Não tem fundamento científico o teste que promete detectar a presença do metanol em bebidas alcoólicas com o uso de uma fatia de pão. Especialistas consultados pelo Aos Fatos negaram que o procedimento seja eficaz. Não há atualmente testes caseiros que permitam identificar a presença da substância em alimentos e bebidas.
As peças de desinformação acumulavam centenas de compartilhamentos no Facebook e no X até a tarde desta segunda-feira (13).
Vou jogar um pouquinho [de uísque sobre uma fatia de pão de forma] pra ver se tem sucesso (...) Olha lá, tá ficando preto. Tá ficando preto. [Se o pão] Ficar preto [a bebida] é falso. Se ficar transparente, é verdadeiro.

Posts nas redes têm compartilhado um vídeo que mostra um grupo de jovens fazendo um suposto teste para detectar a presença de metanol em uma garrafa de uísque usando uma fatia de pão de forma. Especialistas em química analisaram o vídeo a pedido do Aos Fatos e afirmaram que o método não identifica a presença do composto tóxico.
O professor Thiago Carita Correra, do Departamento de Química Fundamental da USP (Universidade de São Paulo), e o analista químico do CFQ (Conselho Federal da Química), Siddhartha Giese, afirmaram que o procedimento não tem fundamento científico e que não existem testes caseiros confiáveis para essa finalidade.
Segundo Giese, o metanol e o etanol não possuem grupos funcionais capazes de reagir com carboidratos, proteínas ou lipídios presentes no pão para formar compostos escuros nas condições mostradas no vídeo. “Em outras palavras, derramar metanol sobre pão apenas o deixaria molhado”, explica.
Eliane Jung, chefe da Divisão de Química e Biotecnologia do INT (Instituto Nacional de Tecnologia), também afirmou ao Aos Fatos que o teste é falso, porque não há nenhum tipo de reação causada pela combinação entre o metanol e o pão.
As análises para detectar a presença do composto tóxico em bebidas e combustíveis são feitas em laboratório, por meio de cromatógrafos, como explica o químico Bruno Bittar.
“Neles, as amostras são vaporizadas e passadas por um tubo em que o material interage com as substâncias presentes na amostra. A depender das características, elas ficam mais ou menos retidas nesse material, saindo do tubo em tempos diferentes. Dependendo do tempo, a gente consegue saber qual é a substância ”, explica Bittar.
Giese também ressaltou que métodos como aquecer a bebida, observar mudanças de cor ou reações com alimentos não distinguem quimicamente o etanol do metanol. “Além disso, podem gerar interpretações erradas e criar um falso senso de segurança, colocando a saúde em risco”.
Em reportagem anterior, Aos Fatos mostrou que golpistas estão vendendo falsos testes para detecção doméstica de metanol em bebidas. Em outras verificações sobre a crise, também desmentimos supostos casos de contaminação por metanol em bebidas não alcoólicas, como café, leite e água mineral.
O caminho da apuração
Aos Fatos consultou especialistas em química para esclarecer se o método apresentado no vídeo tinha fundamento científico. Foram entrevistados o analista químico do Conselho Federal de Química Siddhartha Giese, o químico Bruno Bittar, o professor da USP Thiago Carita Correra e a chefe da Divisão de Química e Biotecnologia do INT, Eliane Jung.
Os especialistas explicaram, com base em princípios químicos, como são feitos os testes laboratoriais para a detecção de metanol e por que não há métodos caseiros confiáveis para esse fim.




