🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Maio de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que apoiadores de Bolsonaro tenham feito saudação nazista; gesto é religioso

Por Amanda Ribeiro

12 de maio de 2020, 18h25

Não é verdade que apoiadores de Jair Bolsonaro tenham cumprimentado o presidente com uma saudação nazista na porta do Palácio do Alvorada no dia 8 de maio, como afirmam postagens que circulam nas redes (veja aqui). A imagem exibida nas peças de desinformação foram extraídas de uma transmissão da CNN Brasil que mostra um grupo estendendo os braços para orar pelo presidente, um gesto conhecido como "imposição de mãos".

Publicado inicialmente pela Revista Fórum, que mais tarde alterou o texto para dizer que o gesto "lembra a saudação nazista", o conteúdo enganoso foi postado também pelo portal Brasil 247 e páginas no Facebook. As postagens, que acumulavam cerca de 1.400 compartilhamentos até a tarde desta terça-feira (12), foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de monitoramento da rede social (saiba como funciona).


FALSO

Apoiadores de Jair Bolsonaro não o cumprimentaram à porta do Palácio do Alvorada na última sexta-feira (8) com uma saudação nazista, como afirmam postagens nas redes sociais. O gesto retratado na imagem que tem circulado, reprodução de trecho de uma transmissão ao vivo feita pela CNN Brasil, é chamado de imposição de mãos. O objetivo do ato, de acordo com portais cristãos, é “abençoar, pedir a intercessão de Deus, pedir a cura de um doente ou a presença do Espírito Santo em alguma pessoa”.

A imagem que acompanha as peças de desinformação pode ser encontrada em reportagem que foi ao ar naquele dia na CNN Brasil e que também foi publicada no site da emissora. Por mais que o vídeo completo não esteja disponível, a indicação presente na legenda da imagem é de que os apoiadores do presidente rezavam por ele.

Em vídeo do canal bolsonarista Foco do Brasil no YouTube é possível ver outro ângulo da cena. A câmera mostra apenas o presidente, não o gesto dos apoiadores, mas escuta-se, ao fim da gravação, vozes rezando (a partir de 13’30’’).

O E-Farsas, que também fez uma checagem similar da peça de desinformação, publicou um vídeo que mostra o momento exato da transmissão da CNN Brasil em que o público começa a rezar por Bolsonaro.

Saudação nazista. Eternizado como o cumprimento de nazistas ao ditador alemão Adolf Hitler, o gesto de estender o braço direito para cima com a palma da mão para baixo foi apropriado inicialmente pelo fascista Benito Mussolini de uma tradição que se acreditava ser romana. Por mais que não existam documentos ou registros que provem que o gesto tenha, de fato, sido comum na Roma antiga, é possível vê-lo em pinturas como O Juramento dos Horácios, do francês Jacques-Louis David, de 1784.

Mais tarde, em 1914, o gesto foi usado no filme mudo Cabiria (1914), que teve o roteiro escrito pelo ultranacionalista italiano Gabriele d’Annunzio, apontado por historiadores como o precursor do chefe do partido fascista.

Tornado compulsório em 1923 dentro do partido nazista, o gesto de saudação a Hitler se tornou obrigatório em 1933 a todos os funcionários públicos e era uma forma de demonstrar a lealdade ao regime.

Na Alemanha atual é proibido produzir, distribuir ou exibir símbolos ligados ao período nazista — como suásticas, a saudação a Hitler e vários outros símbolos criados por grupos neonazistas em tentativas de burlar a Constituição. A negação do Holocausto também é crime.

Outro lado. Contatados por Aos Fatos para comentar a checagem, a Revista Fórum e o portal Brasil 247 não retornaram até a publicação desta reportagem. No caso da Fórum, o conteúdo enganoso foi posteriormente editado para indicar que seria um gesto “que lembra a saudação nazista” e que "bolsonaristas afirmam que se trata de 'oração'". No Brasil 247, a peça de desinformação foi deletada após a publicação desta checagem.

Referênicas:

1. CNN Brasil
2. E-Farsas
3. Época
4. História das Artes
5. War History Online
6. Folha de S.Paulo
7. New York Times
8. Deutsche Welle

*Esta checagem foi atualizada às 18h40 de 4 de junho de 2020 para informar que o site Brasil 247 apagou o conteúdo após a publicação desta checagem.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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