É falso que o serviço de conexão à internet oferecido pela Starlink, empresa de satélites de Elon Musk, foi bloqueado no Brasil após decisão do ministro Alexandre de Moraes. Assim como é falso que caminhoneiros usuários da Starlink ficaram impedidos de emitir notas fiscais, como alegam posts enganosos. Moraes não suspendeu o serviço da Starlink, e o vídeo desinformativo mostrando caminhões parados não prova que os caminhoneiros deixaram de emitir notas fiscais por falta de internet.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de curtidas e compartilhamentos no Instagram e no Facebook, respectivamente, até a tarde desta terça-feira (3).
Devido ao apagão da Starlink de Musk no Brasil, caminhões ficam parados nos locais onde não existe outra opção de Internet.
Posts compartilham um vídeo que mostra caminhões parados e enganam ao alegar que os caminhoneiros deixaram de emitir notas fiscais pelo fato de o acesso à internet fornecido pela Starlink ter sido bloqueado após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Nada disso é verdade.
Moraes não ordenou que o serviço de internet da Starlink fosse suspenso nem há registros de interrupções dos serviços da empresa. Na realidade, o magistrado determinou na última sexta-feira (30) que a rede social X, também de Elon Musk, fosse suspensa no Brasil por não designar um representante legal. O bloqueio do X, no entanto, não interfere no acesso à internet por meio da Starlink.
Dias antes, o magistrado bloqueou as contas bancárias da Starlink para garantir o pagamento de multas estipuladas pelo descumprimento de decisões sobre o bloqueio de perfis de investigados pelo tribunal. A medida não estabelecia bloqueio ao serviço de acesso à internet fornecido pela Starlink.
No vídeo difundido pelas peças enganosas, um homem não identificado pelo Aos Fatos filma caminhões parados e atribui a não emissão de notas fiscais a um suposto bloqueio imposto a Starlink. “O careca [Alexandre de Moraes] foi brigar com o Musk. O filho da mãe bloqueou todo mundo. Não sai nota nenhuma. Quantidade de caminhão aqui parado (…). Todo mundo esperando nota (…). Faz o L agora.”
Ericson Marcio de Biagi, diretor da empresa de serviços de logística Tec Pec — dona de um dos caminhões que aparece na filmagem —, contradiz a gravação. Biagi informou ao Aos Fatos que os veículos da companhia não usam equipamentos da Starlink, disse desconhecer qualquer impacto gerado pela Starlink nas operações da Tec Pec, e que a empresa não aderiu a qualquer movimento grevista.
A PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou ao Aos Fatos que não tem registrado paralisações recentes feitas por caminhoneiros em estradas federais, especialmente que tenham como motivação a Starlink.
Algumas das peças checadas alegam também que os caminhões ficaram com o GPS bloqueado e que as seguradoras estão impedindo os caminhoneiros de viajar sem rastreamento. A FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais), no entanto, afirmou ao Aos Fatos que nenhuma seguradora relatou bloqueios relacionados à Starlink.
Na segunda-feira (2), o presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Carlos Baigorri, disse que a Starlink pode perder a autorização para prestar serviço no Brasil, caso se confirme que a empresa está descumprindo a ordem do ministro Alexandre de Moraes de bloquear acesso ao X.
A Starlink havia comunicado informalmente à Anatel que não cumpriria a determinação de Moraes, de acordo com a CNN Brasil. A empresa, no entanto, voltou atrás e nesta terça-feira afirmou que irá suspender o acesso ao X de clientes da empresa.
O caminho da checagem:
Analisamos as recentes ações do ministro Alexandre de Moraes e verificamos que ele não determinou que fosse suspenso o acesso à internet por meio da Starlink. A PRF e a Federação Nacional de Seguros Gerais afirmaram que até o momento não houve paralisações de caminhoneiros provocadas por eventuais problemas relacionados à Starlink.
Aos Fatos também entrou em contato com a empresa de serviços de logística Tec Pec — proprietária de um dos caminhões que aparece na filmagem. A empresa afirmou não utilizar equipamentos da Starlink em seus veículos, o que contradiz o vídeo que circula nas redes sociais.