Não é verdade que foram encontradas 2.600 cédulas de votação com indícios de fraude no estado americano da Pensilvânia. As autoridades estão revisando, na realidade, formulários de registro de eleitores — enviados por cidadãos para solicitar autorização para participar do pleito. Como essas pessoas não chegaram a registrar seus votos, o suposto problema não pode interferir no resultado eleitoral.
Publicações com o conteúdo enganoso somavam 2.500 curtidas no Instagram até a tarde desta segunda-feira (4).
Em Lancaster (Pensilvânia) encontraram 2.600 cédulas de votação feitas e pela mesma mão. Em outras palavras, a mesma caligrafia. Foi tudo feito pela mesma caneta.
Posts nas redes têm compartilhado uma desinformação disseminada pelo ex-presidente Donald Trump para afirmar que teria havido fraude eleitoral na votação antecipada no estado da Pensilvânia. As publicações alegam que teriam sido encontradas 2.600 cédulas de votação adulteradas no condado de Lancaster, o que não é verdade.
As autoridades locais estão investigando, na realidade, cerca de 2.500 formulários de registro de eleitores — solicitações feitas por cidadãos para que possam votar. Como o procedimento antecede o preenchimento das cédulas de votação, o problema não interfere no resultado do pleito.
De acordo com informações oficiais, diversos formulários parecem ter sido preenchidos no mesmo dia e com a mesma caligrafia. Algumas solicitações correspondiam a eleitores previamente registrados e suas assinaturas não coincidiam com as que estavam arquivadas. Já em outros casos, foram preenchidos endereços imprecisos ou inverificáveis.
A promotora distrital do condado de Lancaster, Heather Adams, afirmou que o problema pode ter sido causado por campanhas conduzidas por organizações para garantir a participação de eleitores no pleito. O comissário do condado, Ray D’Agostino, disse que a suposta operação não parece ter tido como objetivo privilegiar nenhum partido.
Origem. Em anúncio feito em 25 de outubro pelo condado de Lancaster para convocar uma entrevista com a imprensa para discutir a suposta fraude, foi usado incorretamente o termo “ballots” (cédulas de votação, em português) para se referir às solicitações de registros de eleitores.
O aviso foi corrigido minutos depois da publicação original e o termo foi substituído por “applications” (inscrições). O condado afirmou à organização de checagem americana PolitiFact que ocorreu um erro de digitação, e confirmou que as investigações estavam sendo feitas em formulários de registro de eleitores, não cédulas eleitorais.
Dias depois, em 29 de outubro, Donald Trump distorceu o caso em suas redes (veja acima). A desinformação foi repetida em discurso na Pensilvânia no mesmo dia. Desde então, diversos veículos de imprensa americanos, como o PolitiFact, desmentiram as alegações.
O caminho da apuração
Por meio de busca na imprensa, em documentos oficiais e em declarações de autoridades da Pensilvânia, Aos Fatos verificou que as investigações envolvem formulários de registro de eleitores, não cédulas de votação.
Construímos o contexto da checagem com base em reportagens publicadas por veículos jornalísticos americanos e brasileiros, que repercutiram também a desinformação disseminada por Trump sobre o caso.