É falso que emails revelam plano de Bill Gates e Mark Zuckerberg para criar coronavírus em laboratório

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Não é verdade que emails enviados e recebidos por Anthony Fauci, infectologista e conselheiro da Casa Branca no combate à Covid-19, provariam que o novo coronavírus foi criado em laboratório por obra de cientistas e empresários, como Bill Gates e Mark Zuckerberg, diferentemente do que afirma o ator Sandro Rocha em vídeo (veja aqui). As mensagens do médico reveladas pela imprensa americana não trazem indícios ou evidências da suposta conspiração nem de outras alegações falsas que aparecem na gravação, como a ineficácia de máscaras e um efeito magnético em vacinados.

Publicações com o vídeo enganoso somavam ao menos 88 mil compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quinta-feira (10) e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (veja como funciona).


Mais de 3.400 páginas de email, eu tenho todas, muita gente tem já, troca de e-mail entre laboratório de Wuhan, Anthony Fauci, Bill Gates, Mark Zuckerberg, agências de fact-checking, e outros agentes, virologistas, estão comprovados que esse vírus foi criado em laboratório...

Em vídeo que tem viralizado nas redes sociais, o ator Sandro Rocha aponta que emails enviados e recebidos pelo infectologista Anthony Fauci que foram divulgados pela imprensa americana comprovariam que o coronavírus foi criado em laboratório. Para Rocha, o plano envolveria o próprio Fauci, políticos, cientistas e empresários, entre eles Bill Gates e Mark Zuckerberg. Nada disso, entretanto, pode ser encontrado nas mensagens do conselheiro da Casa Branca no combate à Covid-19.

Após analisar milhares de emails de Anthony Fauci tornados públicos pelo site americano BuzzFeed no dia 2 de junho, Aos Fatos não encontrou nada que sustente as alegações feitas na peça de desinformação.

Na gravação, o ator diz que o fundador da Microsoft e o CEO do Facebook fariam parte de um grupo conspiratório que buscaria lucrar com a Covid-19. Segundo ele, em uma suposta troca de mensagens, Zuckerberg se ofereceria como um “censor” para “não deixar as pessoas conspirarem contra o plano”. As mensagens não indicam isso.

O executivo da rede social aparece em seis páginas dos documentos disponibilizados (242, 243, 1.700, 2.065, 2.066 e 2.067). Nelas, é possível identificar que Fauci e Zuckerberg apenas conversavam sobre pesquisas de vacinas e a possibilidade de se criar um centro de informações sobre o coronavírus no Facebook (veja abaixo).


Zuckerberg. Em março, o CEO do Facebook convidou Fauci para gravar um vídeo com informações sobre a pandemia, sem qualquer menção a ‘censuras’ ou ‘conspirações’.

Já Bill Gates é mencionado em cinco páginas do documento (960, 963, 966, 1.683 e 1.684), mas sequer há registro de mensagens trocadas entre ele e Fauci. O empresário é citado por outros pesquisadores em conversas sobre uma vacina contra a pólio.


Está comprovado que esse vírus foi criado em laboratório...

Também é falso que Anthony Fauci tenha afirmado que o novo coronavírus teria sido criado em laboratório. O termo “arma” (“weapon”, em inglês), aparece em onze páginas divulgadas, mas nenhuma delas faz referência ao Sars-CoV-2 como uma suposta arma biológica. Já a palavra “origem” aparece 19 vezes nas trocas de mensagens, mas em nenhuma das menções o infectologista afirma que o vírus foi criado artificialmente. Aos Fatos pesquisou ainda por outros termos relacionados, como "laboratório", e não obteve resultados que atestassem as alegações do vídeo.

Em uma troca de mensagens com Fauci, o pesquisador Kristian Andersen (página 3.187) disse estudar a origem do novo coronavírus. Depois, o cientista publicou um artigo na Nature Medicine no qual afirma não ser possível dizer que o Sars-CoV-2 teria sido criado em laboratório.

Em um outro email, um suposto virologista chamado Adam Gaertner (página 2.286) descreve uma longa e complexa sequência de diferentes proteínas, substâncias, e até mesmo partículas do vírus HIV, que após passarem por processos químicos consistiriam na suposta “fórmula” que teria levado à criação do Sars-Cov-2 em laboratório. Em nenhum momento, no entanto, Gartner apresenta fontes para embasar as informações.

Esta alegação já foi checada por Aos Fatos.


A máscara que você e eu utilizamos por um ano, danificando o nosso próprio organismo, ela nunca resolveu nada, mas não sou eu que tô dizendo, é o próprio email do Dr. Fauci com todo mundo...

Outra desinformação presente no vídeo é a de que Fauci teria dito que as máscaras seriam danosas à saúde e não protegeriam contra a Covid-19, o que é uma distorção da fala do infectologista. Ainda que, de fato, ele tenha dito em emails que os equipamentos não ofereciam proteção contra o novo coronavírus, essas alegações foram feitas em fevereiro de 2020, quando ainda não havia consenso científico sobre o assunto.

À época, a orientação era de que as máscaras deveriam ser prioritariamente utilizadas por médicos e infectados. Orientações sobre o uso de máscaras pela população em geral só seriam emitidas meses depois, pelo CDC (Centers for Disease Control, órgão de saúde do governo americano), em abril e pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em junho. “Se soubéssemos que os dados mostrariam que as máscaras fora do cenário hospitalar realmente funcionavam, nós teríamos feito algo diferente”, disse Fauci à CNN em 3 de junho.


Sabe o que tão falando pra você aí? Que tão chegando mais 80 milhões de um lixo pra você ingerir e colar em você mesmo. Que tá te transformando em um ímã ambulante.

Em outro trecho da gravação, o ator Sandro Rocha diz ainda que a “Jussara” — termo que utiliza para se referir às vacinas contra a Covid-19 — transforma as pessoas em “ímãs ambulantes”, o que é falso. Aos Fatos já checou uma peça sobre esse assunto e mostrou que essa alegação não tem base científica.

“O que torna algo um ímã ou não é como as moléculas estão organizadas dentro do material. No caso da vacina, como é um material líquido, as moléculas possuem orientações aleatórias, de forma que, em média, a propriedade magnética é nula”, afirmou Fernando Kokubun, professor de Física na FURG (Universidade Federal do Rio Grande), ao Aos Fatos.


Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com Sandro Rocha por email na tarde desta quinta-feira (10) . Ele confirmou a autoria do vídeo, mas afirmou que as informações foram retiradas de contexto e reproduzidas sem sua autorização. Posteriormente, o ator continuou sustentando as alegações sobre máscaras e pessoas “imantadas” com as vacinas.

A Agência Lupa também publicou uma checagem sobre o assunto.


De acordo com nossos esforços para alcançar mais pessoas com informação verificada, Aos Fatos libera esta reportagem para livre republicação com atribuição de crédito e link para este site.

Referências

  1. Aos Fatos (1, 2 e 3)
  2. Buzzfeed News (1 e 2)
  3. Nature
  4. NPR
  5. BBC
  6. CNN

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