São mentirosas as mensagens sobre as eleições de 2022 atribuídas ao ministro do STF Alexandre de Moraes e a um engenheiro da empresa Oracle. Além de não haver indícios de que o pleito foi fraudado, o conteúdo que circula nas redes traz informações que não condizem com a realidade, como o horário em que Lula (PT) ultrapassou Jair Bolsonaro (PL) na apuração dos votos do primeiro turno.
A troca de mensagens apócrifas tem viralizado principalmente no Telegram e no WhatsApp, mas também foi compartilhada no Facebook, em que acumula centenas de compartilhamentos.
Mais de 90h de conversas cabeludas entre ‘M’ [Moraes] e integrantes do sistema de apuração das eleições durante a eleição de 2022 foram distribuídas para várias pessoas importantes do Brasil e dos EUA

Uma troca de mensagens apócrifa tem circulado nas redes como se mostrasse um conluio entre o ministro Alexandre de Moraes e engenheiros da empresa de tecnologia Oracle para fraudar as eleições de 2022.
A primeira prova de que as mensagens são falsas é o horário em que supostamente teria ocorrido a “virada” de Lula no primeiro turno. De acordo com a conversa, o petista teria ultrapassado Bolsonaro na porcentagem de votos às 17h30 (veja abaixo).

Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostram que o petista tomou a dianteira apenas às 20h, quando foram apuradas 70% das seções (veja gráfico abaixo). A totalização daquele pleito terminou às 10h do dia seguinte e mostrou que Lula e Bolsonaro avançaram para o segundo turno com 48,4% e 43,2% dos votos, respectivamente.
Outro erro das mensagens apócrifas está no horário de início da divulgação dos resultados: de acordo com as peças, a totalização teria se iniciado às 15h — nesse momento, no entanto, a votação ainda estava acontecendo. Naquele pleito, o horário de votação se estendeu das 8h às 17h, no horário de Brasília. Às 15h, apenas resultados do exterior haviam sido computados.
Essa janela temporal também descarta a possibilidade de as mensagens terem sido enviadas em um fuso diferente do horário de Brasília. Segundo os posts enganosos, a virada teria acontecido duas horas e meia depois do término da votação, quando, na realidade, Lula só ultrapassou Bolsonaro cerca de três horas depois do fechamento das urnas.
O conteúdo da conversa também distorce como funciona o processo de totalização dos votos e replica argumentos enganosos disseminados por peças de desinformação antigas:
- Não é a Oracle que totaliza os votos das eleições brasileiras. A empresa de tecnologia realiza apenas a manutenção do supercomputador, equipamento físico que fica em uma sala-cofre do TSE e é operado apenas por funcionários do tribunal;
- Essa afirmação ignora ainda que a apuração começa na urna eletrônica: cada equipamento soma os votos daquela seção eleitoral e emite um boletim, que é impresso e divulgado no site do TSE (veja os documentos da eleição de 2022 aqui);
- Cada seção envia o resultado para o sistema da Justiça Eleitoral, que soma os votos automaticamente;
- A totalização é feita na ordem em que são entregues os dados das urnas: questões logísticas fazem com que os votos das regiões Nordeste e Norte sejam computados por último.
Sendo assim, a suposta fraude citada pelas peças de desinformação seria verificável por meio dos boletins de urna de cada seção. Não há, no entanto, indícios de que houve discrepância entre os resultados da urna e os divulgados pelo TSE ou qualquer tipo de manipulação que tenha resultado na falsificação dos resultados eleitorais.
Colaborou João Barbosa.
O caminho da apuração
Aos Fatos procurou pela origem das mensagens citadas nas publicações e não encontrou nenhuma fonte confiável. Depois, foram analisados os horários citados nas peças de desinformação, que indicam que se trata de mensagens inventadas.
Também foram consultadas informações oficiais do TSE e reportagens anteriores sobre como é feita a totalização dos votos, a participação da Oracle no pleito e os resultados do primeiro turno de 2022.
A reportagem também entrou em contato com o TSE, o STF e a Oracle para que pudessem comentar a checagem, mas não houve resposta até a publicação do texto.