🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Abril de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Em 44 horas, bolsonaristas vão de 'fake news' para blindar Moro a ataques ao ex-ministro

Por Bárbara Libório, Marina Gama Cubas e João Barbosa

29 de abril de 2020, 17h18

Na véspera da demissão de Sergio Moro, a rede de perfis bolsonaristas no Twitter que negava a sua saída do governo preferiu atacar a imprensa ao ex-juiz. Parlamentares da base de governo e blogueiros conservadores usaram termos como “fake news”, “mentira” e “extrema-imprensa” para desacreditar as informações divulgadas pela imprensa de que o ex-juiz pediria demissão. A saída se confirmou no dia seguinte, 24, quando a blindagem a Moro acabou. Na sexta-feira, os mesmos perfis que acusavam jornalistas de disseminar informações falsas e poupavam Moro de críticas passaram a atacá-lo e a defender o presidente Jair Bolsonaro.

No dia 23, Radar Aos Fatos analisou os tweets e o comportamento de usuários que afirmavam que Moro não abandonaria o governo. Foram capturados 16.980 tweets, e as 100 postagens com maior alcance foram divididas em oito categorias: apoio a Bolsonaro, ataque a Bolsonaro, ataque à imprensa, ataque a Rodrigo Maia, ataque a Sergio Moro, ataque a outras figuras políticas, elogio à imprensa, neutro e teoria da conspiração -- cada tweet pode se enquadrar em mais de uma categoria. No total, 63 tuítes continham ataques à imprensa. Dezesseis eram neutros, em sua maioria noticiosos ou sem juízo de valor, e dez continham ataques ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

Termos como “fake news”, “mentira” e “extrema-imprensa” foram os mais usados nas postagens sobre descrédito em relação a demissão e ataques à imprensa. A nuvem de palavras abaixo mostra quais foram os 100 termos mais frequentes nos tweets postados no dia 23 de abril negando a saída de Moro.

Entre os perfis que tiveram mais alcance ao atacar a imprensa estão os de parlamentares que fazem parte da base do governo do presidente Jair Bolsonaro, como os deputados federais Carla Zambelli (SP) e Carlos Jordy (RJ), ambos do PSL. A primeira afirmou que a imprensa estaria "pregando uma peça" ao noticiar a demissão do ministro, enquanto o segundo afirmou que a Folha de S.Paulo deveria estar "blefando".

Zambelli e Jordy já foram apontados como disseminadores de desinformação em outros momentos. Um dos conteúdos postados pela deputada desmentido mais recentemente foi um vídeo que deixava a entender que um padre de São José do Campos declarou apoio a atos pró-Bolsonaro -- Aos Fatos demonstrou que o vídeo publicado era falso. A deputada foi procurada na ocasião, mas não se pronunciou.

Já as declarações falsas de Jordy chegaram à Justiça. Ele foi condenado a indenizar o youtuber Felipe Neto após associá-lo ao massacre de Suzano, ocorrido no início de 2019. Segundo a magistrada Bianca Ferreira do Amaral Nigri, da 1ª Vara Cível do Rio de Janeiro, não havia qualquer comprovação das declarações do deputado.

A Época, que noticiou a condenação, Jordy afirmou que acredita ser possível reverter a decisão e que o juíza “julgou errado” por não seguir o rito processual.

Blogueiros bolsonaristas já foram responsáveis por publicações de notícias falsas ou distorcidas também foram autores de tweets de ataque à imprensa que mais viralizaram na rede.

É o caso de Oswaldo Eustáquio, do site Agora Paraná, que publicou a informação falsa desmentida pelo Aos Fatos de que o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta havia renovado contratos com agências de publicidade firmados no governo passado sem o aval do Palácio do Planalto. Questionado sobre a desinformação propagada, ele não respondeu a reportagem à época.

No dia 23, data que antecedeu a oficialização da saída de Moro, Eustáquio acusou os veículos de imprensa de publicar notícia falsa com o objetivo de prejudicar o governo Bolsonaro.

O dia seguinte. Radar Aos Fatos analisou também o que esses mesmos perfis publicaram no dia seguinte, 24, após o anúncio oficial da saída de Sergio Moro do governo. As cem postagens com mais retweets e curtidas desses autores foram divididas nas seguintes categorias: apoio a Bolsonaro, ataque a Bolsonaro, apoio a Moro, ataque a Moro, ataque à imprensa, ataque a outros, e neutro -- um tweet pode se encaixar em mais de uma categoria. Dessa vez, pouco se falou sobre a imprensa. No total 35 das postagens continham ataques a Moro e 25 tinham mensagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Entre outros argumentos usados para criticar o ex-ministro estão a insatisfação com a investigação sobre o atentado a Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, a falta de manifestação do então ministro sobre a atuação dos governadores no combate à pandemia do coronavírus e a suposta "barganha" de Moro para a indicação de seu nome para ministro STF (Supremo Tribunal Federal), segundo acusação do presidente.

Foi o caso de Eustáquio, que, no dia anterior, acusou a imprensa de publicar fake news e, depois, acusou o ex-ministro de tentar chantagear Bolsonaro, influenciado por opositores.

Outros tweets tentavam relacionar Moro a figuras públicas da esquerda, principalmente depois da veiculação de uma informação falsa de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria saído em defesa do ex-ministro. Na verdade, Lula chegou a se manifestar no Twitter criticando Moro e Bolsonaro, afirmando que "os dois são bandidos" e "filhos de mentiras". A hashtag #fechadocombolsonaro apareceu em diversos tweets que criticavam o ex-juiz.

Os principais críticos de Moro foram os perfis bolsonaristas Lets_Dex, com oito postagens atacando o ex-ministro, Marcos Quezado, com cinco tweets, e o blogueiro Paulo Eneas, com três publicações, mesmo número que o perfil BrazilFight, que se nomeia "FamíliaDireitaBrasil".

Dentre aqueles que mais obtiveram popularidade estão também os tweets do deputado Carlos Jordy, que criticou o ataque do ex-ministro ao presidente Jair Bolsonaro em sua demissão.

Todo o conteúdo dos tweets analisados e suas respectivas classificações podem ser acessados aqui.

Referências:

1. Aos Fatos 1, 2.
2. Época

Metodologia:

Primeiramente, foram capturados, via API pública do Twitter, 396.490 tweets que continham os seguintes termos e foram publicados entre os dias 23 e 20h do dia 24 de abril:

"sérgio moro" ou "sergio moro" ou (moro AND (juiz ou juíz ou ministro ou ministério ou ministerio ou bolsonaro ou presidente ou presidência ou "lava jato" ou "lava-jato" ou demite ou denuncia ou denúncia ou denúncias ou demissão ou demissao ou autonomia ou "polícia federal" ou "policia federal" ou "PF" ou valeixo ou "diretor-geral" ou "diretor geral" ou renuncia ou renúncia ou exoneração ou exoneração ou interferência ou "interferencia politica" ou coletiva ou pronunciamento ou "ex-ministro" ou STF ou "carta branca" ou impeachment)) ou "do moro" ou "o moro" ou "pro moro" ou @SF_Moro ou #sergiomoro ou #moropededemissão ou #fechadocomsergiomoro ou #morosedemite ou #sergiomoro2020 ou #sergiomoro2022 ou #moro2022 ou #moropresidente2022 ou #sergiomorofica ou #morofica ou #sergiomoroheroinacional ou #moroheroinacional ou #moro ou #inmorowetrust ou #morocomunista ORR #saiamoro ou #sergiomoropresidente2022 ou #moropresidente ou #sergiomoropresidente ou #somostodossergiomoro ou #somostodosmoro ou #moroorgulhonacional ou #moroorgulhodobrasil ou #moroheroidobrasil

Depois, a base de dados passou por um novo filtro, a fim de encontrar os tweets que negavam a saída do ex-ministro Sergio Moro no dia 23. Esse filtro resultou num montante de 16.980 tweets. Os 300 tweets com mais popularidade foram analisados manualmente para ver se se tratavam do tema e chegamos, então, aos 100 tweets mais populares que negavam a demissão de Moro. Os termos filtrados foram os seguintes:

falso ou falsa ou falsos ou falsas ou falácia ou falacia ou falacias ou falácias ou ventilar ou ventilando ou barrigada ou mentindo ou mídia golpista ou midia golpista ou narrativa criada ou blefando ou blefe ou blefar ou narrativa de demissão ou narrativa de demissao ou narrativa da demissão ou narrativa da demissao ou narrativa sobre a demissão ou narrativa sobre a demissao ou inventar ou inventando ou inventa ou inventou ou inventaram ou fakenews ou fake ou barrigadas ou especulação ou desmentir ou jornaleco ou jornaleca ou jornalecos ou mente ou mentira ou mentiras ou mentiroso ou mentirosa ou mentirosos ou mentirosas ou calúnia ou calúnias ou calunia ou calunias ou caluniador ou caluniadores ou caluniadora ou caluniadoras ou caluniam ou caluniaram ou caluniando ou farsa ou farsas ou farsante ou farsantes ou fajuto ou fajutos ou fajuta ou fajutas ou jornazista ou jornazistas ou jornalista militante ou jornalistas militantes ou imprensa marrom ou foia ou furo ou fôia ou extrema imprensa ou imprensa de merda ou moro não pediu demissão ou moro nao pediu demissao ou moro não sai ou moro nao sai ou moro não vai sair ou moro nao vai sair ou mídia ou midia

Para a análise do dia 24, capturamos na base geral os tweets dos 75 usuários que negaram a saída do ministro no dia anterior. Os 100 tweets mais populares sobre o ministro publicados por esses perfis foram analisados.

Colaborou Thamyres Dias

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.