🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.
Editorial: Novo governo deve ter rigor com os fatos para ser consistente contra a indústria da mentira
Se o governo que tomou posse em 1º de janeiro de 2023 cumprir a promessa de ser para todos, deverá dedicar-se prioritariamente a promover meios que permitam o justo escrutínio público por quem tem a verdade factual como dever de ofício. Isso significa que, muito além de tomar decisões baseadas em informações factíveis e verificáveis, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá se certificar de que a sua gestão vai assegurar o acesso a informações oficiais qualificadas e fiscalizar quem as restringir.
Aos Fatos nunca se propôs a estigmatizar políticos como mentirosos contumazes. Em vez disso, traz à luz informações incorretas em discursos e argumentos que influenciam todo o ciclo de políticas públicas, do planejamento à execução. O objetivo deste trabalho é, em situações de normalidade institucional, evitar que recursos públicos sejam empregados em ações ineficientes, não baseadas em evidências, por vezes ilegais. A exemplo disso, aqui se combate o uso de cargos eletivos para disseminar conteúdo golpista, a perseguição de profissionais baseada em desinformação, o uso do aparato de segurança do Estado para denunciar crimes que não existem, o uso da comunicação pública para promover teorias da conspiração.
O personalismo que figuras como Donald Trump, Rodrigo Duterte e Jair Bolsonaro exerceram na política transformou o ato de checar os fatos num triste autômato. Foram mais de 6.500 declarações enganosas ditas pelo agora ex-presidente brasileiro, de modo que qualquer tentativa de trazer sentido à realidade era diariamente solapada por um novo absurdo. O conjunto da obra é um lembrete permanente de que se tratou de um mandatário em guerra com a realidade. Só depois se discutem os fatos e as consequências.
O absurdismo como estratégia de comunicação pública demoliu o avanço de discussões que pautam o futuro da humanidade, e o Brasil se viu em anomia institucional. Do lado de cá, apenas se torcia para que os idiotas da ocasião não vislumbrassem um novo pilar do Estado para dinamitar com mentiras.
Aos Fatos vê o novo governo como uma oportunidade para expor fatos às claras, e suas lideranças devem ter o compromisso de debatê-los com seriedade. É necessário resgatar a virtude de se munir de boa informação, corrigir-se caso haja um ato falho e discernir a mentira deliberada e maliciosa do equívoco sincero. Não há vergonha no erro pontual. As autoridades desta gestão só serão iguais aos seus antecessores se, consumidos pela própria ignorância, reagirem com virulência ao contraditório profissional.
Em seu discurso de posse, Lula disse ser “urgente” a “responsabilização dos meios pelos quais o veneno do ódio e da mentira são inoculados”. Apenas autoridades acostumadas à verdade factual serão capazes de liderar tal esforço civilizatório, uma vez que a responsabilização de políticos que usam a mentira como plataforma é a principal garantia para combater o problema.