É falso que um estudo japonês identificou nanopartículas de mRNA (RNA mensageiro) no organismo de pessoas que tomaram a vacina da Pfizer, que utiliza esta tecnologia. Na realidade, a pesquisa citada em artigo do site Estudos Nacionais (veja aqui) não foi feita com humanos vacinados, mas em células in vitro (em laboratório) e animais. A análise foi concluída pelos fabricantes antes do início dos ensaios clínicos com o imunizante e, segundo especialistas ouvidos por Aos Fatos, seria uma etapa comum quando se avaliam novas medicações.
Postagens no Facebook com o artigo reuniam com ao menos 4.800 compartilhamentos até a tarde desta terça-feira (8) e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da plataforma (saiba como funciona).
Não é verdade que japoneses encontraram nanopartículas de mRNA (RNA mensageiro) em diversos órgãos de pessoas que tomaram a vacina da Pfizer, que utiliza esta tecnologia, como alega o site Estudos Nacionais. O estudo a que o artigo se refere foi produzido pelos fabricantes do imunizante com células in vitro (em laboratório) do fígado humano e animais, antes mesmo dos ensaios clínicos em voluntários.
Apesar de constar na página da PMDA — órgão regulatório japonês equivalente à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) —, não é possível atestar se a pesquisa foi feita somente no Japão. A análise também pode ser encontrada no relatório da EMA (Agência Europeia de Medicamentos) que embasou a permissão do uso do imunizante na União Europeia, em dezembro do ano passado.
As nanopartículas lipídicas que foram estudadas são responsáveis por entregar o material genético (mRNA) do SARS-CoV-2 para as células do corpo produzirem uma proteína do vírus e, assim, fazer com que o sistema imunológico crie defesas contra a Covid-19. Na tecnologia adotada pela Pfizer, o mRNA é envolto por essas nanopartículas lipídicas, que se assemelham às desenvolvidas naturalmente pelo corpo humano.
Este tipo de estudo é uma etapa usual ao se avaliar novas medicações, de acordo com Ana Paula Hermann, professora de farmacologia do ICBS/UFRGS (Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul): "a análise descreve apenas o trajeto das nanopartículas, do envoltório da vacina, nada além disso”.
Segundo o biomédico e microbiologista Mateus Falco da UEL (Universidade Estadual de Londrina), não existe relação entre a presença das nanopartículas e efeitos colaterais, como a infertilidade. “Esse estudo é uma etapa antes dos testes clínicos em humanos, quando se usam animais de laboratório para testar alguma particularidade da vacina ou medicamento e não tem relação direta com vacinas administradas em seres humanos”, explicou.
Mel Markoski, professora de Biossegurança da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), afirma que somente esta análise nem seria capaz de medir alterações genéticas no organismo humano ou problemas de fertilidade, como alegam as publicações checadas. “Com esse material ninguém pode dizer que essa biodistribuição experimental vai causar alteração nas gônadas, problemas de fertilidade ou que acontecerá da mesma forma em seres humanos. Tudo isso precisa ser refinado e estudado”, ressaltou.
Em nota, a Pfizer negou que tenham sido encontrados indícios de efeitos sobre a fertilidade dos animais usados em estudos pré-clínicos de desenvolvimento da vacina.
No relatório que avalizou o uso do imunizante da Pfizer, a EMA ressaltou que a análise do fabricante usou uma dosagem de nanopartículas de 300 a mil vezes maior do que a contida em uma vacina para humanos, e que, mesmo assim, não houve problemas de segurança. Estudos adicionais listados pela agência europeia de medicamentos também não encontraram danos ao sistema reprodutivo dos animais usados como cobaias.
Origem. Esta distorção do estudo foi iniciada em maio deste ano quando o imunologista canadense Byram Bridle alegou que o documento comprovaria que os imunizantes que usam tecnologia mRNA deixariam as mulheres jovens inférteis pelo acúmulo de nanopartículas nos ovários de animais, o que não pode ser atestado. As falas de Bridle passaram a ser impulsionadas por sites de extrema-direita nos EUA, como o Natural News.
O site Estudos Nacionais foi questionado por Aos Fatos por email sobre a veracidade das informações que apresentou no artigo. Em um primeiro momento, os representantes da página disseram apenas que o estudo existia, mas quando confrontados com as distorções identificadas na apuração da checagem, não responderam mais.
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