Não é verdade que o TCU (Tribunal de Contas da União) publicou um relatório em que afirma que 50% das mortes atribuídas à Covid-19 em 2020 no país não foram causadas pela doença. Segundo a corte, a alegação disseminada pelo presidente Jair Bolsonaro e reproduzida nas redes (veja aqui) é baseada na análise pessoal de um servidor que foi afastado e não tem respaldo nos dados oficiais de fiscalizações e auditorias do órgão. O documento sugere, sem apresentar evidências, que houve supernotificação de óbitos.
Postagens no Facebook com a informação enganosa reuniam ao menos 2.568 compartilhamentos nesta quinta-feira (10) e foram marcadas com o selo FALSO da ferramenta de verificação da rede social (veja como funciona).
URGENTE: relatório do Tribunal de Contas da União, aponta que, do total de mortes registrados em 2020 no país, como Covid-19 — 50% dos óbitos NÃO ERAM COVID-19. FRAUDEMIA!!!
É falso que o TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu em relatório que, do total de mortes atribuídas à Covid-19 no ano passado, metade não foi causada pela doença. Segundo a corte, as alegações que circulam nas redes sociais foram baseadas em um documento que é "uma análise pessoal de um servidor do tribunal compartilhada para discussão" e que "não consta de quaisquer processos oficiais desta casa, seja como informações de suporte, relatório de auditoria ou manifestação do tribunal".
Ainda de acordo com o TCU, as informações da análise do servidor, já afastado de suas funções, não encontram respaldo nas fiscalizações executadas pelo órgão. No documento, o auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques sugere, sem apresentar evidências, que os estados podem estar supernotificando as mortes para receber verbas do governo federal. Esta narrativa enganosa ganhou força no ano passado entre bolsonaristas, tendo sido desmentida por Aos Fatos em algumas ocasiões (veja exemplos aqui, aqui, aqui).
O documento ganhou visibilidade após Jair Bolsonaro citá-lo nesta segunda-feira (7) como se fosse um relatório oficial do TCU. No mesmo dia, no Twitter, o tribunal desmentiu o presidente, que se corrigiu apenas na terça-feira (8). Mesmo assim, a versão falsa permaneceu nas redes, e ganhou força com posts como o de Alan Lopes, bolsonarista e ex-candidato a vereador pelo PSD no Rio de Janeiro. Procurado, ele não se manifestou.
Na realidade, as principais estimativas divulgadas até agora por cientistas indicam um cenário inverso, com subnotificação de casos e mortes pela doença no país. Em maio, pesquisadores do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington (EUA) usaram modelos matemáticos com base nos indicadores de óbitos por causas naturais para estimar que o Brasil já pode ter superado 600 mil óbitos por Covid-19.
Antes disso, em fevereiro, pesquisadores brasileiros apontaram que o aumento excessivo de mortes em Manaus (AM), Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) poderia indicar que os números de mortes pela doença podem ser maiores do que os oficiais.
O Brasil registra atualmente 479.515 mortes pela doença, de acordo com dados colhidos na plataforma do Ministério da Saúde na tarde desta quinta-feira (10).
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