É falso que o presidente Lula (PT) levantou desconfiança sobre as urnas eletrônicas ao cobrar a divulgação dos comprovantes de votos impressos da eleição venezuelana, como fazem crer posts nas redes. Trechos de uma entrevista do presidente a uma rádio foram editados e tirados de contexto. Lula, na verdade, cobrava transparência no pleito venezuelano e pedia a divulgação das atas eleitorais.
Publicações nas redes com o conteúdo enganoso acumulavam 11 mil curtidas no Instagram até tarde desta quarta-feira (18) e também circulam no Facebook.
Lula quer o comprovante do voto impresso para confirmar a vitória do Maduro na Venezuela. Mas, no Brasil, voto impresso significa atraso, retrocesso e não confiável, e caminho de fraudes. Assim diz Lula e STF.
Não é verdade que Lula levantou desconfiança sobre as urnas eletrônicas ao cobrar a divulgação dos comprovantes dos votos impressos pelas urnas na eleição venezuelana, como alegam posts nas redes. Em nota enviada ao Aos Fatos, a Secom da Presidência da República afirmou que a cobrança do presidente à divulgação das atas eleitorais foi descontextualizada.
Trechos de uma entrevista concedida pelo petista no dia 16 de agosto deste ano à Rádio T, do Paraná, foram editados para omitir críticas do presidente à condução da divulgação dos resultados da eleição na Venezuela, que aconteceu no final de julho.
Na ocasião, Lula foi questionado sobre sua relação com Nicolás Maduro e sua análise sobre o pleito na Venezuela (veja abaixo). Ele então afirmou não reconhecer a vitória do ditador por falta de transparência na divulgação das atas das eleições — o documento registra o total de votos e o resultado em cada um dos cerca de 30 mil locais de votação, similar ao boletim da urna eletrônica no Brasil.
Diferentemente do que alegam os posts falsos, Lula não disse que não confia nas urnas eletrônicas. Ele afirmou que o sistema eleitoral venezuelano usa uma urna que, além do voto digital, imprime um comprovante depositado em uma caixa — esses seriam os dados usados para uma auditoria do pleito e que não foram divulgados em sua totalidade.
A cobrança do presidente, portanto, é pela divulgação dos dados de maneira confiável, que pudesse contar com a participação também da oposição, o que não aconteceu. O Conselho Nacional Eleitoral entregou as atas à Suprema Corte venezuelana — composta por aliados de Maduro — que, por sua vez, colocou os documentos em sigilo.
Eleição na Venezuela. As eleições venezuelanas, ocorridas no dia 28 de julho, ainda estão sob suspeita da comunidade internacional, que em sua maioria não reconheceu a vitória do ditador Nicolás Maduro, declarada pelo Conselho Nacional Eleitoral na manhã do dia seguinte ao pleito. A oposição tampouco reconheceu a vitória de Maduro.
O candidato da oposição, Edmundo González, se exilou na Espanha após o Ministério Público da Venezuela expedir um mandado de prisão contra ele, acusando-o de crimes como falsificação de documentos e conspiração.
O caminho da checagem
Aos Fatos buscou o vídeo original da entrevista concedida pelo presidente Lula (PT) e identificou que o trecho que circula nas peças desinformativas foi editado. Comparando os dois, observamos que a montagem enganosa omite o contexto original, que era sobre a divulgação das atas de votação — em um processo de auditoria.
A reportagem também procurou a Secom da Presidência da República. Por fim, o Aos Fatos buscou notícias na imprensa para contextualizar a verificação.