É falso que a Mpox seja uma reação adversa das vacinas contra a Covid-19, como alegam posts nas redes. Além de as duas enfermidades serem causadas por vírus diferentes — e, portanto, terem imunizantes fabricados com componentes diferentes — a Mpox se disseminou com maior gravidade em países da África, que têm baixas taxas de vacinação contra a Covid-19.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 3.300 curtidas no Instagram até a tarde desta terça-feira (27).
Seria a Mpox uma reação adversa proveniente dos imunizantes aplicados em larga escala?
Publicações nas redes mentem ao sugerir que a Mpox seria uma reação adversa das vacinas contra a Covid-19. Os argumentos não se sustentam por uma série de motivos:
- As duas doenças são causadas por vírus diferentes;
- não há nos imunizantes desenvolvidos contra o coronavírus nenhum componente relacionado ao vírus mpox ou que possa levar seres humanos a desenvolverem a doença;
- os países com surtos mais graves da enfermidade atualmente estão concentrados no continente africano, onde a média geral de vacinação contra a Covid-19 é baixa.
Em nota enviada ao Aos Fatos, o Ministério da Saúde disse que a Mpox é uma doença viral transmitida por meio de contato com pessoas infectadas ou materiais contaminados “e não é um efeito colateral das vacinas contra a Covid-19 ou de qualquer outra vacina”.
Segundo a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, as vacinas mais usadas contra a Covid-19, que empregam a tecnologia de RNA mensageiro, “utilizam uma fita de RNA com as informações de moléculas oriundas do Sars-Cov-2”, que pertence à família dos coronavírus. Não há qualquer relação entre o agente causador da doença e o responsável pela Mpox, o vírus mpox, que pertence à família Poxviridae.
Por se tratarem de doenças diferentes, os principais sintomas e formas de disseminação também são distintos. A Mpox causa bolhas e feridas na pele e é transmitida principalmente pelo contato físico com lesões, secreções respiratórias e objetos contaminados. Já a Covid-19 causa problemas pulmonares, como tosse e dificuldade respiratória, e é disseminada principalmente por gotículas contaminadas.
Outro fator que desarticula o argumento de que a Mpox seria uma reação adversa dos imunizantes contra a Covid-19 é a questão geográfica. A doença tem se disseminado principalmente em países da África que têm baixas taxas de vacinação contra a infecção causada pelo coronavírus.
De acordo com o site Our World in Data, apenas 38,7% da população do continente africano havia recebido alguma dose de vacinas contra a Covid-19. Na República Democrática do Congo, centro do novo surto de Mpox, os dados são ainda mais baixos: apenas 16,65% das pessoas receberam alguma dose de um imunizante contra a doença.
Caso houvesse de fato relação entre a vacinação contra a Covid-19 e a Mpox, o maior número de casos deveria estar concentrado em países com altos índices de vacinação, o que não tem ocorrido.
Emergência em saúde. A OMS declarou emergência de saúde pública no dia 14 de agosto devido ao surto causado por uma nova variante de Mpox na República Democrática do Congo e em outros países da África. No Brasil, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou a instalação de um centro de operações para coordenar ações de resposta à doença. Ainda não há notificação de casos da nova mutação do vírus no país.
Desde a declaração da OMS, diversas publicações nas redes têm espalhado desinformação sobre a Mpox. Veja aqui a lista de conteúdos que Aos Fatos já checou.
Peças desinformativas sobre a suposta relação entre as vacinas contra a Covid-19 e a Mpox também foram verificadas pela Deutsche Welle e pelo Observador.
O caminho da checagem:
Aos Fatos buscou informações sobre a Mpox e a Covid-19 e identificou que ambas são causadas por vírus distintos e têm sintomas e formas de contaminação e transmissão diferentes. As informações foram confirmadas por uma especialista consultada pela reportagem e pela OMS.
Em busca de dados de vacinação globais contra a infecção causada pelo coronavírus, identificamos ainda que os países com menor índice de imunização, como a República Democrática do Congo, concentram o maior número de casos de Mpox. Isso desmonta o argumento de que a vacinação em massa poderia ser uma das causas do novo surto.
