Não é verdade que o orégano seria capaz de curar o câncer, eliminar infecções bacterianas e fortalecer o sistema imunológico, como afirma um vídeo que circula nas redes. As alegações não têm respaldo científico e foram desmentidas por médicos consultados pelo Aos Fatos.
As peças de desinformação somam mais de 30 mil curtidas no Instagram e circulam também no TikTok e no Kwai.
O orégano é capaz de curar até o câncer

Um vídeo que circula nas redes mente ao dizer que o orégano “mata até 25 tipos de bactérias e fungos, protege contra o câncer, fortalece o sistema imunológico e preserva a visão”. O conteúdo também engana ao chamar o tempero de “antibiótico natural mais eficaz do mundo” e atribuir a seu óleo um efeito antioxidante “337 vezes mais forte do que o chá verde”.
De acordo com Thais Miola, coordenadora de Nutrição Clínica do A.C.Camargo Cancer Center, não há qualquer evidência de que a planta possa curar tumores ou atuar como antibiótico. A opinião é corroborada pelo médico Daniel Magnoni, especialista em Cardiologia, Nutrologia e Clínica Médica do Hcor (Hospital do Coração).
Magnoni explica que, embora o odor forte da planta evite que ela seja alvo de pragas, esse efeito não se transporta para o corpo humano quando o tempero é ingerido. “Ele não é um antibiótico poderoso e não pode ser utilizado no tratamento de infecções bacterianas”, enfatiza.
O médico ressalta que “alguns trabalhos científicos de baixa evidência” chegaram a cogitar que o orégano poderia melhorar o sistema imunológico, prevenindo infecções, mas essa possibilidade não é confirmada por estudos mais aprofundados.
“Então, não se pode dizer que o orégano fortalece o sistema imunológico”, conclui Magnoni, sem descartar a possibilidade de uma relação indireta entre a erva e a prevenção de doenças. “O que sabemos é que vários temperos estimulam o sabor e, com a pessoa se alimentando melhor, ela tem uma melhora na sua função imunológica.”
O médico também destaca que não existe nenhum trabalho científico que relacione o consumo de orégano à melhora na visão ou que verifique um efeito antioxidante capaz de evitar o surgimento do câncer ou de inflamações.
Riscos do chá
Por outro lado, Magnoni relata que existem alguns relatos na literatura acadêmica que atribuem ao chá de orégano efeito broncodilatador ou de melhora na digestão, “mas dentro de um consumo regular, moderado e por muito tempo”.
No caso de pessoas com gastrite, esofagite ou refluxo, porém, beber o chá pode piorar os sintomas, sobretudo se a bebida estiver muito concentrada.
Já Thais Miola aconselha que pacientes em tratamento contra o câncer devem evitar o chá, embora possam continuar consumindo a erva como tempero. “O chá tem uma concentração muito alta e pode atrapalhar a ação de algum quimioterápico, fazer com que ele não funcione adequadamente”, afirma, explicando que o mesmo vale para pacientes submetidos a outras técnicas, como a imunoterapia e a terapia-alvo.
O caminho da apuração
Aos Fatos entrou em contato com a assessoria de imprensa dos hospitais para pedir a indicação de médicos que pudessem avaliar o conteúdo do vídeo. A reportagem enviou o link da publicação para eles, acompanhado por perguntas sobre o tema. As respostas, enviadas por mensagens de áudio, foram transcritas usando a ferramenta Escriba.