🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que TSE entregou código-fonte das urnas eletrônicas à Smartmatic

Por Luiz Fernando Menezes

12 de agosto de 2021, 17h40

Não é verdade que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) entregou o código-fonte das urnas eletrônicas para a britânica Smartmatic em 2018, como afirmam postagens nas redes sociais (veja aqui). A empresa, que venceu e depois foi desclassificada de um edital naquele ano para desenvolver um sistema de impressão de votos, não teve acesso a essas instruções do equipamento, segundo a corte e a própria Smartmatic.

O conteúdo enganoso somava ao menos 9.000 compartilhamentos em posts no Facebook nesta quinta-feira (12) e foi marcado com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (veja como funciona).


BOMBA!!! O TSE entregou o código-fonte das urnas eletrônicas para a Smartmatic.

Vem circulando nas redes sociais a informação enganosa de que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) teria entregue, em 2018, o código-fonte das urnas eletrônicas utilizadas nas eleições brasileiras para a multinacional Smartmatic. Segundo a peça de desinformação, o edital aberto naquele ano para a compra de um sistema de impressão de votos previa que os códigos seriam cedidos à empresa vencedora da licitação. Isso, no entanto, é falso.

A Smartmatic venceu um pregão em fevereiro de 2018 para fornecer impressoras para urnas eletrônicas. O edital deste pregão, publicado em janeiro, não previa que o TSE entregasse à empresa o código-fonte das urnas. A única menção a esse termo é uma exigência de que a empresa vencedora entregaria ao TSE o código-fonte das impressoras.

As peças de desinformação afirmam que, mesmo que o edital não dissesse de forma clara que o TSE deveria entregar os códigos-fonte, a Smartmatic só poderia desenvolver o produto com essa informação em mãos. Em nota enviada ao Aos Fatos, a empresa negou que teve acesso a esses dados. “Toda a informação que a Smartmatic recebeu do TSE para a construção do protótipo estava disponível ao público e não incluía o código-fonte que roda nas urnas eletrônicas”, afirmou.

O TSE afirmou que empresas contratadas para projetos de urnas e impressoras de votos recebem apenas o "software básico", que consiste na parte do sistema que atua de forma mais próxima e integrada ao hardware. “Os aplicativos da urna, que contém toda a inteligência do processo eleitoral (identificação de eleitores, captação de votos, apuração e recuperação) não são fornecidos à empresa. Também não são fornecidas chaves criptográficas usadas pelos aplicativos”, disse.

Posteriormente, a Smartmatic foi desclassificada do pregão por não atender às especificações previstas no edital. Um novo edital chegou a ser aberto, mas a impressão do voto foi declarada inconstitucional e o processo foi cancelado.

De forma resumida, o código-fonte é um conjunto de instruções que permite o funcionamento da urna eletrônica. Por mais que o TSE tenha afirmado em diversas ocasiões que pretende liberar esse código para toda a população, isso nunca aconteceu. Seu acesso atualmente é restrito a representantes técnicos dos partidos políticos, ao Ministério Público e à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Contexto. Nas peças que vêm sendo compartilhadas atualmente, a alegação é acompanhada de um debate entre a advogada Maria Aparecida Cortiz, o professor aposentado da UnB (Universidade de Brasília) Pedro Dourado Rezende, membros do CMind (Comitê Multisciplinar Independente) que analisou o processo eleitoral brasileiro, e a jornalista Marta Serrat.

Os três comentam uma checagem publicada pela Folha de S.Paulo em setembro de 2018 que, segundo a advogada, tinha acabado de ser publicada. Aos Fatos não encontrou o vídeo original para confirmar a data da publicação.

Cortiz afirma que o edital que ela tinha em mãos possuía, sim, a indicação de que o TSE entregaria o código-fonte das urnas eletrônicas à empresa vencedora da licitação. Já Rezende repete a posição que ele tinha na época: por mais que não estava expressa na licitação essa entrega, a Smartmatic poderia ter recebido essa informação. Aos Fatos entrou em contato com os três via e-mail, mas não recebeu resposta.

A mesma peça de desinformação circulou nas redes sociais durante as eleições de 2018, quando foi desmentida pelo Aos Fatos. Naquela época, publicações nas redes sugeriam que o TSE teria entregue o código-fonte a “venezuelanos”, uma vez que alguns dos fundadores da Smartmatic são da Venezuela. A empresa, no entanto, afirma ser britânica e não ter participação de nenhum governo.

Referências:

1. Convergência Digital
2. Justiça Eleitoral
3. STF
4. Canal My News
5. TSE
6. Brunazo
7. Folha de S.Paulo
8. Observatório da Imprensa
9. Aos Fatos
10. Smartmatic


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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