É falso que as atuais enchentes no Rio Grande do Sul foram causadas pela abertura simultânea das comportas de três barragens do rio Taquari. As peças de desinformação compartilham um vídeo de 2023 em que o apresentador Alexandre Garcia cita uma teoria conspiratória como a suposta explicação para as inundações que também ocorreram no estado no ano passado. Nas duas ocasiões, as enchentes foram causadas por uma combinação de fenômenos climáticos e pelo agravamento do aquecimento global.
As publicações enganosas acumulavam 1.200 compartilhamentos no Facebook neste domingo (12) e circulam também no WhatsApp, plataforma na qual não é possível estimar o alcance dos conteúdos (fale com a Fátima).
A tragédia no RS não foi só causas da natureza. Três represas abriram as comportas ao mesmo tempo
Publicações nas redes têm reciclado uma peça de desinformação antiga para alegar que as atuais enchentes no Rio Grande do Sul foram causadas pela abertura simultânea das comportas de três represas. No vídeo disseminado pelos posts enganosos, o apresentador Alexandre Garcia cita uma teoria conspiratória já desmentida pelo Aos Fatos no ano passado.
Há três hidrelétricas na região do Vale do Taquari — Castro Alves, Monte Claro e 14 de Julho. Nenhuma delas tem estruturas capazes de controlar o fluxo de água, e não é possível que as inundações tenham ocorrido por conta da abertura de comportas das barragens.
- A barragem Castro Alves tem um vertedouro construído para vazão ecológica, que não é capaz de aumentar o volume ou a velocidade da água que chega aos municípios;
- Já as barragens de Monte Claro e 14 de Julho possuem comportas auxiliares que são abertas apenas quando a água ultrapassa a parte superior da estrutura, chamada de crista. A passagem é necessária para não sobrecarregar as estruturas, que também não são capazes de aumentar o fluxo ou a velocidade da água.
Conforme explicado no ano passado pela Ceran (Companhia Energética Rio das Antas), que administra as estruturas, as hidrelétricas “não têm capacidade de armazenamento e nem de regular o fluxo do rio, pois todo o excedente de água passa por cima da barragem”. Procurado pelo Aos Fatos, o governo estadual também afirmou na época que não havia indícios de que as barragens tivessem influenciado no volume da enxurrada que atingiu a região.
As atuais enchentes no Rio Grande do Sul são explicadas pela combinação de fenômenos meteorológicos, como o El Niño, que potencializa as chuvas na região Sul, e o agravamento das mudanças climáticas. Dados meteorológicos mostram que, em menos de 15 dias, o Rio Grande do Sul recebeu o equivalente a cinco meses de chuvas.
No dia 2 de maio deste ano, houve um rompimento parcial da barragem 14 de julho em razão do excesso de água das chuvas que atingiram a região do Vale do Taquari. A Ceran informou que a estrutura não foi comprometida e que os trabalhos de recuperação já foram iniciados.
O governo do Rio Grande do Sul monitora, por meio da Sema (Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura) e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a situação das barragens do estado. No último boletim, emitido no sábado (11), foi apontado que três estruturas estavam com risco de ruptura iminente. Até a publicação deste texto, no entanto, não há informações sobre eventuais rompimentos.
Procurado pelo Aos Fatos na época em que a peça de desinformação circulou inicialmente, Garcia explicou que se referia no vídeo a um ofício enviado pela Prefeitura de Bento Gonçalves (RS). De fato, advogados que representavam a cidade encaminharam na época questionamentos à Ceran que incluíam uma pergunta sobre uma possível abertura de comportas das barragens. Na resposta, a companhia explicou que suas hidrelétricas não têm estruturas capazes de regular a vazão.