Não há evidência de que Ana Priscila Azevedo, uma das lideranças dos atos golpistas que ocorreram em Brasília no domingo (8), presa na noite de terça-feira, seja uma “infiltrada” da esquerda, como afirmam publicações nas redes. Azevedo é administradora de grupos de Telegram, plataforma em que convocou manifestantes para cercar Brasília e fechar rodovias e refinarias de petróleo. Nas mensagens, ela defende intervenção militar e o armamento da população.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 3.000 compartilhamentos no Facebook, 2.000 curtidas no Instagram e 165 mil visualizações no TikTok nesta terça-feira (10), além de circular no Twitter e no WhatsApp, plataforma na qual não é possível estimar o alcance (fale com a Fátima).
AGORA VOCÊS SABEM QUEM É A ANA PRISCILA AZEVEDO. ANA PRISCILA AZEVEDO É INFILTRADA QUE COMEMORA A PRISÃO DE PATRIOTAS PELO EXÉRCITO. Comemora e AINDA FAZ L. Ela que juntou um monte de infiltrados se fingindo de Patriota, esse povo do PT não vale nada.
Ana Priscila Azevedo, apontada como uma das lideranças dos atos golpistas ocorridos no domingo (8), em Brasília, não é uma “petista infiltrada”, como tem sido difundido por publicações nas redes. Azevedo se autointitula intervencionista, defende a tomada do poder pelos militares e o armamento da população, diferentemente do que é defendido pelo PT. A militante também ironizou, por meio das redes sociais, que esteja sendo chamada de “infiltrada” e classificou a acusação como “lógica dos maconheiros”.
Azevedo é líder de um grupo hiperpartidário no Telegram que possui mais de 30 mil seguidores. Esse é o principal canal em que ela tem divulgado, desde pelo menos sexta-feira (6), pedidos para que manifestantes fechem rodovias e refinarias de petróleo, e incentivado a tomada do poder pelos militares e ações golpistas em Brasília.
“VENHAM TODOS PARA A FESTA DA IRMÃ SELMA!!! EITA GLÓRIA!!! A BABILÔNIA ESTÁ RUINDO!!! SELVAAAAAAAAAAA! O GOLPE NÃO É DO PRESIDENTE BOLSONARO. O GOLPE NÃO É DAS FORÇAS ARMADAS. O GOLPE É DO POVO BRASILEIRO E SERÁ FATAL! NA JUGULAR DO SISTEMA. VAMOS DECEPAR A CABEÇA DA HIDRA!”, escreveu Azevedo no sábado (7).
Nesta terça-feira (10), Azevedo divulgou no grupo do Telegram um áudio em que afirma ter sido a favor de “sitiar” a capital federal. Horas depois, ela foi detida pela Polícia Federal por ordem do STF.
No vídeo difundido pelas publicações checadas também há uma alegação de que a golpista teria feito um “L” com a mão esquerda para comemorar a prisão de “patriotas”, o que é falso. Aos Fatos analisou as imagens e verificou que, na realidade, ela apenas abre os dedos indicador e polegar para segurar o equipamento com o qual gravava o vídeo.
O Aos Fatos mostrou que, mesmo com farta documentação da ação criminosa, bolsonaristas repetiram tática usada em dezembro e atribuíram as cenas de violência a “infiltrados” de esquerda sem apresentar evidências.
Discussões. Em uma conta atribuída a Azevedo, no Twitter, a golpista aparece em uma foto com o general e ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), senador eleito pelo Rio Grande do Sul. Desde fevereiro de 2021, ela elogia a atuação das Forças Armadas. Em julho daquele ano, demonstrou insatisfação com o então presidente Bolsonaro. Ela o chamou de “cavalo sionista” e “capitão bunda suja”.
Recentemente, ela se desentendeu com seguidores bolsonaristas ao ser criticada por ter divulgado uma notícia antiga e descontextualizada, no Telegram. Como resposta, ela os chamou de burros e acéfalos, segundo o Metrópoles.
O comportamento adotado por Azevedo nas redes fez com que seguidores alegassem que ela é uma “infiltrada” muito antes dos atos golpistas de domingo. Em dezembro, o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, cuja prisão foi determinada por Alexandre de Moraes em dezembro, a acusou de ser uma “esquerdista infiltrada”.
O motivo seria que ela e outros líderes do acampamento, que ficava em frente ao Quartel-General do Exército, arrecadavam dinheiro com a justificativa de bancar a estrutura do local e alugar banheiros químicos, mas que os recursos seriam usados para enriquecimento próprio.