Não é verdade que o ministro Luiz Fux acusou seus colegas da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) de tentarem “implementar uma ditadura” durante o julgamento de Jair Bolsonaro (PL). A cena viral teve o áudio e a imagem manipulados por IA (inteligência artificial). O magistrado não fez nenhuma acusação similar ao longo das sessões que condenaram Bolsonaro e outros sete réus pela trama golpista.
Publicações nas redes com o conteúdo adulterado acumulavam 1,5 milhão de visualizações no TikTok, 30 mil visualizações no Kwai e 1.500 compartilhamentos no Facebook até a tarde desta sexta-feira (12).
Todos que aqui votarem pela condenação do réu [Jair Bolsonaro] estão claramente tentando implementar uma ditadura neste país. Eu vejo claramente o que está acontecendo neste tribunal. Alguns colegas, especialmente Vossa Excelência, Alexandre de Moraes, parecem mais interessados em perseguir Jair Bolsonaro do que em cumprir a lei.

Posts nas redes têm compartilhado um vídeo gerado por IA para alegar que Fux teria acusado seus colegas da Primeira Turma do STF de tentar “implementar uma ditadura no país”. O magistrado não fez nenhuma alegação similar ao longo da leitura do seu voto, na última quarta-feira (10), ou durante as demais sessões que analisaram o caso de Bolsonaro e de outros sete réus por tentativa de golpe de Estado.
A reportagem do Aos Fatos usou a ferramenta Escriba para transcrever todo o voto do ministro (veja aqui e aqui), que durou cerca de 13 horas, além das demais sessões que analisaram o caso de Bolsonaro, ocorridas nos dias 2 (aqui e aqui), 3 (aqui), 9 (aqui e aqui) e 11 (aqui) de setembro, e constatou que em nenhum momento Fux proferiu as acusações disseminadas pelas peças de desinformação.
Além disso, há uma série de indícios que apontam que a cena compartilhada pelos posts enganosos foi manipulada por IA:
- O ministro fala com tom de voz artificial e inexpressivo;
- Seu ritmo de fala é mais acelerado do que o normal;
- Também é possível verificar uma distorção nas imagens em determinado momento do vídeo, em que a boca de Fux aparece sobreposta a uma de suas mãos (veja abaixo).

Por meio da análise das imagens do julgamento, Aos Fatos verificou que o registro que baseou os posts enganosos foi retirado de um momento em que Fux mencionou a discussão sobre a devolução de bens adquiridos com dinheiro ilícito durante seu voto, na última quarta (veja abaixo). Na ocasião, o magistrado não fez qualquer menção à atuação de seus colegas.

Jair Bolsonaro e outros sete réus foram condenados na última quinta-feira (11) pela Primeira Turma do STF por tentativa de golpe de Estado e outros crimes. A expectativa é de que a prisão do ex-presidente Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão, e dos demais réus deve acontecer apenas ao final de todas as possibilidades de recurso.
Esta peça de desinformação também foi verificada pelo Fato ou Fake.
O caminho da apuração
Fizemos a transcrição no Escriba dos dois vídeos correspondentes ao voto do ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux e buscamos por frases como “implementar uma ditadura” e “interessados em perseguir” — que aparecem no vídeo enganoso. Não foram constatadas menções às frases. O Aos Fatos também analisou a imagem usada nas peças enganosas e identificou indícios comuns a conteúdos manipulados digitalmente, como voz artificial e falhas na imagem.




