Agência Brasil

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2017. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Enquanto os fatos mudam, deputados mudam de lado e de tom contra Temer e Dilma

Por Tai Nalon

4 de agosto de 2017, 18h30

Quase 470 dias separam a votação pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara. O período também foi suficiente para que deputados contra ou a favor dos respectivos processos de investigação mudassem desde o tom da justificativa para os seus votos, até de lado do embate político.

Aos Fatos selecionou frases e personagens emblemáticas dos dois momentos políticos recentes do país e as colocou em contexto. O objetivo é mostrar como a ocasião faz o homem — ou o discurso do homem.


Jair Bolsonaro (PSC-RJ)

2017

Para ser uma grande nação, o Brasil precisa de um presidente honesto, cristão e patriota. O meu voto é não.

2016

Perderam em 1964. Perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula, que o PT nunca teve... Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff! Pelo Exército de Caxias, pelas nossas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo, e por Deus acima de todos, o meu voto é sim!

O que mudou? No mesmo fim de semana da análise do impeachment de Dilma na Câmara, em abril de 2016, o Datafolha colocava Bolsonaro em quarto lugar na disputa presidencial de 2018. Em junho de 2017, o deputado aparece com 16% das intenções de voto no cenário principal e em segundo lugar na maioria das hipóteses especuladas.


Miro Teixeira (Rede-RJ)

2017

Presidente, o interesse público exige o fim da impunidade. Eu voto não.

2016

Sr. Presidente, meu voto é sim, porém peço licença aos companheiros para apresentar uma divergência em relação a fundamentações. Nós não queremos confrontos de nenhuma espécie, mas não vamos nos intimidar com as ameaças que ouvimos ao longo das semanas. Saberemos enfrentá-las. Não as desejamos, mas saberemos enfrentá-las e vencê-las. Hoje, aqui, vou decidir sobre um processo. A pauta cuida de um processo, o processo de admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff. Não adianta tergiversar, e, repito, pedindo licença para divergir, reconhecendo o direito de todos falarem o que bem quiser. Hoje o processo aqui é Dilma Rousseff. Aqui temos que julgar o mensalão, inclusive, e começar a voltar no tempo para ver como isso começou. Quanto maior forem as provocações, mais voltaremos no tempo. Vamos ver o petrolão, porque esse processo contra Dilma Rousseff permitirá fortalecer a Lava Jato e aprofundar as investigações do petrolão.
Ninguém aqui tem medo de ninguém.

O que mudou? Em 2016, o mais antigo deputado em número de mandatos na Câmara dos Deputados abraçou a causa de seu partido, a Rede Sustentabilidade: a campanha "Nem Dilma Nem Temer, Nova Eleição é a Solução" foi capitaneada por Marina Silva com adesão enfática do deputado ao votar naquele 17 de abril. Neste ano, Miro tentou emplacar o que foi chamada de PEC das Diretas. O texto autorizava a realização de eleições diretas até seis meses antes do fim de um mandato presidencial, caso houvesse vacância do cargo. No entanto, não foi uma versão do seu texto o aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado em maio passado. A proposta aprovada só teria efeito para Temer caso ele fosse cassado pela Justiça Eleitoral ou renunciasse.


Raquel Muniz (PSD-MG)

2017

Sr. presidente, estou aqui de cabeça erguida, vencendo as injustiças, junto com o meu partido, o PSD, para votar o relatório do deputado Paulo Abi-Ackel, de Minas Gerais. Voto sim, sim e sim!

2016

Sr. presidente, o meu voto é em homenagem às vítimas da BR-251. O meu voto é para dizer que o Brasil tem jeito, e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com a sua gestão. O meu voto é por Tiago, David, Gabriel, Mateus, minha neta Júlia, minha mãe, Elza. Meu voto é pelo norte de Minas, é por Montes Claros, é por Minas Gerais, é pelo Brasil. Sim, sim, sim!

O que mudou? Dos mais de 500 votos durante a análise do impeachment de Dilma na Câmara, o discurso da deputada ficou famoso em 2016 sobretudo porque, no dia seguinte da votação, seu marido homenageado foi preso pela Polícia Federal sob suspeita de operar fraudes em licitações na saúde. Ruy Muniz perdeu as eleições em Montes Claros (MG) no ano passado e responde às investigações em liberdade. Raquel também é investigada sonegação fiscal, falsidade ideológica, estelionato e lavagem de dinheiro e apareceu ao lado de Temer no Palácio do Planalto em seu primeiro pronunciamento contra de denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.


Domingos Neto (PSD-CE)

2017

Sr. presidente, ano passado, muitos nesta Casa defenderam que, para se afastar um presidente, era necessária grande substância jurídica. Encontramo-nos, mais uma vez, em um momento de afastamento com a denúncia ainda muito mais frágil do que o processo de impeachment. Tenho certeza de que a tentativa de tirar um presidente cuja investigação prosseguirá ao fim do seu mandato, antecipar essa retirada, será uma incoerência e pode ser chamada até de contragolpe. Contra isso, eu voto sim ao relatório.

2016

Solução para o nosso país só pode existir se for através da democracia. Apresentei nesta Casa, com apoio da maioria, projeto que convoca plebiscito popular para que a população diretamente decida o nosso futuro. Qualquer solução fora disso não pode ser respeitada por um País que tanto lutou pela democracia. Sou contra eleições indiretas. Sou a favor da democracia e voto não ao impeachment.

O que mudou? Domingos Neto é um dos raros casos de deputado que disse não ao impeachment e também disse não à denúncia contra Temer. Em 2016, era próximo dos irmãos Cid e Ciro Gomes, aliados da ex-presidente Dilma. Na época, ao defender plebiscito para antecipar as eleições presidenciais, questionou: "É justo afastar a presidente por pedalada fiscal sem afastar o vice-presidente?". Em 2017, entretanto, tudo mudou: o deputado virou vice-líder do governo na Câmara e rompeu com os Gomes.


Wladimir Costa (SD-PA)

2017

O Deputado Wladimir Costa, do Solidariedade do Pará, quer dizer o seguinte: abaixo o Ibope, que é ridículo e mentiroso; abaixo a pesquisa do Datafolha, que mente... O presidente é um homem decente, preparado, honesto, transparente. E nós da base do Governo vamos botar a oposição para chorar hoje aqui, com a vitória de Michel Temer. Voto sim!

2016

Presidente, um colega nosso aqui da Câmara, cujo nome não vou citar, disse que, se nós cassarmos a presidente Dilma hoje, ele vai se mudar do Brasil. Eu já comprei a passagem dele, sem volta. Saia daqui, porque nós vamos cassar o Brasil, em nome do Pará! Minha mãe negra Lucimar, meu sul e sudeste do Pará, meu Tapajós amado, meu querido nordeste do Pará, toda a área metropolitana, nós encaminhamos, em nome do Brasil, minha mãezinha, dos meus filhos, dos meus amigos do Solidariedade, desse povo querido que vota sim, nós votamos sim! E quem vota sim coloca a mão para cima! Coloca a mão para cima!

O que mudou? Uma pesquisa no Google sobre o deputado coloca entre os primeiros resultados o vídeo "Voto mais engraçado do impeachment", que mostra o momento registrado por Aos Fatos acima. Na semana da análise da denúncia contra Temer, o parlamentar voltou a ser alvo de holofotes ao tatuar o nome do presidente da República no ombro. No entanto, sua atuação parlamentar se limita a pouco mais que isso: segundo o jornal Extra, ele foi o deputado mais faltoso de 2015. Ele também responde a processo na Justiça Eleitoral por irregularidades em campanha e é acusado de assédio por uma repórter da rádio CBN.


A reportagem se baseou na transcrição oficial da Câmara e reproduziu erroneamente trecho da fala de Jair Bolsonaro de 2016. Onde constava "Folha de S.Paulo" agora consta "Foro de São Paulo". O texto foi corrigido às 14h20 de 7 de agosto de 2017.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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