🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que vacinas contra Covid-19 foram aplicadas apenas em animais antes de testes no Brasil

Por Luiz Fernando Menezes

26 de outubro de 2020, 15h23

Não é verdade que as vacinas desenvolvidas pela Universidade de Oxford e pela empresa Sinovac Biotech foram aplicadas apenas em animais antes dos testes em brasileiros, como afirma o enfermeiro e candidato a vereador Anthony Ferrari Penza (PSD-RJ) em vídeo que circula nas redes sociais (veja aqui). As duas imunizações já haviam sido testadas em humanos em estudos clínicos antes de chegarem ao Brasil.

O vídeo circula no WhatsApp, onde foi sugerido por leitores do Aos Fatos como checagem (inscreva-se aqui). O conteúdo também se disseminou no Facebook, onde acumula ao menos 26 mil compartilhamentos em compartilhamentos de perfis pessoais e páginas até a tarde desta segunda-feira (26). As publicações foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação (entenda como funciona).


FALSO

Essas vacinas que estão sendo testadas, elas foram testadas em ratos, em camundongos, em macacos e agora, como teste, nós vamos aplicar em todo o povo brasileiro. Se vocês morrerem, morreu, porque nós estávamos testando uma vacina.

Vem viralizando nas redes sociais um vídeo em que um homem vestido com um jaleco médico afirma que as vacinas da Universidade de Oxford e da empresa Sinovac Biotech teriam sido testadas apenas em animais e, para verificar sua segurança em seres humanos, elas passaram a ser aplicadas em voluntários brasileiros. Os dois medicamentos, no entanto, foram submetidos a testes clínicos no exterior e também passam por estudos em diversos outros países além do Brasil.

A vacina de Oxford, durante as fases 1 e 2, foi testada em 1.077 voluntários britânicos entre abril e maio deste ano, conforme pode ser verificado no relatório publicado no periódico científico Lancet. Além do Brasil, a imunização também está sendo testada nos Estados Unidos, na Rússia e na Índia.

Já a CoronaVac, produzida pela Sinovac Biotech, foi testada na população chinesa antes de vir para o Brasil. Conforme explicado pelo Aos Fatos em checagem anterior, a primeira fase de testes clínicos na China contou com 144 voluntários e a segunda, com 600. Além disso, a fase 3 dos testes também está sendo realizada na Turquia e na Indonésia.

É fato, no entanto, que ambos os medicamentos foram testados em macacos antes dos testes clínicos em humanos. A vacina de Oxford começou a divulgar informações em maio. Já a CoronaVac apresentou seus resultados em abril.

Vale ressaltar ainda que a CoronaVac foi aprovada para uso emergencial na China em agosto. Segundo dados divulgados pelo Instituto Butantan em setembro, dos 50.027 voluntários chineses que receberam doses da imunização, 5,36% desenvolveram efeitos colaterais. Não houve nenhuma morte registrada até o momento.

O Butantan também divulgou, no dia 19 de outubro, resultados parciais dos efeitos da vacina em voluntários brasileiros. Segundo Dimas Covas, diretor do instituto, 35% dos 9.000 voluntários tiveram reações adversas, sendo todas elas de baixo grau. Após a primeira dose, os efeitos mais identificados foram dor no local da aplicação (19%) e dor de cabeça (15%). Na segunda dose da vacina, as reações adversas mais comuns foram dor no local da aplicação (19%), dor de cabeça (10%) e fadiga (4%).

Ambas as imunizações foram liberadas para testes clínicos no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) por terem nível de segurança considerado aceitável. A vacina de Oxford foi aprovada no dia 2 de junho e a CoronaVac, em 3 de julho.

Alteração no código genético. Outra desinformação presente na fala do autor é a de que as vacinas causariam mutações e “doenças genéticas”. Checada pelo Aos Fatos anteriormente (aqui e aqui), a informação não encontra respaldo na realidade, já que não existe nenhum indício de que alguma imunização que vem sendo produzida em combate à Covid-19 possa alterar o código genético de seres humanos.

O que algumas das vacinas em teste estão fazendo é modificar genes do Sars-CoV-2, vírus que causa a Covid-19, para torná-lo inofensivo antes que seja inserido no corpo humano. Essa tecnologia, que ainda não tinha sido utilizada na produção de imunizações para humanos, torna o desenvolvimento delas mais rápido.

Esse processo, no entanto, está sendo utilizado apenas por algumas vacinas, como a de Oxford. A CoronaVac, por sua vez, utiliza o vírus inativado, tecnologia semelhante à das imunizações desenvolvidas contra a poliomielite e a gripe, que inativa o agente causador da doença por meio de agentes químicos ou físicos.

Morte nos testes de Oxford. O autor ainda lança dúvidas em relação à morte do médico João Pedro Rodrigues Feitosa, ocorrida no dia 17 de outubro. O profissional, que era voluntário dos testes clínicos da imunização produzida pela Universidade de Oxford, morreu por complicações causadas pela Covid-19.

Segundo o vídeo, a morte de Feitosa seria apenas um exemplo de como os laboratórios se comportariam em relação aos brasileiros: “se morre, é placebo; se dá certo, é a vacina”. A AstraZeneca, empresa responsável pelo medicamento, não especificou a qual grupo Feitosa estava inserido, mas, segundo O Globo, ele teria tomado o placebo, e não a imunização.

Autoria. O autor do vídeo é Anthony Ferrari Penza, enfermeiro e candidato ao cargo de vereador da cidade de Cabo Frio (RJ). Também responsável por peça de desinformação que afirmava que estados e municípios ganhariam dinheiro a cada óbito por Covid-19 registrado, o profissional de saúde é alvo de um processo ético no Coren-RJ (Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro), que tramita sob sigilo.

Em telefonema ao Aos Fatos, Penza discordou da classificação e disse que, na verdade, ele só estava alertando a população de que as vacinas citadas ainda estão em fase de produção e, portanto, não poderiam ser disponibilizadas. Penza também disse que não é contra as vacinas, nem contra a realização de testes, mas que "nenhuma vacina produzida em seis meses, um ano, vai ser eficaz".

Referências:

1. The Lancet
2. Clinical Trials (Fontes 1, 2, 3 e 4)
3. Aos Fatos (Fontes 1, 2, 3 e 4)
4. Governo de São Paulo (Fontes 1 e 2)
5. Indonesia Registry Web Portal
6. Reuters
7. EBC
8. Governo Federal
9. Anvisa
10. Vox
11. Instituto Butantan
12. O Globo (Fontes 1 e 2)
13. bioRxiv
14. Sciencemag


Esta checagem foi atualizada às 10h25 do dia 27 de outubro de 2020 para acrescentar o posicionamento de Penza.

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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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