Não é verdade que o IBGE esteja “escondendo” desempregados que recebem Bolsa Família para reduzir a taxa de desemprego no Brasil. Comparação entre número de beneficiários do programa e taxa de desemprego é enganosa.
Publicações nas redes que desinformam sobre o assunto somavam centenas de curtidas no Facebook e no Threads nesta quarta-feira (18) e também foram replicadas por sites desinformadores.
No Brasil IBGE maquiou números e escondeu 44 milhões de pessoas reduzindo número de desempregados

É falso que o IBGE teria maquiado números e escondido 44 milhões de pessoas para reduzir a taxa de desemprego no Brasil. Posts enganosos argumentam que, além dos 7 milhões de desempregados calculados pelo Instituto, outros 37 milhões beneficiários do programa Bolsa Família também estariam sem ocupação e teriam deixado de procurar trabalho devido ao benefício.
A alegação é falsa por uma série de motivos:
Benefícios sociais e ocupação
Estar ou não trabalhando não é critério para recebimento do Bolsa Família. O critério é a renda per capita da família, que pode ser, no máximo, de R$ 218 por mês. Assim, o beneficiário pode estar trabalhando e ainda assim receber o auxílio se estiver dentro desta faixa de renda.
“O recebimento de algum benefício de programas sociais, como, por exemplo: Bolsa Família, BPC (benefício de prestação continuada), seguro desemprego etc, não tem correlação direta com a ocupação ou desocupação”, explica o IBGE.
Dados inexistentes
Segundo o Observatório do Cadastro Único, o Bolsa Família beneficia 20,8 milhões de famílias. Pelos dados de novembro deste ano, isso corresponde a 54 milhões de pessoas, das quais 29 milhões são maiores de 18 anos.
Desses 20,8 milhões de famílias, mais da metade – 12 milhões, ou 33 milhões de pessoas – têm ao menos um integrante que está trabalhando.
O MDS não dispõe de dados sobre o estado de ocupação de cada um dos integrantes da família, que pode incluir pessoas fora da força de trabalho, como crianças abaixo de 14 anos e aposentados.
O dado de 44 milhões de desempregados citado pelas postagens desinformativas não se sustenta, portanto, em estatísticas reais.
Definição de ‘desempregado’
O IBGE considera como desempregados “pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando, mas estão disponíveis e tentam encontrar trabalho".
Indivíduos dentro dessa faixa que não procuram emprego entram na estatística de desalentados, que hoje soma 3 milhões de pessoas, segundo o instituto – bem menos do que os 37 milhões citados pelas peças de desinformação.
Além disso, estatísticas mostram que beneficiários do Bolsa Família seguem na força de trabalho – ocupados ou buscando emprego – mesmo após o recebimento do auxílio.
- Segundo dados do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social) enviados ao Aos Fatos, 71% das vagas de empregos geradas entre janeiro de 2023 e outubro de 2024 foram preenchidas por beneficiários do Bolsa Família.
- Cerca de 14% das famílias beneficiadas pelo programa conseguiram aumento de renda, de forma que recebem apenas 50% do valor do benefício, conforme regra de proteção.
Contexto. A peça de desinformação passou a circular após o deputado Luiz Lima (PL-RJ) questionar o método utilizado pelo IBGE no cálculo do desemprego em discurso na Câmara dos Deputados. A postagem enganosa viralizou.
O caminho da apuração
Aos Fatos buscou dados de desemprego e informações disponíveis sobre os beneficiários do Bolsa Família nos portais do IBGE e do governo federal. Consultamos também a metodologia usada para o cálculo das estatísticas.
Por fim, contextualizamos a circulação da desinformação com base na viralização de publicações nas redes sociais.