Líder nas pesquisas de intenção de voto, o prefeito do Rio de Janeiro e candidato à reeleição, Eduardo Paes, tem exagerado ao elencar realizações de seus três mandatos (2009-2016 e 2021-2024) à frente da cidade.
Em entrevistas e publicações nas redes sociais, Paes (PSD) desinformou ao falar de vacinas contra a Covid, inflou dados dos números do funcionalismo municipal, exagerou nos índices da saúde e omitiu informações sobre a conclusão de obras na cidade.
O atual prefeito, que busca o quarto mandato, tem 49% das intenções de voto no primeiro turno, segundo pesquisa divulgada pela consultoria Quaest na última quarta-feira (24).
Veja abaixo as checagens de quatro declarações recentes dadas pelo prefeito Eduardo Paes.
"Aliás, nós fomos a primeira capital a anunciar que compraríamos vacina, caso, então, o governo federal não fizesse"— em vídeo publicado em 22.jun.2024.
O Rio de Janeiro não foi a primeira capital a anunciar que compraria vacina contra a Covid-19 para imunizar a população da cidade, caso o governo federal não fizesse. Curitiba, capital do Paraná, anunciou um acordo para aquisição dos imunizantes 13 dias antes.
Paes assinou um termo de cooperação com o Instituto Butantan, instituição pública ligada à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, para a aquisição da vacina CoronaVac contra a Covid-19 no dia 20 de dezembro. Em 7 de dezembro de 2020, a Prefeitura de Curitiba informou que tinha chegado a um acordo com o governo de São Paulo para a compra do imunizante.
Na ocasião, Paes era o prefeito eleito do Rio de Janeiro, mas ainda não tinha tomado posse. Já o prefeito de Curitiba era Rafael Greca (PSD), então reeleito para mais quatro anos de mandato.
A declaração de Paes também omite que o governo do estado de São Paulo foi o responsável por fechar um acordo de transferência de tecnologia em junho de 2020 entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech para a produção da vacina contra a Covid-19 e sua posterior distribuição para as prefeituras de São Paulo, o que incluía a capital paulista.
Em 9 de janeiro de 2021, o prefeito carioca desistiu de comprar a vacina produzida pelo Butantan e preferiu aguardar a distribuição dos imunizantes por parte do governo federal.
"(...) a Prefeitura, são 150 mil servidores (...)" — em entrevista em 2.jul.2024
Diferentemente do que foi afirmado por Eduardo Paes, a Prefeitura do Rio tem hoje cerca de 109 mil servidores ativos, na administração direta e indireta — 27% a menos que o informado pelo prefeito. Se forem incluídos na conta os cerca de 89 mil inativos e pensionistas, o total vai a 198 mil servidores — número 32% maior do que o citado pelo prefeito. Os dados foram repassados pela própria Prefeitura do Rio ao Aos Fatos.
"(...) a nossa taxa de cobertura da atenção primária deu um salto histórico. Passou de 3,5% [em 2009] para 70% [em 2016]" — em vídeo publicado em 22.jun.2024.
Dados do Ministério da Saúde sobre a atenção primária no Brasil mostram que a cobertura na cidade do Rio de Janeiro em janeiro de 2009 — no início do primeiro mandato de Eduardo Paes — era de 21,5%, e não de 3,5%. Em dezembro de 2016, último mês do segundo mandato do prefeito, o percentual subiu para 68,62%, o que é próximo do citado pelo prefeito.
O percentual de 70% foi atingido em janeiro de 2017, no primeiro ano do mandato de Marcelo Crivella (Republicanos). A taxa se manteve acima desse percentual ao longo de 2017. Nos anos seguintes, houve uma queda progressiva na cobertura da atenção primária no Rio, até atingir 45,98% em dezembro de 2020, último mês de Crivella no poder.
A taxa de 3,5% citada por Paes consta do artigo “Eixos e a Reforma dos Cuidados em Atenção Primária em Saúde”, de 2016, cujo principal autor é o sanitarista Daniel Soranz, secretário municipal de Saúde entre 2014 e 2016 e, posteriormente, entre 2021 e 2024.
No artigo, porém, o percentual de 3,5% refere-se somente à cobertura de equipes de saúde da família em 2008. Já a atenção primária engloba várias ações além das equipes de saúde da família, como equipes de atenção básica, o programa Mais Médicos, entre outras iniciativas, de acordo com o Ministério da Saúde.
"Também realizamos o desvio do curso do Rio Joana para levar o excesso de água das chuvas fortes diretamente para a Baía de Guanabara" — em vídeo publicado em 24.mai.2024.
As obras para o desvio do curso do Rio Joana, na região da Grande Tijuca, Zona Norte do Rio, começaram em 2012, no último ano do primeiro mandato de Eduardo Paes. Só foram concluídas em 2019, na gestão do prefeito Marcelo Crivella.
A previsão inicial era de que as intervenções fossem concluídas antes das Olimpíadas do Rio, em 2016. A obra era parte de um pacote de ações contra enchentes.
Em outubro de 2016, após sucessivos atrasos, a prefeitura suspendeu o contrato com a empresa responsável, com 80% do trabalho realizado.
As intervenções foram retomadas em 2018, pelo então prefeito Marcelo Crivella, e o túnel que desvia grande parte da água do Rio Joana, diretamente para a Baía de Guanabara foi inaugurado no ano seguinte.
Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com a campanha do prefeito Eduardo Paes, mas não houve retorno até o momento da publicação desta matéria.
O caminho da checagem:
Aos Fatos vem acompanhando as declarações do prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição. As frases que contêm dados e informações verificáveis são separadas e sistematizadas em uma planilha. Depois, são categorizadas por tema.
Todas as declarações foram checadas a partir de dados presentes em bases públicas, informações divulgadas pela imprensa, além de dados fornecidos pela própria administração municipal. Terminada a apuração, procuramos a assessoria de Eduardo Paes na Prefeitura, que forneceu um email da assessoria de campanha - para o qual foram enviados questionamentos.