É falso que TV italiana noticiou em 2015 que novo coronavírus foi criado em laboratório

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Uma reportagem veiculada em novembro de 2015 pela emissora italiana RAI tem sido usada em posts nas redes sociais para sustentar a informação falsa de que o novo coronavírus foi criado em laboratório na China (veja aqui). O vídeo, entretanto, não fala sobre o Sars-Cov-2, mas de um outro tipo de coronavírus, encontrado apenas em morcegos, e que foi recriado por cientistas para pesquisas com ratos e células in vitro como prevenção a possíveis novos surtos. A ideia era avaliar se o organismo, similar ao vírus da Sars, que causou epidemia de 2002 a 2003, poderia infectar seres humanos mesmo sendo originado de outro animal.

Esta informação falsa já circulou em diversos idiomas desde o início da pandemia de Covid-19, tendo sido desmentida não só por iniciativas de checagem, como por especialistas e até pelo próprio programa que veiculou a notícia em 2015 e pela revista Nature. Além disso, análises do genoma do Sars-Cov-2 conduzidas por pesquisadores americanos não encontraram indícios de que o novo coronavírus foi criado em laboratório.

No Facebook, posts com o vídeo fora de contexto e informações enganosas acumulavam, até a tarde desta quarta-feira (15), ao menos 1.000 compartilhamentos. Todas as postagens foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de monitoramento da rede social (saiba como funciona).


FALSO

Um trecho do programa TGR Leonardo, da emissora de TV italiana RAI, de 16 de novembro de 2015 tem sido usado nas redes sociais para sustentar que o novo coronavírus foi criado em laboratório na China naquele ano, o que não é verdade. A reportagem aborda um tipo de coronavírus encontrado em morcegos que foi sintetizado na época por cientistas americanos e chineses em experimento com ratos e células humanas in vitro. Pesquisas recentes desenvolvidas nos EUA não encontraram indícios de que o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, tenha sido desenvolvido em laboratório.

No estudo de 2015 citado pela TV italiana, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, da Academia Chinesa de Ciências, do Instituto de Microbiologia de Bellinzona e da Universidade de Harvard analisaram o SHC014-CoV, tipo de coronavírus encontrado em uma espécie de morcegos. O objetivo era verificar a possibilidade de o organismo, similar ao vírus da Sars, da epidemia de 2002 a 2003, infectar seres humanos mesmo originado de outro animal.

No estudo, o vírus extraído de morcegos foi modificado de acordo com o código genético do da Sars e usado para infectar pulmões de ratos e células respiratórias humanas in vitro. Ao fim do experimento, provou-se que o organismo foi capaz de se replicar nesses ambientes.

Os resultados da pesquisa foram publicados na época pela revista Nature, que, em março deste ano, destacou que o microrganismo sintetizado pelos cientistas em 2015 não tem relação com o Sars-Cov-2 e com a atual pandemia de Covid-19. O programa TGR Leonardo também desmentiu a informação falsa.

Em entrevista ao La Repubblica, o virologista da Universidade de Pavia Fausto Baldanti afirmou que vírus criados em laboratórios “são perfeitamente distinguíveis” dos naturais: “o experimento de 2015 aconteceu para todos verem. O genoma desse microrganismo foi publicado na íntegra. E não é o mesmo que o atual coronavírus".

Em estudo publicado na Nature no dia 17 de março deste ano, cientistas do Scripps Research Institute, dos Estados Unidos, também relataram ser improvável que o novo coronavírus tenha sido criado em laboratório. “Embora as evidências mostrem que o SARS-CoV-2 não é um vírus propositalmente manipulado, atualmente é impossível provar ou refutar as outras teorias de sua origem”, afirmam os pesquisadores no artigo, “não acreditamos que qualquer tipo de cenário laboratorial seja plausível”.

A desinformação que vincula a reportagem da RAI ao vírus causador da atual pandemia já circulou por diversos países, tendo sido desmentida por Buzzfeed, La Repubblica, Newtral e Faktrograf. No Brasil, versões deste conteúdo enganoso já foram checadas por Agência Lupa, Comprova, Boatos.org e Fato ou Fake.

Referências

  1. Nature (1, 2 e 3)
  2. UFRJ
  3. RAI
  4. La Repubblica

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