🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Abril de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que pandemia de Covid-19 só reduziu tráfego aéreo no Brasil e no continente africano

Por Luiz Fernando Menezes

14 de abril de 2020, 18h04

Não é verdade que a pandemia de Covid-19 só reduziu o tráfego aéreo do Brasil e do continente africano, segundo afirmam publicações nas redes sociais (veja aqui). Um mapa compartilhado por esses posts, extraído do site RadarBox em abril deste ano, não prova que o número de voos permanece igual no restante do mundo, pois a movimentação de aviões é sempre maior na América do Norte e na Europa do que na América do Sul e na África.

Disseminada via WhatsApp, a hipótese enganosa foi amplificada nas redes sociais por Olavo de Carvalho que, no Facebook, disse que o Brasil estava sendo “feito de trouxa” ao endossar políticas de isolamento social contra o novo coronavírus. As publicações foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação desta última plataforma (saiba como funciona).


FALSO

Vejam o movimento real de aviões no mundo neste preciso momento. Por toda parte, MOVIMENTO NORMAL. SÓ O BRASIL E A ÁFRICA BLOQUEADOS. Alguém ainda tem dúvida de que estão nos fazendo de trouxas?

Fora de contexto, um mapa do tráfego aéreo mundial extraído do site RadarBox tem sido compartilhado nas redes sociais como prova de que a Covid-19 só reduziu o número de voos no Brasil e no continente africano, permanecendo igual nas outras regiões do mundo. Porém, informações reunidas por Aos Fatos e a própria empresa que faz o diagrama demonstram que a diminuição foi generalizada em termos proporcionais. Ou seja, ainda que em menor quantidade por conta da pandemia, a movimentação de aviões na América do Norte, na Ásia e na Europa permanece superior à da América do Sul e da África.

Segundo informou a RadarBox, “houve uma grande redução [de voos] em todo o mundo”. A empresa diz ainda que o diagrama geralmente é muito mais coberto de aviões na Europa e na Ásia, por exemplo. A RadarBox, após o contato com o Aos Fatos, publicou um vídeo comparando o tráfego aéreo brasileiro nos dias 9 de março e 9 de abril deste ano:

Veja, abaixo, comparações que a RadarBox produziu sobre o tráfego aéreo norte-americano e europeu antes e durante a pandemia.

A redução de voos comerciais no mundo entre 9 e 14 de abril de 2020 foi de 78% em comparação ao mesmo período do ano passado, ainda segundo a RadarBox.

A FlightRadar24, outra empresa que reúne dados internacionais de tráfego aéreo, enviou ao Aos Fatos três mapas que comprovam a expressiva redução da movimentação de aviões comerciais mundialmente antes e durante a pandemia.

Dados também comprovam que, independentemente da pandemia, os fluxos de aeronaves comerciais no Brasil e no continente africano sempre estiveram abaixo dos de outras regiões do planeta. Segundo a OACI (Organização da Aviação Civil Internacional), em 2018, América Latina e Caribe representavam 6,6% de todos os voos domésticos e 4,3% dos internacionais no mundo. Já a África possuía apenas 1% e 2,8%, respectivamente. Por outro lado, a América do Norte detinha 39% dos voos domésticos e 12% dos internacionais.

O WATS 2019 (World Air Transport Statistics, produzido pela Associação Internacional de Transportes Aéreos), com dados de 2018, traz informações similares. Apesar de ter sido o país com maior número de passageiros (93,2 milhões) da América do Sul, o Brasil ficou abaixo dos Estados Unidos (796,8 milhões) e do Reino Unido (251,3 milhões), por exemplo.

Por fim, não há qualquer evidência de que países tenham deliberadamente restringido voos para o Brasil ou nações africanas em razão da pandemia do novo coronavírus. Tais proibições não constam em levantamento ATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos) de medidas adotadas mundialmente no setor.

Aos Fatos identificou que esta desinformação circula em mensagem de WhatsApp pelo menos desde segunda-feira (13), uma vez que já havia discussões sobre a peça no Reddit naquele dia. Ainda na noite de ontem ela foi amplificada por Olavo de Carvaho em uma publicação no Facebook. Procurado, o escritor não se manifestou até a publicação desta checagem.

Referências:

1. RadarBox (Fontes 1, 2 e 3)
2. ICAO
3. IATA (Fontes 1 e 2)


Esta checagem foi atualizada às 15h55 do dia 15 de abril de 2020 para acrescentar um vídeo produzido pela RadarBox que compara o tráfego aéreo brasileiro.

De acordo com nossos esforços para alcançar mais pessoas com informação verificada, Aos Fatos libera esta reportagem para livre republicação com atribuição de crédito e link para este site.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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