🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que fazer exercício usando máscara leve à falta de oxigênio no organismo

Por Bernardo Barbosa

15 de setembro de 2020, 16h21

Não é verdade que o uso de máscaras de proteção facial durante exercícios físicos leve à falta de oxigênio no corpo, como diz um vídeo que circula nas redes sociais (veja aqui). Especialistas de diferentes campos da medicina já desmentiram em diversas ocasiões que as máscaras sejam prejudiciais à respiração.

No vídeo checado pelo Aos Fatos, um homem faz a alegação falsa depois de inserir uma mangueira de plástico entre a máscara e o rosto, conectada a um detector de gases, dizendo que desta forma estaria medindo a quantidade de oxigênio disponível naquele espaço.

Em pouco mais de um mês, um dos posts com a peça de desinformação foi compartilhado mais de 70 mil vezes no Facebook. As publicações com o vídeo foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da última rede social (entenda como funciona).


FALSO

Imagine eu correndo [de máscara] com esse equipamento. Significa que a quantidade de ar que eu estou inalando é insuficiente. Eu posso ter tontura, ter um mal estar, vou entrar num procedimento chamado de hipóxia, que é a diminuição de oxigênio.

É falso que o uso de máscara durante a realização de exercícios físicos torne insuficiente a quantidade de oxigênio disponível para a respiração, como diz um vídeo que circula em diversos posts no Facebook pelo menos desde agosto. Médicos de diversas áreas já refutaram esta hipótese em diversas ocasiões, esclarecendo que eventuais desconfortos decorrentes do uso da máscara não são sinônimos de falta de oxigênio.

No vídeo checado pelo Aos Fatos, um homem faz a alegação falsa depois de usar o que parece ser um detector de gases para medir a quantidade de oxigênio no espaço entre o rosto e a máscara. “Eu faço corrida, algum tipo de atividade física, e as pessoas falam: corre de máscara. Sei lá se é legal correr de máscara, porque eu estou inalando o mesmo ar que eu estou colocando para fora”, afirma ele.

O homem insere uma mangueira conectada ao aparelho no espaço entre a máscara e o rosto. Em seguida, o aparelho começa a apitar, o que sinalizaria que a quantidade de oxigênio ali estaria abaixo do necessário.

“Imagine eu correndo com esse equipamento. Significa que a quantidade de ar que eu estou inalando é insuficiente. Eu posso ter tontura, ter um mal estar, vou entrar num procedimento chamado de hipóxia, que é a diminuição de oxigênio”, afirma o homem.

Em um informe divulgado em junho deste ano, a SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte) esclarece que a hipótese de falta de oxigênio com o uso de máscara durante a realização de exercícios físicos não tem fundamento.

Segundo a entidade, apesar de a máscara ser “uma relativa barreira para a respiração”, a troca de gases na inspiração e expiração ⏤ a entrada de oxigênio e a saída de gás carbônico ⏤ ocorre normalmente. A SBMEE explica também que uma eventual retenção de gás carbônico entre a máscara e o rosto é “pequena e insuficiente para provocar um desequilíbrio importante no processo de trocas gasosas pulmonares”.

“Em resumo, a máscara pode trazer certo desconforto respiratório e relativa perda de rendimento (...), mas não coloca em risco a saúde do usuário que deseja praticar exercícios físicos”, diz a SBMEE.

Tipo de máscara. Os informes da organização médica também abordam o impacto na respiração durante exercícios físicos de acordo com o tipo de máscara usado. Segundo a SBMEE, o desconforto na respiração “pode variar conforme o material usado na confecção da máscara (de modo geral, quanto mais espesso, maior a dificuldade).”

Em informe publicado em julho, a entidade diz que “geralmente, máscaras muito finas facilitam a respiração, mas seu efeito protetor tende a ser mais baixo.” Veja o que o documento diz sobre diferentes tipos de máscaras:

  • Máscaras de TNT: segundo a SBMEE, “máscaras de TNT de qualidade têm boa filtragem e respirabilidade, mas são descartáveis, não podendo ser reutilizadas.”

  • Neoprene: “têm a vantagem de serem laváveis e impermeáveis, também podem oferecer boa proteção, mas com nível de respirabilidade comparativamente bem mais baixo”.

  • Algodão: “são laváveis, mas molham com mais facilidade durante o exercício, tendo índices de proteção mais baixos que as anteriores, além de respirabilidade menor que as de TNT, dependendo de suas camadas e espessura.”

  • Máscaras hospitalares, como a N95: “possuem o maior poder de filtragem, mas com respirabilidade também considerada baixa”.

“No momento, o mais importante é tentar encontrar máscaras com as quais o praticante venha a se adaptar adequadamente, mas que tenham o melhor equilíbrio entre proteção (filtragem) e respirabilidade”, diz a associação.

Ainda de acordo com a SBMEE, o uso de máscaras durante exercícios físicos podem gerar cansaço mais precoce, o que é mais evidente “em períodos maiores que 1 hora de duração e intensidades altas.” A entidade também afirma que “os estudos sobre esse assunto geralmente usam máscaras N95, de uso hospitalar e consideradas de pouca respirabilidade para serem adotadas no exercício.”

A Organização Mundial de Saúde (OMS) orienta as pessoas a não usarem máscaras durante a realização de exercícios físicos, dizendo que o equipamento pode causar desconforto na hora de respirar. No entanto, a OMS não diz que o uso de máscaras diminui a quantidade de oxigênio disponível para a respiração.

O uso de máscaras é recomendado pela OMS e pelo Ministério da Saúde como medida para conter o contágio da Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Até a noite de segunda-feira (14), a doença já havia deixado 132.006 mortos só no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

O Aos Fatos já fez mais de uma checagem esclarecendo que o uso de máscaras não prejudica a respiração.

Em junho, especialistas explicaram que o uso de máscaras não impede a oxigenação dos pulmões, não causa intoxicação e não provoca a acidificação do sangue (hipercapnia).

Em maio, médicos desmentiram que o uso prolongado de máscaras provocaria hipóxia, ou seja, insuficiência de oxigênio no sangue. A hipóxia é causada por doenças, como anemia muito grave ou pneumonia avançada.

Aparelho. No vídeo checado, o homem que faz a alegação falsa aparentemente utiliza um detector de gases do modelo BW Max XT II, da empresa Honeywell. De acordo com informações disponíveis no site da companhia, o equipamento monitora oxigênio, monóxido de carbono, sulfeto de hidrogênio e gases combustíveis.

Segundo o engenheiro Eduardo Belarmino, diretor da Abresst (Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança do Trabalho), o detector foi projetado para medições em locais mais amplos do que o pequeno espaço entre a máscara e o rosto. Assim, o monitoramento da oxigenação no interior da máscara deveria seguir “um procedimento adequado onde é considerada a vazão de coleta”, explicou Belarmino por e-mail.

No caso mostrado no vídeo, o uso de uma mangueira projetada para coletar gases em ambientes mais amplos que o interior de uma máscara “não será adequado, uma vez que a vazão de sucção será muito maior e consequentemente ‘faltará’, no caso em discussão, o oxigênio.”

O Aos Fatos tenta contato desde sexta-feira (11) com a Honeywell, tanto com representantes da empresa no Brasil como no exterior, para saber se o aparelho foi usado de forma correta no vídeo, mas não obteve resposta até o momento.

Referências:

1. SBMEE (1 e 2)
2. OMS (1 e 2)
3. Ministério da Saúde (1 e 2)
4. Aos Fatos (1, 2 e 3)
5. Honeywell (1)


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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