É falso que estudo de Harvard comprovou que hidroxicloroquina é eficaz contra Covid-19

Compartilhe

Não é verdade que um estudo da universidade Harvard, nos EUA, comprovou que a hidroxicloroquina é eficaz na prevenção à Covid-19, como afirmam nas redes (veja aqui). A análise não conclui que o medicamento funciona na profilaxia da doença, e ressalta que, para isso, mais pesquisas são necessárias. Os autores, entretanto, levantam hipótese de que estudos não realizados ou descontinuados poderiam ter atestado benefícios da droga.

Publicações com o conteúdo enganoso reuniam ao menos 5.700 compartilhamentos no Facebook nesta quinta-feira (18) e circulam também no Twitter.


Selo falso

Estudo de Harvard comprova eficácia da hidroxicloroquina para profilaxia da Covid-19

Posts enganam ao alegar que estudo de Harvard comprovou que hidroxicloroquina é eficaz contra Covid-19

Um estudo que conta com a participação de dois pesquisadores da universidade Harvard, e que foi publicado no periódico científico European Journal of Epidemiology neste mês, tem sido mencionado nas redes sociais dentro de uma alegação falsa de que teria comprovado a eficácia da hidroxicloroquina na prevenção à Covid-19. Na realidade, a análise concluiu que seriam necessárias mais pesquisas antes de atestar ou descartar a eficácia do remédio na profilaxia da doença.

De acordo com os autores da meta-análise — revisão que compila resultados de outros estudos —, a conclusão de ensaios clínicos que não foram realizados ou descontinuados poderia ter atestado benefícios da droga contra a Covid-19. A hipótese, que não pode ser comprovada com os dados disponíveis atualmente, seria relativa às análises que foram abandonadas após os primeiros estudos indicarem a ineficácia da hidroxicloroquina.

Foram considerados 11 estudos na meta-análise: sete que avaliaram o uso da hidroxicloroquina em pacientes antes da exposição (profilaxia pré-exposição) ao vírus SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, e quatro após o contato de pacientes com indivíduos infectados (profilaxia pós-exposição).

A análise do conjunto de estudos sobre o uso do fármaco como profilaxia pré-exposição estimou redução em 28% do risco de um paciente contrair a Covid-19. Isso, entretanto, não comprova a eficácia da droga, e sim aponta para a necessidade de estudos mais conclusivos sobre uma eventual ação preventiva.

Especialistas ouvidos por Aos Fatos reforçam ainda que a pesquisa apresenta problemas metodológicos. Leandro Tessler, professor do departamento de Física da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), criticou a seleção de estudos, que selecionou alguns trabalhos em pré-print — que ainda não foram revisados por outros cientistas.

“Foram utilizados artigos ruins como se fossem bons. E, ainda que fossem bons, os autores afirmam somente que os estudos [sobre a droga] deveriam ter continuado, não que a hidroxicloroquina funciona contra a Covid-19”, afirma Tessler.

O biólogo Airton Pereira e Silva, da UFF (Universidade Federal Fluminense), apontou que alguns trabalhos incluídos na lista de referências da meta-análise mencionam que a hidroxicloroquina foi utilizada com outros medicamentos, “o que invalida o discurso de que apenas o uso desta droga já teria um benefício”.

À Reuters, o professor de bioestatística e epidemiologia Miguel Hernán, um dos co-autores do estudo, negou que os artigos analisados sejam de baixa qualidade e disse que a meta-análise foi extremamente cautelosa.

Ineficácia. Ainda em 2020, a hidroxicloroquina foi excluída dos testes clínicos da OMS (Organização Mundial da Saúde), que não recomenda o uso profilático da droga contra a Covid-19, e do governo americano, por não apresentar resultados positivos.

A droga não resultou em benefícios na redução da mortalidade ou do tempo de internação em grandes estudos clínicos, como o Recovery Trial, realizado no Reino Unido com cerca de 1.500 pacientes.

Outros estudos também concluíram que a droga não tinha eficácia para profilaxia e no chamado “tratamento precoce”. Em fevereiro de 2021, uma meta-análise publicada pela Cochrane, entidade especializada em revisões sistemáticas de estudos, concluiu que a cloroquina e a hidroxicloroquina têm pouco ou nenhum efeito no risco de morte e pouco ou nenhum efeito na progressão para ventilação mecânica — tratamento utilizado quando indivíduos não conseguem respirar por conta própria.

Uma meta-análise publicada em abril do ano passado na revista Nature, que estudou dados de 28 testes clínicos feitos com a hidroxicloroquina e a cloroquina, concluiu que, além de ineficaz, o primeiro medicamento pode aumentar o risco de mortalidade de pacientes.

Outra metanálise publicada em outubro, em que foram analisados nove estudos relacionados ao uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19, não apontou diferenças significativas entre aqueles que tomaram ou não a hidroxicloroquina de maneira profilática.

Esta peça de desinformação também foi checada pelo Boatos.org, Lupa e Reuters.


Aos Fatos integra o Programa de Verificação de Fatos Independente da Meta. Veja aqui como funciona a parceria.

Compartilhe

Leia também

falsoVídeo antigo de Lula circula como se fosse resposta atual a Trump

Vídeo antigo de Lula circula como se fosse resposta atual a Trump

falsoPosts mentem ao afirmar que TCU aprovou impeachment de Lula

Posts mentem ao afirmar que TCU aprovou impeachment de Lula

Rede social que permitir posts criminosos pode ser responsabilizada, diz Ministério da Justiça

Rede social que permitir posts criminosos pode ser responsabilizada, diz Ministério da Justiça