Não é verdade que o filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido pelo cineasta Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello, recebeu recursos da lei federal de incentivo à cultura, conhecida como Lei Rouanet. Dados públicos mostram que não há registros de verba da lei federal para o filme. Em nota enviada ao Aos Fatos, o Ministério da Cultura confirmou que a obra não recebeu recursos federais e que foi produzida com recursos privados.
Publicações nas redes com a alegação falsa acumulavam centenas de compartilhamentos e curtidas no Facebook e no Instagram até a tarde desta quarta-feira (8).
Obrigado, Lula! Por tirar dos pobres e investir em artistas via Lei Rouanet pra eles ganharem o Globo de Ouro e ostentar na roda de amigos da High Society! Foi por isso que eu fiz o L! A fome a gente vê depois! Parabéns Fernanda Torres!
Publicações nas redes mentem ao afirmar que o filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido pelo cineasta Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello, teria recebido recursos da Lei Rouanet, a lei de incentivo à cultura do governo federal.
A distribuição de verbas via Lei Rouanet é pública e pode ser consultada na plataforma Versalic. A listagem de produções e eventos beneficiados não inclui o filme de Walter Salles.
Em nota enviada ao Aos Fatos, o MinC (Ministério da Cultura) negou que o longa-metragem tenha recebido recursos públicos.
Ao contrário do que alegam as postagens enganosas, o filme foi produzido “em regime de coprodução internacional com a França e financiada com recursos próprios”, explicou o MinC, em nota. O filme é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva e conta a história da família do autor após o desaparecimento do pai dele, o ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar.
Além disso, a própria lei de incentivo, em seu artigo 3, inciso II, alinea a, determina que o benefício será concedido apenas a “obras cinematográficas de curta e média metragem e filmes documentais”, vetando a atribuição de recursos para produções com mais de 70 minutos — longa-metragem —, como é o caso do filme de Salles.
Na plataforma Versalic, sistema do Ministério da Cultura que mostra os projetos aprovados e em captação de recursos, consta um projeto baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, mas em forma de espetáculo teatral proposto pela atriz Lilia Cabral, sem qualquer relação com o filme.
Boicote e desinformação. Ataques coordenados contra o filme de Salles começaram a circular ainda na estreia nos cinemas brasileiros, no dia 7 de novembro do ano passado, com um boicote promovido por perfis de direita.
Fernanda Torres, que venceu o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz de Filme de Drama, no último domingo (5), por interpretar Eunice Paiva, esposa do ex-deputado torturado e morto pela ditadura, também foi alvo de desinformação após o lançamento do filme. Como Aos Fatos desmentiu à época, a atriz não minimizou as mortes por Covid-19 em um artigo publicado no em 2020.
O filme “Ainda Estou Aqui” foi escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar.
O caminho da apuração
Aos Fatos verificou na plataforma Versalic repasses da Lei Rouanet. Também questionou o Ministério da Cultura por email se o filme “Ainda Estou Aqui” foi beneficiado com recursos federais. Também buscamos notícias para contextualizar a verificação.