O presidente Jair Bolsonaro discursou e respondeu a uma sequência de perguntas nesta terça-feira (22), durante sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Aos Fatos checou algumas de suas declarações.
Acompanhe, abaixo, o resultado.
Somos o país que mais preserva o meio ambiente.
Como o país não aparece na primeira colocação nem na porcentagem de área florestal preservada, nem no ranking mundial de sustentabilidade, não é possível dizer que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente.
Se Bolsonaro estiver falando de área de florestas preservadas, o Brasil ocupa a 30ª posição. Em 2015, segundo o estudo do Banco Mundial, o país possuía 59,9% de sua área preservada. Os países que possuem a maior porcentagem de área preservada são Suriname (98,3%), Micronésia (91,8%) e Gabão (89,3%). Países como a Suécia (68,9%) e o Japão (68,5%) também estão acima do Brasil.
A afirmação continuará incorreta mesmo se o presidente se referir ao grau de sustentabilidade do país. O Brasil, no último Enviromental Perfomance Index, apareceu na 69ª posição. Nas primeiras colocações estão a Suíça, a França e a Dinamarca. O estudo é feito pelas Universidades de Yale e Columbia, em colaboração com o Fórum Econômico Mundial, e utiliza 24 indicadores — entre eles a emissão de gases, a proteção da biodiversidade e a porcentagem de água potável — para fazer um ranking de 180 países.
30% do nosso território são florestas.
O presidente citou esse dado na sessão de perguntas e respostas que seguiu seu discurso. Na verdade, a proporção de florestas que cobrem o território nacional é o dobro do mencionado por Jair Bolsonaro. Segundo dados de 2015 do Banco Mundial, que têm como fonte a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, o Brasil tem 59% de seu território coberto por florestas — são 4,9 milhões de km2.
Já segundo dados do Serviço Florestal Brasileiro, cerca de 61% do território nacional é coberto por vegetação nativa, distribuída nos cinco biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal.
Nossas relações internacionais serão dinamizadas pelo ministro Ernesto Araújo, implementando uma política na qual o viés ideológico deixará de existir.
Queremos tirar o viés ideológico dos nossos negócios. Não queremos viés nem de um lado nem de outro, visando o comércio com aqueles no mundo que têm práticas semelhantes a nós.
Nós representamos para o povo brasileiro um ponto de inflexão, onde repito, a questão ideológica vai ficar de fora disso tudo.
Bolsonaro mencionou três vezes em sua fala em Davos que conduzirá um governo sem viés ideológico, inclusive nas relações internacionais. Essas declarações entram em contradição com falas antigas do político. Bolsonaro já afirmou antes do período eleitoral que pretendia impor restrições à entrada de capital chinês no Brasil e desconvidou apenas países autoritários de esquerda para a posse presidencial. Além disso, a agenda de Bolsonaro no fórum está restrita a encontros bilaterais com líderes de governos nacionalistas e conservadores. Por esse motivo, a declaração de Bolsonaro foi considerada CONTRADITÓRIA.
Antes das eleições, em outubro de 2017, em entrevista à Bloomberg, Bolsonaro afirmou que China “não tem coração” sugeriu restringir o acesso do asiáticos a setores considerados por ele como estratégicos no país. “A China vem jogando War, em especial no Brasil”.
Nos preparativos da posse presidencial, Bolsonaro também solicitou que fossem desconvidados para a cerimônia Venezuela e Cuba, dois países com ditaduras de esquerda. O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo também informou na conta pessoal no Twitter, que o governo não receberia nenhum representante da Nicarágua na posse, outro governo autoritário de esquerda. Outros países com regimes autoritários, como a Arábia Saudita, por exemplo, não sofreram restrições para participar da cerimônia.
Além disso, a agenda de encontro bilaterais de Bolsonaro durante o Fórum Econômico Mundial inclui apenas encontro com países comandado por líderes nacionalistas e conservadores, contrastando com o discurso segundo o qual as relações internacionais brasileiras não teriam “viés nem de um lado nem de outro”. O presidente brasileiro deve encontrar com líderes da Polônia, República Tcheca, Japão, Itália e Suíça.
Pela primeira vez no Brasil um presidente montou uma equipe com ministros qualificados, não aceitando ingerências político partidárias que no passado apenas geraram ineficiência do estado e corrupção.
Essa declaração já foi checada anteriormente por Aos Fatos no discurso de posse do presidente. Ainda assim, ele segue repetindo — em Davos, Bolsonaro mencionou não ter participado de negociações político-partidiárias para compor sua equipe duas vezes. Trata-se, entretanto, de uma CONTRADIÇÃO. Bolsonaro diz fazer algo, mas, na prática, a coisa é outra.
Na fase de transição de governo, quando sua equipe era montada, Bolsonaro não estabeleceu alianças do mesmo modo que administrações anteriores costumavam fazer. Suas negociações com o Congresso foram guiadas por interlocutores de bancadas, e não exclusivamente dos partidos (o Legislativo terá maior fragmentação partidária do que em gestões anteriores). Isso não significa, no entanto, que não haja interesses políticos em jogo.
O presidente, que recebeu apoio das bancadas ruralista e evangélica durante a campanha, integrou membros das respectivas frentes parlamentares em sua equipe de governo. Essas bancadas têm interesses políticos bem claros: a bancada ruralista pressionou por dar aval ao indicado ao Ministério do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que teve apoio de entidades ligadas ao setor, além do ramo da construção civil, além de ter emplacado a indicação da deputada Tereza Cristina no Ministério da Agricultura.
Ainda quando candidato, o presidente também tentou estabelecer alianças partidárias, mas fracassou. O próprio Bolsonaro chegou a negociar com o PR, um dos partidos do centrão, para que o senador Magno Malta fosse o vice da sua chapa presidencial, mas a negociação não foi para frente. O esperado era que Malta assumisse o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mas a pasta acabou ficando com sua ex-assessora, Damares Alves.
O Brasil ainda é uma economia relativamente fechada ao comércio internacional.
A declaração de Bolsonaro é VERDADEIRA. Tanto a baixa participação de exportações no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro quanto a baixa taxa de entrada de novas empresas exportadoras indicam que o Brasil é uma economia fechada na comparação com outros países.
Pesquisa do Banco Mundial de 2015 mostra que o mercado brasileiro tem um baixo índice de entrada de novas empresas — apenas 22%, menor que a de países como Malauí, Laos e Tanzânia. A avaliação do Banco Mundial foi feita a partir de estatísticas reunidas na Exporter Dynamics Database, base de dados pública sobre trocas entre países com informações sobre 70 nações. Além de ser fechado, o Banco Mundial indica que o mercado exportador brasileiro é concentrado, com apenas um quarto das empresas exportadoras do Brasil responsáveis por 98% das vendas do país ao exterior.
De acordo com levantamento do ICC (Câmara de Comércio Mundial) de 2017, o Brasil é o país mais fechado para o comércio exterior entre todas as nações do G20 — grupo formado pelas maiores economias emergentes e desenvolvidas. No ranking da abertura de mercado da organização, o Brasil é o 69° país mais aberto do mundo, entre 75 pesquisados, a frente apenas de Bangladesh, Nigéria, Paquistão, Etiópia, Sudão e Venezuela.
A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território.
Como os dois últimos dados oficiais disponíveis indicam um percentual de cultivo próximo a 8% do território brasileiro, a declaração de Bolsonaro é VERDADEIRA. Ambos os números consultados são de 2017 e 2016, sendo razoável projetar crescimento desde então.
Em dezembro de 2017, a Nasa, agência espacial norte-americana apresentou um estudo sobre a ocupação da produção agrícola do território brasileiro. Segundo a agência, o Brasil utiliza 7,6% do solo com lavouras, o que totaliza cerca de 64 milhões de hectares.
Em 2016, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) também calculou a área cultivada do país: 7,8% do total, cerca de 65 milhões de hectares. Segundo a Embrapa, “A pequena diferença é normal. Por exemplo, os números da Nasa sobre as áreas ocupadas pelas lavouras norte-americanas (18,3% do país) também apresentam pequenas diferenças em relação aos dados oficiais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos - USDA (17,4% do país)”.
O estudo também indica que o Brasil é o terceiro país que menos utiliza e cultiva as suas terras, perdendo apenas para Canadá e Austrália, que cultivam menos de 5% de seus territórios.
Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária.
Segundo o relatório Perfil da Pecuária no Brasil 2018, produzido pela Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) e pela Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), 19% do território brasileiro são pastagens em condições de uso. Isso significa cerca de 162,8 milhões de hectares. Como os dados relativos às pastagens brasileiras são utilizados como números da pecuária, a afirmação de Jair Bolsonaro está correta.
O número é bem parecido com o divulgado pelo último Censo Agropecuário do IBGE, publicado em 2017. De acordo com os dados, 111,7 milhões de hectares do território brasileiro são pastagens plantadas e 46,8 milhões de hectares são pastagens naturais, totalizando uma área de aproximadamente 158,6 milhões de hectares.
Não estamos entre os 40 destinos turísticos mais visitados do mundo.
De acordo com a OMT (Organização Mundial de Turismo), o Brasil é o 45º país mais visitado do mundo e recebeu, em 2017, cerca de 6,5 milhões de visitantes. Portanto, a afirmação de Bolsonaro é correta. O ranking da organização leva em consideração 220 países.
Em relação à América do Sul, o Brasil foi o segundo país que mais recebeu turistas em 2017. A Argentina foi o destino mais visitado, com 6,7 milhões de chegadas. Após o Brasil, Chile (6,4 milhões) e Peru (4 milhões) são os destinos sul-americanos mais visitados.
Esta checagem foi atualizada às 17h57 de 22 de janeiro para corrigir a informação sobre a posição do Brasil no ranking da OMT. O país está na 45ª posição, e não na 41ª.