É falso que auxílio-reclusão foi criado por Lula e que pode chegar a R$ 4.000

Compartilhe

O auxílio-reclusão, concedido a famílias de detentos de baixa renda, não foi criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e seu valor não varia de R$ 2.500 a R$4.000, como afirma vídeo que circula nas redes (veja aqui). O benefício, garantido pela lei desde 1960, atendeu 734 pessoas em fevereiro, com um valor médio de R$ 1.429.

O vídeo foi publicado originalmente no TikTok, onde acumula cerca de 100 mil visualizações. No Facebook, a gravação foi compartilhada centenas de vezes até a tarde desta terça-feira (12).


Selo falso

O cara que me assaltou, matou, vai preso, a família desse cara vai pegar auxílio-reclusão (...) Que pega cerca de R$ 2.500 a R$ 4.000. (...) Quem deu esse direito para eles? Aí ela vai estudar e vai saber que foi o próprio presidente que ela apoia [Lula] que criou essa lei pro vagabundo que matou o marido dela. E que o vagabundo tem a família que tá pegando R$ 2.500 a R$ 4.000

José do Brasil faz alegações enganosas sobre auxílio-reclusão

No vídeo checado, um homem que se apresenta como José do Brasil engana ao dizer que o auxílio-reclusão, benefício concedido a dependentes de presos em regime fechado que sejam de baixa renda e que tenham contribuído para a Previdência Social, foi criado pelo ex-presidente Lula e que paga entre R$ 2.500 e R$ 4.000 para qualquer detento.

O auxílio foi instituído em 1960 e assegurado pela Constituição de 1988, mas o direito já valia antes disso para algumas categorias. Em 1933, a legislação previdenciária de marítimos e bancários garantiu apoio financeiro às famílias desses profissionais em caso de detenção. O ex-presidente Lula governou o país de 2003 a 2010.

O benefício é restrito a contribuintes com rendimentos de até R$ 1.655,98, sem valor fixo. Segundo o último boletim estatístico da Previdência Social, 734 pessoas receberam em fevereiro de 2022 o auxílio, cujo valor médio foi de R$ 1.429. Para efeito de comparação, o último Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, realizado entre janeiro e julho de 2021, apontou que havia cerca de 332 mil presos em regime fechado no Brasil.

Para benefícios concedidos até novembro de 2019, o valor é calculado pela média aritmética das contribuições ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), excluídas as 20% menores. Após essa data, o auxílio passou a ser equiparado ao salário mínimo, que hoje está em R$ 1.212. A duração também varia de acordo com a situação conjugal e com a idade dos dependentes.


Selo falso

Saidinha é o direito que a justiça do Brasil criou para dar para os bandidos sair.

O autor do vídeo afirma ainda que a Justiça teria criado o direito à “saidinha” dos presos, o que também é falso. A saída temporária é prevista pela Lei de Execução Penal (Lei 7.210/1984), que foi proposta pelo governo do ex-presidente João Figueiredo, em 1983, durante a ditadura militar.

O benefício já estava previsto desde a redação inicial do projeto de lei, apresentada pelo Executivo. Segundo a carta enviada à Câmara dos Deputados pelo então ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel (à época filiado ao PDS), o dispositivo foi tido como “um considerável avanço penalógico”.

De acordo com o texto, presos em regime semi-aberto que não estão cumprindo pena por crime hediondo que resultou em morte podem sair temporariamente da prisão para visitar a família, frequentar um curso profissionalizante ou participar de atividades “que concorram para o retorno ao convívio social”.

Está previsto na Lei de Execução Penal que a autorização para a saída temporária é feita pelo juiz responsável pelo caso. Isso significa que ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) podem autorizar a saída de presos em casos que atuam, como aconteceu, por exemplo, com Alexandre de Moraes, que ordenou a prisão de Roberto Jefferson (PTB).


Selo falso

Mas o que é a justiça? É o STF. Aí ela vai começar a estudar sobre o STF. Aí ela vai ver que os ministros do STF, quem colocou eles lá dentro, que liberou o bandido que liberou o marido dela, foi o próprio presidente que ela defende [Lula].

Por fim, o autor do vídeo erra ao dizer que os atuais ministros do STF teriam sido todos escolhidos por Lula. Atualmente, três dos 11 magistrados foram indicados pelo petista: Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Dias Toffoli.

Gilmar Mendes, atual decano, foi indicado por Fernando Henrique Cardoso. Já Luiz Fux, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin foram os escolhidos de Dilma Rousseff (PT). Alexandre de Moraes foi indicado por Michel Temer (MDB). O presidente Jair Bolsonaro (PL) escolheu os ministros Nunes Marques e André Mendonça.

Origem. O homem que aparece no vídeo se apresenta como José do Brasil. Ele se candidatou a deputado estadual pelo DC (Democracia Cristã) em 2018, no Espírito Santo, e não se elegeu, tendo recebido 137 votos. A gravação foi publicada originalmente em seu perfil no TikTok no dia 27 de fevereiro, mas passou a ser compartilhada no Facebook e no WhatsApp no último final de semana. Contatado pelo email registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), José do Brasil não respondeu ao Aos Fatos.

Peças de desinformação que relacionam o auxílio-reclusão ao PT circulam nas redes sociais pelo menos desde 2018. Aos Fatos já desmentiu que o ministro da Economia, Paulo Guedes, teria anunciado o fim do benefício no início do governo Bolsonaro e que todos os presos recebem R$ 1.319,18 por mês.


Aos Fatos integra o Programa de Verificação de Fatos Independente da Meta. Veja aqui como funciona a parceria.

Referências

  1. Câmara dos Deputados (1, 2, 3 e 4)
  2. STF
  3. Jus.com.br
  4. Ministério do Trabalho e Previdência (1 e 2)
  5. Sisdepen
  6. Diário Oficial da União
  7. Planalto (1 e 2)
  8. Folha de S.Paulo
  9. Migalhas
  10. TSE
  11. G1
  12. Aos Fatos (1, 2 e 3)

Compartilhe

Leia também

Instagram impulsiona anúncio do jogo do bicho que pede dinheiro de rescisão trabalhista

Instagram impulsiona anúncio do jogo do bicho que pede dinheiro de rescisão trabalhista

falsoÉ falso que gastos de Janja somam R$ 63 milhões em dois anos

É falso que gastos de Janja somam R$ 63 milhões em dois anos

Exaltação à raiva masculina ressoa de subculturas ao mainstream na internet

Exaltação à raiva masculina ressoa de subculturas ao mainstream na internet