🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Março de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que não há internados com Covid-19 em Búzios por causa de 'tratamento precoce'

Por Priscila Pacheco

18 de março de 2021, 18h05

Publicações nas redes sociais afirmam que Búzios (RJ) adotou o chamado “tratamento precoce” contra Covid-19 e zerou as internações de pacientes com a infecção (veja aqui). No entanto, o painel de dados da prefeitura indica que há leitos ocupados, e não existem estudos científicos sólidos que atestem a eficácia de drogas para prevenir ou tratar precocemente a Covid-19.

Em fevereiro, a cidade passou oito dias sem nenhuma internação em decorrência da doença. Na ocasião, o prefeito Alexandre Martins (Republicanos) disse que Búzios não havia adotado nenhum protocolo de "tratamento precoce" com medicamentos e atribuiu a desocupação de leitos a medidas como triagem rápida de pacientes, instalação de barreiras sanitárias, campanhas de conscientização e fiscalização nas ruas e estabelecimentos.

As postagens enganosas contam com ao menos 13.811 compartilhamentos no Facebook nesta quinta-feira (18) e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da plataforma ‌(‌saiba‌ ‌como‌ ‌funciona‌).


Búzios aposta em diagnóstico e tratamento precoce e zera internações

Não é verdade que Búzios (RJ) tenha “zerado” as internações de pacientes com Covid-19 devido à adoção do chamado “tratamento precoce”, como dizem postagens nas redes. Não só o painel de dados da prefeitura indica que há leitos ocupados, como o prefeito Alexandre Martins (Republicanos) esclareceu recentemente que não há protocolo oficial para uso de medicamentos contra a doença na cidade. Os estudos científicos mais sólidos feitos desde o começo da pandemia também não atestam a eficácia de drogas para prevenir ou tratar precocemente a infecção.

O painel de monitoramento da Prefeitura de Búzios mostra que em nenhum dia de março as internações foram “zeradas” na cidade. Dados desta quinta-feira (18), por exemplo, indicam que 14 leitos estão ocupados por pacientes com Covid-19.

Os dados do painel mostram que, durante oito dias de fevereiro (1º, 15, 16, 17, 21, 23, 24 e 25) e um dia de janeiro (31), de fato não houve internações por Covid-19 em Búzios. Mas, quando questionado em entrevista ao Portal RC24h no dia 25 de fevereiro se a ausência de internações estaria relacionada a algum "tratamento precoce", o prefeito negou.

Segundo Martins, a cidade não adota oficialmente nenhum protocolo de uso de medicamentos para tratar precocemente a Covid. "Quando se fala em tratamento precoce não é o medicamento, mas o atendimento precoce, já que é uma doença que evolui rápido. Aliás, não tenho visto nenhum médico daqui indicar cloroquina", disse.

O prefeito atribuiu o baixo volume de internações a um conjunto de medidas que a cidade adotou para tentar conter a disseminação do vírus, tais como a triagem rápida de casos suspeitos e a instalação de barreiras sanitárias na entrada da cidade. No dia 11 de março, novo decreto municipal determinou que as ações devem continuar por mais 30 dias.

Desinformação. Publicações enganosas que relacionam ausência de internações por Covid-19 à adoção de "tratamento precoce" contra a doença têm circulado nos últimos dias nas redes sociais. Na última quarta-feira (18), o Aos Fatos checou esse tipo de desinformação associada à cidade de São Lourenço (MG). No entanto, a desocupação de leitos não comprova que o uso de algum medicamento funciona contra a infecção.

De acordo com Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e pesquisadora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a eficácia de qualquer remédio deve ser avaliada com rigor científico por meio de ensaios clínicos grandes, controlados, randomizados e cegos para eliminar o máximo de influências que possam interferir no resultado.

"Esses estudos devem ser bem conduzidos para gerar evidências com boa qualidade, respaldadas por uma boa metodologia e análise", disse a pesquisadora.

Conforme Aos Fatos já mostrou em checagens anteriores, estudos mais robustos publicados até o momento não encontraram benefícios de drogas como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, comumente citadas por defensores do “tratamento precoce”.

Referências:

1. Aos Fatos (Fontes 1, 2 e 3)
2. Prefeitura de Búzios (Fontes 1 e 2)
3. Portal RC24h


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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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