Diferentemente do que fazem crer posts enganosos nas redes, não houve irregularidades nos procedimentos do Instituto de Criminalística de São Paulo durante perícia do falso laudo divulgado pelo candidato a prefeito da capital paulista Pablo Marçal (PRTB) contra o adversário Guilherme Boulos (PSOL). As peças de desinformação alegam necessidade de análise do documento físico, o que não procede neste caso.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de compartilhamentos e curtidas no Facebook e no Instagram, respectivamente, neste domingo (6).
A perícia que eles estão fazendo [do IC] é em um documento físico [‘laudo’ apresentado por Marçal nas redes sociais]? Eles já tiveram acesso ao documento físico?
Posts nas redes enganam ao fazer crer que houve irregularidades na perícia realizada pelo Instituto de Criminalística de São Paulo sobre um laudo falso publicado por Pablo Marçal nas redes sociais na última sexta-feira (4). Segundo o candidato do PRTB, o documento seria uma prova da internação de Guilherme Boulos (PSOL) por uso de cocaína.
O relatório do IC mostra que a perícia utilizou um print impresso em preto e branco da publicação feita no Instagram por Marçal e removida pela plataforma ainda na noite de sexta-feira.
As peças de desinformação alegam que era necessário a análise do documento físico, o que foi desmentido pelo perito Ricardo Caires, que analisou o relatório emitido pelo IC a pedido do Aos Fatos.
“A perícia neste caso se utilizou da assinatura. Se tivesse algum ritmo na assinatura eles solicitariam o original, mas só o fato que a cópia já demonstra um punho totalmente distinto aí eles validam como prova de validade”, afirmou Caires.
Em nota, o IC informou que finalizou o laudo pericial e concluiu que é falso o documento divulgado por Marçal. Disse ainda que o relatório da perícia foi encaminhado à autoridade policial, que instaurou um inquérito para apurar todas as circunstâncias relativas aos fatos.
Os peritos do IC empregaram o método grafotécnico para analisar a assinatura atribuída ao médico José Roberto de Souza, que consiste em analisar elementos da escrita de uma pessoa, entre eles:
- qualidade do traçado (espontâneo ou artificial);
- grau de habilidade de punho e inclinação das letras;
- dinamismo pelo qual a escrita se desenvolve.
Para comparar a assinatura foram utilizados documentos originais do médico, tais como: um boletim, fichas de identificação e um pedido de passaporte que foram enviadas pelo Sereg (Serviço de Registros). Assim os peritos verificaram discrepâncias escriturais entre o laudo falso apresentado por Marçal e as assinaturas feitas pelo médico desde 1973.
Entre as divergências encontradas estão:
- a velocidade de execução da assinatura do falso laudo, cujo desenvolvimento é mais lento que as assinaturas autênticas;
- o grau de habilidade gráfica, na inclinação da escrita, no andamento gráfico, e nos valores angulares e curvilíneos.
“A simples inspeção ocular das figuras acima demonstra as divergências observadas entre a assinatura questionada e os padrões de confronto, evidenciando a sua procedência de natureza espúria”, diz um trecho do relatório.
Os peritos do IC constataram também que o número do RG atribuído a Boulos no laudo falso apresentado por Marçal tem dois dígitos a mais do que o padrão estabelecido para a carteira de identidade expedida pelo governo de São Paulo.
Por fim, as peças enganosas fazem crer que não houve tempo necessário para a realização da perícia, mas omitem que os peritos trabalharam na madrugada de sábado (5) para concluir o relatório.
Em declaração à imprensa no sábado, Marçal alegou que só publicou e que não tinha “nenhuma ligação com o laudo”.
O caminho da apuração
Aos Fatos leu o laudo do IC (Instituto de Criminalística) com a perícia do caso. Consultamos o perito Ricardo Caires, que analisou o relatório do IC e os procedimentos adotados. Entramos em contato também com o IC, que reiterou a falsidade da assinatura presente no documento e informou que o laudo foi finalizado e enviado às autoridades competentes.