É falso que Bolsonaro perdeu votos na totalização após aplicativo do TSE travar

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Em um vídeo que circula nas redes sociais, uma mulher engana ao afirmar que o aplicativo de resultados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) travou com 10% das urnas apuradas no primeiro turno e que, depois disso, Jair Bolsonaro (PL) passou a perder entre 0,1% e 0,15% dos votos a cada dois ou três minutos durante uma hora. Ao analisar os dados oficiais da apuração, Aos Fatos verificou que as afirmações do vídeo não ocorreram de fato — o percentual do presidente, inclusive, cresceu durante seis minutos. A corte eleitoral também informou que não houve problema na totalização dos votos.

Publicações com o vídeo enganoso acumulavam 85 mil compartilhamentos no Facebook nesta terça-feira (25).


Selo falso

A partir do momento que esse aplicativo começou a não funcionar como estava funcionando até os 10% mais ou menos, todas as vezes que atualizava o Bolsonaro estava com 0,10% a menos. Aí demorava 2, 3 minutos, aí as urnas andavam mais um pouquinho. Aí voltava o aplicativo, a funcionar, aí eles atualizavam. Aí era menos 0,10%. Aí começou, foi frequente (...) Não tem como em uma apuração de milhões de votos, com a quantidade de eleitores que temos no Brasil, um único candidato passar uma hora perdendo 0,10%, 0,15%.

O travamento no aplicativo e a perda de votos citadas no vídeo não aconteceram, como constatou Aos Fatos ao analisar os dados da totalização minuto a minuto fornecidos pelo TSE. Com 10% das urnas apuradas, momento citado pela autora do vídeo, Bolsonaro liderava a disputa com 48,35% dos votos válidos contra 42,88% de Lula. O percentual do presidente, diferentemente do alegado na gravação, não caiu 0,1 ou 0,15 pontos percentuais a cada dois ou três minutos durante a hora seguinte.

Houve uma redução superior a 0,1 p.p. em apenas 7 das 30 parciais possíveis, se considerado o intervalo de dois minutos.

  • Às 18h34, Bolsonaro tinha 48,31% (-0,04 p.p.) dos votos;
  • Às 18h36 tinha 48,15% (-0,16 p.p.), o mesmo percentual às 18h38;
  • Às 18h40, Bolsonaro tinha 48,02% (-0,13 p.p.);
  • Às 18h42 o percentual era de 47,95% (-0,07 p.p.);
  • Às 18h44 era de 47,91% (-0,04 p.p.);
  • Durante os seis minutos seguintes, Bolsonaro cresceu e atingiu 47,96% às 18h52;
  • Dois minutos depois, às 18h54, caiu 0,02 p.p. e seguiu caindo gradualmente.

Entre 18h32 e 19h32, o percentual de Bolsonaro caiu de 48,35% para 46,60% (-1,75 p.p.), o que representa, em média, uma queda de 0,06 p.p. a cada dois minutos ou 0,09 p.p. se considerado o intervalo de três minutos.

Os dados do TSE mostram também que Lula e Bolsonaro receberam votos de maneira regular a cada urna totalizada, com variações na quantidade. Em diversas urnas, por exemplo, havia mais votos para Bolsonaro do que Lula, mas o impacto no percentual diminuía à medida que o total de votos apurados aumentava. Em nota enviada ao Aos Fatos, o TSE disse que eventuais interrupções na atualização das parciais da apuração no aplicativo Resultados podem ter sido provocadas por problemas nos celulares ou má conexão com a internet dos usuários.


Selo não é bem assim

Gente, a votação, veja bem, a apuração não é por setor. Quando começa a apuração começa a pipocar votos de todos os lugares do Brasil. Não é só do Nordeste. ‘Ah, não, agora o Bolsonaro está perdendo votos, porque é no Nordeste.’ Não! Ao mesmo tempo que entra voto do Nordeste, entra do Sudeste, do Sul, entra voto de tudo que é lugar.

Para explicar a alegação desinformativa, a mulher alega que os votos de “todos os lugares” entram ao mesmo tempo, mas há uma fila de totalização, que depende do envio dos dados pelo respectivo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). É natural, portanto, que candidatos com melhor desempenho em regiões totalizadas mais rapidamente assumam a liderança nas primeiras horas da apuração.

Lula liderou os 14 minutos iniciais da totalização, quando foi ultrapassado por Bolsonaro, que permaneceu à frente na disputa até as 20h, com 68,6% das urnas apuradas. Então, Lula ultrapassou e seguiu na liderança no restante da apuração. A virada do petista demorou porque os votos do Nordeste, onde Lula concentra grande parte de seu eleitorado, foram contabilizados mais tarde.

Em checagem anterior, o professor do Instituto de Computação da Unicamp e representante da SBC (Sociedade Brasileira de Computação) nos testes públicos de segurança do TSE, Paulo Lício de Geus, afirmou ao Aos Fatos que é normal e esperado que os percentuais de cada candidato oscilem, quando o carregamento dos dados das urnas é feito desigualmente por regiões onde haja concentração de votos de um determinado candidato.

A apuração dos resultados começa na urna eletrônica, que soma os votos daquela seção, emite um boletim com os dados e alimenta uma memória que será levada à zona eleitoral ou ao respectivo TRE. Os resultados de cada memória são, então, enviados ao TSE para a totalização por meio de uma rede interna da Justiça Eleitoral.

Instagram. Também é enganosa a informação de que, com 12% de urnas apuradas, Bolsonaro perdeu 0,5 pontos percentuais e Lula ganhou um. Segundo a peça enganosa, Bolsonaro tinha 48% dos votos e Lula 42%, com 12% das urnas apuradas e, quando a totalização alcançou os 96%, o atual mandatário e o petista tinham 44,5% e 49% dos votos, respectivamente.

No entanto, os dados da totalização minuto a minuto fornecidos pelo TSE mostram que os números não estão corretos nem sustentam qualquer evidência de fraude. Com 12% dos votos totalizados, o percentual de Bolsonaro era de 48,19% enquanto Lula tinha 43,06%. Confira abaixo as demais parciais:

  • 24% das urnas totalizadas: Bolsonaro tinha 47,77% (-0,42 p.p.); Lula tinha 43,45% (+0,39 p.p.);
  • 36%: Bolsonaro tinha 47,32% (-0,45 p.p.); Lula tinha 43,87% (+0,42 p.p.);
  • 48%: Bolsonaro tinha 46,61% (-0,71 p.p.); Lula tinha 44,57% (0,7 p.p.);
  • 60%: Bolsonaro tinha 46% (-0,61 p.p.); Lula tinha 45,19% (+0,62 p.p);
  • 72%: Bolsonaro tinha 45,41% (-0,59 p.p.); Lula tinha 45,85% (+0,66 p.p.);
  • 84%: Bolsonaro tinha 44,77% (-0,64 p.p.); Lula tinha 46,59% (+0,74 p.p.);
  • 96%: Bolsonaro tinha 43,79% (-0,98 p.p.); Lula tinha 47,75% (+1,16 p.p.).

A alegação também foi desmentida pelo TSE. Lula venceu o primeiro turno com 48,43% dos votos contra 43,20% de Bolsonaro.

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