretamente, como marcada para o candidato de sua escolha”.
As peças omitem ainda que a gravação não mostra uma urna eletrônica, uma vez que o estado de Kentucky não usa esse tipo de equipamento. Trata-se, na verdade, de um BMD (ballot marking device, um equipamento que preenche digitalmente cédulas impressas) da marca ExpressVote.
Conforme explicado por Brown, as opções escolhidas pelo eleitor na tela são preenchidas na cédula de votação impressa. Caso o eleitor tenha cometido um erro ou visto algum tipo de preenchimento indevido, é possível solicitar outra cédula e votar novamente. A legislação de Kentucky permite que cada eleitor troque a cédula de votação no máximo duas vezes.
Não há, portanto, nenhum indício de que o que ocorreu no vídeo tenha sido uma tentativa de fraude para beneficiar Kamala Harris, muito menos que ela esteja ocorrendo em todo o estado. A imprensa americana noticiou que ao menos outros cinco distritos do estado apresentaram problemas com a tela dos BMDs. Nenhum voto, no entanto, foi trocado, segundo as autoridades.
O caminho da apuração
Aos Fatos procurou informações referentes ao caso citado nas peças de desinformação e encontrou checagens feitas por veículos americanos, como o The Dispatch e o Herald-Leader. A reportagem, então, refez o caminho da apuração desses sites e procurou informações mais atualizadas sobre o assunto.