Não é verdade que os uniformes que serão usados pela delegação brasileira na cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris foram escolhidos pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, como alegam publicações nas redes. A Riachuelo, empresa responsável pela confecção das roupas, negou a participação da primeira-dama em qualquer etapa da produção.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de visualizações no TikTok e mais de mil compartilhamentos no X (ex-Twitter) até a tarde desta quarta-feira (24).
Janja diz que mandou fazer uniforme olímpico. Foi [com o] mesmo bordado do vestido dela de noiva. Veja a emoção que ela fala sobre.
Publicações nas redes têm tirado de contexto uma fala de Janja para alegar que a primeira-dama teria sido a responsável pelos uniformes que serão usados pela delegação brasileira nos Jogos Olímpicos. Em nota, a Riachuelo, empresa escolhida pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para produzir as roupas, negou que a primeira-dama tenha participado do processo.
A declaração de Janja que tem sido descontextualizada pelas peças de desinformação foi feita durante a recepção da delegação brasileira no Palácio do Planalto em 11 de julho (veja abaixo). Em determinado trecho do evento, a primeira-dama menciona que os uniformes dos atletas foram bordados em Timbaúba dos Batistas (RN), mesmo local em que foi confeccionado seu vestido de casamento.
Isso não significa, no entanto, que o vestido e os uniformes tenham sido produzidos pelos mesmos profissionais. O bordado é uma das principais atividades econômicas do município potiguar, que reúne diversas cooperativas de artesãs.
Em nota ao Aos Fatos, a Riachuelo afirmou que tem um projeto na região desde 2021 — antes, portanto, do terceiro mandato de Lula (PT) — e que ele não tem qualquer relação com Janja.
O vestido de casamento da primeira-dama foi produzido por uma cooperativa de artesãs de Timbaúba dos Batistas mediante encomenda da estilista Helô Rocha. Aos Fatos não conseguiu verificar se as profissionais envolvidas na confecção são as mesmas que produziram os uniformes.
A assessoria da primeira-dama foi procurada para comentar o caso, mas não respondeu até a publicação da matéria.
O design dos uniformes da delegação brasileira tem sido alvo de críticas nas redes. Usuários alegaram que a escolha e a composição das peças não representam a diversidade cultural do país.
Ministério do Esporte. Comentários nas redes também têm atribuído ao Ministério do Esporte a decisão sobre os modelos escolhidos para a delegação brasileira, o que não é verdade.
Em nota publicada em seu site oficial na última segunda-feira (22), a pasta destacou que a confecção e o fornecimento de “kits de uniforme e equipamentos” é uma atribuição do COB.
O caminho da apuração
Aos Fatos procurou por telefone e email a assessoria de imprensa da Riachuelo, responsável pelos uniformes da delegação brasileira. Em nota, a empresa respondeu que não houve qualquer influência da primeira-dama na confecção das roupas. Também tentamos contato com a assessoria de Janja por meio de ligação e mensagem, mas não houve retorno.
A reportagem também buscou informações sobre as artesãs responsáveis pela confecção do uniforme e sobre o projeto da Riachuelo em Timbaúba dos Batistas. Por fim, verificamos o contexto da fala de Janja que havia sido distorcida pelos posts e procuramos por informações sobre a origem de seu vestido de casamento.