Não é verdade que jornalistas da Globo “entraram em pânico” ao não encontrar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no relatório final da PF sobre a tentativa de golpe em 2022. Peças de desinformação tiram de contexto um vídeo em que participantes do Estúdio i, da GloboNews, se referem ao despacho do ministro do STF Alexandre de Moraes que retirou o sigilo da investigação. No relatório da PF, o nome de Bolsonaro é citado 634 vezes.
Publicações com o conteúdo enganoso somavam mais de 30 mil curtidas no Instagram, 40 mil visualizações no TikTok e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta segunda-feira (2).
Jornalistas da Globo ficam desesperados por não encontrar o nome de Bolsonaro no relatório da PF
Um trecho que foi ao ar na última terça-feira (26) no Estúdio i, da GloboNews, tem sido difundido por peças de desinformação para fazer crer que os jornalistas se aborreceram por não encontrarem o nome de Bolsonaro no relatório da PF. O trecho retrata, na realidade, a leitura do despacho do ministro do STF Alexandre de Moraes retirando o sigilo do relatório, que indiciou Bolsonaro e o citou 634 vezes.
No horário em que o programa foi exibido, entre 13h e 16h, o relatório da PF ainda não tinha sido tornado público (confira aqui e aqui), o que aconteceu somente após as 16h e foi noticiado em outro programa da emissora (confira abaixo).
Inquérito do golpe, que teve o sigilo retirado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, tem imagens de um caderno do general Mario Fernando com anotações de um plano para atribuir a Flávio Dino, então ministro da Justiça, a responsabilidade pelo 8 de janeiro. Saiba mais com… pic.twitter.com/Y2A09teQjk
— GloboNews (@GloboNews) November 26, 2024
O relatório da PF indiciou Bolsonaro e mais 36 pessoas por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Na íntegra do programa, disponível no Globoplay apenas para assinantes, é possível ver que, minutos antes do trecho difundido pelas peças enganosas, a repórter Isabela Camargo afirma que ainda não se tinha acesso ao conteúdo completo do relatório. O que tinha saído até aquele momento era o despacho de Moraes levantando o sigilo.
Durante o programa, a jornalista Andréia Sadi fez a leitura dos seis núcleos de atuação dos indiciados no inquérito, mencionados por Moraes em seu despacho. O comentarista Octavio Guedes alegou que o nome de Bolsonaro não aparecia nos núcleos e foi contestado por Merval Pereira, que afirmou que Bolsonaro era o “sujeito oculto” e que tinha o “domínio de fato”.
Em trechos do programa omitidos pelas peças enganosas, ambos comentam sobre a ausência do nome de Bolsonaro no despacho de Moraes.
Guedes afirma, por exemplo, que existia o detentor dos fatos, que era, segundo o relatório da PF, o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Mas você vê que ele não entra nos grupos operacionais, o que não o livra do crime”, diz o comentarista.
"O que está descrito aqui são os autores materiais do golpe. E existe o detentor dos fatos, que é, segundo o relatório da PF, Jair Messias Bolsonaro", comenta @octavio_guedes sobre inquérito a respeito do golpe.
— GloboNews (@GloboNews) November 26, 2024
➡ Assista ao #Estúdioi: https://t.co/bFwcwLpLU9 #GloboNews pic.twitter.com/jEJg73H7MX
O relatório da PF sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022 traz áudios, trocas de mensagens e documentos em que militares e aliados de Bolsonaro descrevem métodos para manipular as conversas nas redes sociais e coordenar ataques virais.
Os indícios afastam, por exemplo, a interpretação de que as mobilizações contrárias à posse de Lula (PT) emergiram de forma orgânica. Tendências virais e desinformação foram uma estratégia contínua na escalada golpista que culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
O caminho da apuração
Assistimos à edição do Estúdio i do dia 26 de novembro e constatamos que o relatório da PF não foi lido em qualquer momento do programa porque só veio a público após as 16h, quando a o telejornal já havia encerrado. Também assistimos aos cortes da edição e ao momento em que jornalistas leem trechos do relatório final da PF que cita Bolsonaro.