Leopoldo Silva/Agência Senado

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Fakhoury cita informações falsas ao dizer na CPI da Covid-19 que vacinas são experimentais

Por Marco Faustino

30 de setembro de 2021, 19h03

Em depoimento à CPI da Covid-19 no Senado nesta quinta-feira (30), o empresário Otávio Fakhoury citou informações enganosas para sustentar que as vacinas contra o novo coronavírus aplicadas no Brasil são experimentais. A alegação é falsa porque os quatro imunizantes autorizados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) concluíram todas as fases de testes exigidas para liberação do uso na população.

Fakhoury foi convocado a depor na CPI por suspeita de disseminar informações falsas sobre a pandemia. Ele é vice-presidente do Instituto Força Brasil e lidera o diretório do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) em São Paulo. O empresário obteve um habeas corpus do STF (Supremo Tribunal Federal) que o permitia se manter em silêncio, mas ainda assim respondeu às perguntas dos parlamentares durante as sete horas de sessão.

Veja a seguir o que checamos.


....elas [vacinas contra Covid-19] ainda hoje se encontram em estágio experimental...

É FALSO que as vacinas contra a Covid-19 usadas no Brasil são experimentais, como afirmou o empresário Otávio Fakhoury. Os quatro imunizantes aplicados hoje (CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen) foram submetidos às três fases de testes, incluindo a etapa de estudos clínicos em humanos, e tiveram seus dados de eficácia e segurança escrutinados e validados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O termo “experimental” havia sido incluído no relatório técnico da Anvisa que validou, em janeiro de 2021, o uso dos imunizantes CoronaVac e AstraZeneca antes de ser concluída a fase 3 dos dois estudos. Porém, essas etapas já foram encerradas. As vacinas AstraZeneca e Pfizer possuem registro definitivo na Anvisa (confira aqui e aqui).

A CoronaVac e a Janssen possuem aprovação para uso emergencial — o que não significa que elas sejam “vacinas experimentais”. A CoronaVac, por exemplo, passou por estudos clínicos de fases 1, 2 e 3, que atestaram a segurança, a resposta imunológica e a eficácia do imunizante — e que basearam a decisão unânime da Anvisa em janeiro deste ano.

Em um aprofundamento do estudo de fase 3, que ainda precisa ser revisado, a vacina mostrou uma eficácia global de 50,7% quando a aplicação das doses é feita em um intervalo de 14 dias. O percentual é levemente superior aos 50,38% informados na análise preliminar.

Além disso, estudos envolvendo a aplicação em larga escala do imunizante, em Serrana (SP) e no Chile, apontaram que a CoronaVac foi capaz de reduzir a circulação do vírus. No caso do país latino-americano, um estudo que acompanhou 10,2 milhões de pessoas imunizadas com as duas doses, entre 2 de fevereiro e 1º de maio deste ano, mostrou uma eficácia de 65,9% contra casos sintomáticos; 87,5% em evitar hospitalizações; 90,3% em evitar internações em UTI, e de 86,3%.

No caso da Janssen, a eficácia do imunizante varia entre 81,6% e 87,6% para casos graves de Covid-19, de acordo com a documentação enviada pelo laboratório à Anvisa.


...no email do Dr. Fauci, a maior sumidade americana, ele revelou que as máscaras não têm essa eficiência. Elas são eficientes para quem está com Covid; para os outros, elas não têm eficiência de proteger do vírus.

A declaração de Anthony Fauci citada por Fakhoury é de fevereiro de 2020, quando ainda não havia consenso sobre o uso de máscaras para conter a transmissão do novo coronavírus, o que torna a declaração IMPRECISA. O empresário faz referência a uma investigação do site Buzzfeed News, que teve acesso a 3.200 páginas com emails trocados pelo imunologista e conselheiro da Casa Branca entre janeiro e junho de 2020.

Em 5 de fevereiro de 2020, após ser questionado sobre o uso de máscaras durante viagens, Fauci respondeu em um email que elas deveriam ser usadas por quem estivesse infectado, para evitar a propagação do novo coronavírus, mas que elas não protegeriam pessoas sem a doença. Até então, esse era o entendimento do CDC (Centers for Disease Control, órgão de saúde do governo americano).

O governo americano passou a recomendar o uso irrestrito de máscaras em 3 de abril de 2020. No mesmo dia em que o CDC divulgou suas novas diretrizes, Fauci mudou seu posicionamento durante uma aparição no programa norte-americano Fox & Friends. Na ocasião, ele disse que as pessoas deveriam usar máscaras quando não pudessem manter o distanciamento social. A OMS (Organização Mundial de Saúde) passou a recomendar o uso universal das máscaras em junho do ano passado.

“Se soubéssemos que os dados mostrariam que as máscaras fora do cenário hospitalar realmente funcionavam, nós teríamos feito algo diferente”, disse Fauci à CNN sobre seu antigo posicionamento, em junho deste ano.

Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com o empresário Otávio Fakhoury durante o depoimento à CPI, mas até o momento não houve resposta. Eventuais respostas serão adicionadas à reportagem posteriormente.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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