O fato de a Pfizer ter exigido dos voluntários o uso de métodos contraceptivos durante o período de testes com a vacina contra a Covid-19 não significa que o imunizante cause má-formação a fetos, como alegam publicações na internet (veja aqui). A exigência, que consta no protocolo da empresa para participantes dos ensaios clínicos, é comum em pesquisas de vacinas e medicamentos que não preveem a participação de gestantes.
Segundo a Pfizer, embora os dados não indiquem riscos ou danos à gravidez, atualmente não há evidências suficientes para recomendar o uso da vacina em mulheres grávidas. De acordo com especialista ouvida pelo Aos Fatos, a técnica aplicada nesta vacina não seria capaz de causar mutações genéticas, conforme sustentam as peças de desinformação.
As postagens enganosas contavam com ao menos 8.913 compartilhamentos nesta sexta-feira (8) no Facebook e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (saiba como funciona).
Pfizer informa que vacina traz risco para nascimento de crianças com má formação
Publicações na internet enganam ao dizer que a Pfizer informou que sua vacina contra a Covid-19 traz risco de má-formação em bebês. Na realidade, o protocolo de orientações para os voluntários dos estudos clínicos da vacina recomenda o uso de métodos contraceptivos, além de avaliação para diminuir o risco da inclusão de alguém no início de uma gravidez não diagnosticada. Em nota, a Pfizer afirmou que esse tipo de recomendação existe em qualquer estudo clínico que não prevê a participação de gestantes.
De acordo com a farmacêutica, as medidas são direcionadas a todos os participantes em idade reprodutiva para evitar que eventualmente um feto sofra algum efeito que um medicamento ou uma vacina em estudo possam causar, desde a sua formação.
A microbiologista e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Laura de Freitas endossa o que diz a Pfizer. Segundo ela, gestantes só participam dos testes quando o objeto de pesquisa é produzido especialmente para elas. A microbiologista comentou ainda que os efeitos adversos de vacinas, incluindo a da Pfizer, não incluem malformações.
“O RNA mensageiro dura o tempo exato de entregar a mensagem para fabricar a proteína. A gente só tem como provocar alterações no organismo se você mexer no DNA. Então, não tem como uma vacina de RNA provocar essas alterações porque ele vai sumir”, explica.
Na nota enviada, a Pfizer afirma ainda que, embora os dados disponíveis não indiquem riscos de segurança ou danos à gravidez, "atualmente não há evidências suficientes para recomendar o uso de vacinas contra a Covid-19 durante a gestação”. Entretanto, a FDA (Food and Drug Administration, agência reguladora de medicamentos e alimentos dos EUA) afirma que não há contraindicações e que quem estiver grávida ou amamentando deve discutir com o médico os potenciais benefícios e riscos da vacinação.
Os resultados da Pfizer publicados em novembro e dezembro de 2020 em duas revistas científicas apontam que os principais eventos adversos do imunizante contra Covid-19 foram dor no local da injeção, fadiga, dor de cabeça e dor muscular.
As peças de desinformação também usam um documento de orientação de vacinação para profissionais de saúde do Reino Unido para dizer que se uma pessoa vacinada tomar qualquer remédio comum pode ter um efeito desconhecido e que a Pfizer não sabe se a vacina trará infertilidade.
Na verdade, o documento afirma, no tópico 4.5, que não foram realizados estudos de interação medicamentosa e orienta a não misturar a vacina de mRNA com outras vacinas ou produtos na mesma seringa. Por fim, no ponto 4.6, é dito que os estudos em animais não indicam efeitos prejudiciais diretos ou indiretos no que diz respeito à toxicidade reprodutiva.
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