Não é verdade que o preparo de alimentos em fritadeiras sem óleo, conhecidas como airfryers, é perigoso para a saúde. De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os equipamentos aprovados para comercialização no país foram submetidos a testes e não produzem nenhum tipo de substância tóxica. As alegações do vídeo que circula nas redes também foram desmentidas por especialistas procurados pelo Aos Fatos.
As peças de desinformação somavam 20 mil visualizações no TikTok e centenas de curtidas e compartilhamentos no Instagram e no Facebook até a tarde desta terça-feira (20).
Você está se envenenando a cada dia e não sabe. Primeiro que elas [airfryers] liberam vapores tóxicos durante o cozimento. Outro problema é o revestimento antiaderente que acaba se decompondo em altas temperaturas e ainda libera partículas nocivas no ar. Quando você coloca na airfryer uma batata, que é um carboidrato, em altas temperaturas esse carboidrato, ele glica, ou seja, ele vira como se fosse um caramelo, aumentando sua glicose e consequentemente dando picos de insulina. Também tem o problema dos fios da airfryer. Esses fios no aquecimento, eles liberam no próprio alimento um metal pesado chamado antimônio e ainda por cima, além do antimônio, pode liberar alumínio. Então gente, larga de preguiça, cozinhe no bom e velho fogão a gás, pode usar o fogão elétrico também, mas não usa airfryer não, tá?

Em vídeo que circula nas redes, a dentista Sandra Chagas dissemina uma série de mentiras sobre a segurança de fritadeiras elétricas sem óleo. Em nota, a Anvisa negou que o equipamento libere substâncias nocivas à saúde. Especialistas consultados pelo Aos Fatos também desmentiram outras alegações feitas pela dentista:
- As fritadeiras não aumentam a glicose ou provocam picos de insulina. A liberação da glicose é um processo comum em carboidratos e ocorre mesmo quando são consumidos crus;
- Também não é verdade que o fio elétrico dos equipamentos libere um metal que contamina os alimentos. Como a comida não tem qualquer contato com o fio, o risco não existe.
Toxicidade. Na gravação, Chagas diz que as fritadeiras liberam vapores tóxicos durante o cozimento e que o revestimento antiaderente se decompõe em altas temperaturas. Nada disso é verdade.
Segundo a Anvisa, somente substâncias comprovadamente seguras podem ser usadas para produzir equipamentos que têm contato direto com alimentos. Ainda segundo a agência, as empresas são responsáveis por realizar testes que comprovem que não há migração de substâncias tóxicas ou contaminantes.
Já o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) informou que as fritadeiras são regulamentadas e que há critérios e procedimentos de avaliação que garantem que esses e outros aparelhos eletrodomésticos são seguros.
O engenheiro de alimentos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Marcelo Cristianini também desmentiu a tese. “A airfryer, grosso modo, é um um forno elétrico pequeno com circulação de ar forçada. Mesmo com a resistência elétrica mais próxima, não vejo como o aparelho poderia liberar vapores tóxicos nos alimentos”.
A doutora em biociências e criadora do canal Nunca vi 1 cientista, Laura Marise, ressaltou ainda que o revestimento antiaderente é feito para resistir a altas temperaturas, como as alcançadas por fornos domésticos e pelas próprias fritadeiras, que normalmente chegam a 200°C.
Pico de glicose. Chagas também alega que as fritadeiras provocam o aumento da glicose e geram picos de insulina. Especialistas afirmam que a declaração não faz sentido.
“Alimentos ricos em carboidratos vão liberar glicose na digestão mesmo se forem comidos crus. Faz parte da composição deles. Qualquer comida gera picos de insulina. É para isso que a insulina serve: você come, o pâncreas libera insulina, e depois ela volta ao normal”, afirmou Laura Marise.
No vídeo, a dentista cita a batata como exemplo de alimento que se torna nocivo ao ser preparado na fritadeira. O professor de Engenharia de Alimentos da Universidade da Califórnia Bruno Carciofi explica que, no cozimento do tubérculo, ocorre na verdade a gelatinização, processo que facilita sua digestão posterior.
Em preparações de alimentos com temperaturas mais elevadas, como assados ou frituras, parte dos açúcares livres — como a glicose — pode passar pela caramelização, como ocorre com o açúcar ao ser transformado em calda. O processo não é danoso para a saúde em condições adequadas de cozimento.
O que não pode ocorrer, segundo o especialista, é o consumo de alimentos queimados, independentemente do aparelho utilizado, pois eles podem conter compostos potencialmente perigosos à saúde.
Antimônio. Ao fim da gravação, Chagas afirma que o aquecimento do fio elétrico das fritadeiras libera antimônio — metal que é adicionado a plásticos e borrachas para evitar que peguem fogo — e que isso contamina os alimentos.
Os especialistas consultados pelos Aos Fatos foram unânimes em dizer que a comida não tem contato com o fio do aparelho, e que, portanto, não há risco de contaminação.
Outro lado. Aos Fatos tentou contato com Sandra Chagas, mas não houve retorno até o momento da publicação desta checagem. O texto será atualizado caso haja resposta.
O caminho da apuração
Aos Fatos apurou as alegações feitas pela dentista junto à Anvisa, ao Inmetro e a especialistas em biociências, biomedicina e engenharia de alimentos.