Dólar caiu por Lula, mas nem sempre a Lava Jato mexe no câmbio

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Na última sexta-feira (4), após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sido levado pela Polícia Federal em São Paulo para prestar esclarecimentos ao Ministério Público, no âmbito das investigações da Operação Lava Jato, o mercado de câmbio acordou às 9h animado: dez minutos depois de abrir, a moeda norte-americana já despencava quase 3%.

Embora a depreciação da moeda norte-americana tenha desacelerado mais para o fim do dia, US$ 1 chegou a ser negociado a R$ 3,65 na mínima diária, e fechou em forte queda sobre o pregão anterior. Foi sua maior queda semanal desde 2008.

A motivação do mercado na sexta-feira foi clara: avessos ao atual cenário político e econômico no Brasil, muitos investidores, operadores e outros agentes do mercado esperam que, à medida que investigadores da Lava Jato avançam no megacaso de corrupção e se aproximam do topo do comando do PT, haja cada vez mais chances de um afastamento da presidente Dilma Rousseff — e, consequentemente, uma ruptura com as atuais políticas econômicas.

Levantamento feito pelo Aos Fatos e pelo Volt Data Lab mostra que, nas 24 fases da Lava Jato já deflagradas, o dólar teve volatilidade acima de 1% (para mais ou para menos) apenas sete vezes — nem sempre por causa das investigações, mas consistentemente quando o alvo era Lula ou Dilma.

Como notou reportagem da agência Reuters, "notícias que aumentam a pressão sobre Dilma, alvo de processo de impeachment, vêm sendo bem recebidas pelo mercado, que entende que eventual troca no governo pode trazer de volta a confiança e abrir espaço para mudanças na política econômica. Além disso, a investigação contra Lula poderia atrapalhar os planos do ex-presidente de concorrer à eleição em 2018".

Não foi à toa que, no início de dezembro de 2015, o dólar caiu 2,3%. Um dos componentes para esse comportamento foi a abertura do processo de impeachment contra a presidente.

Motivos para a queda. Há muitos motivos pelos quais o dólar oscila seu preço em certo dia: intervenção do Banco Central com instrumentos de mercado, divulgação de indicadores macroeconômicos, notícias internacionais, taxa de juros, "ajustes técnicos". Nesse sentido, fatores políticos sem dúvida podem contribuir para isso, embora menos frequentemente.

Conforme a tabela abaixo, só foram contabilizadas as oscilações no dia em que as fases da Lava Jato foram executadas, tendo como referência a cotação do dólar ao fechamento do dia anterior. Desse modo, de todas as grandes e pequenas flutuações no câmbio, é possível observar que o mercado só repercute diretamente a maior parte das operações passadas da Lava Jato se os alvos forem Lula e Dilma.

Com isso, é possível ver que, no mesmo dia das três ações da Lava Jato realizadas neste ano, o dólar sofreu fortes quedas atribuídas à Lava Jato. Em todos os casos, os desdobramentos da operação tinham a ver com Lula, Dilma e o PT.

Em 27 de janeiro, por exemplo, quando houve depreciação de 1,27% na moeda americana, a ofensiva da Lava Jato foi sobre um tríplex ligado a Lula no Guarujá (SP). Os investigadores suspeitam que a construtora OAS pode ter beneficiado o ex-presidente por meio de uma reforma no apartamento, que, posteriormente, acabou não sendo comprado pela família do petista.

Já em 22 de fevereiro, após a prisão do marqueteiro João Santana, o dólar chegou a cair mais de 2% no dia. O mercado de petróleo e os problemas econômicos na China ajudaram nessa queda, mas o cenário local tambémrefletiu a prisão do responsável por diversas campanhas do PT.

Os fatos decorrentes da Lava Jato, entretanto, não têm influência num cenário mais amplo, de óbvia fragilidade do governo, de sua política fiscal, da alta dos juros e da inflação. Ainda que as operações da Polícia Federal deem gás momentâneo ao mercado especulativo, desde o início da Lava Jato, em 17 março de 2014, o dólar já acumula alta de quase 60% — saltou de R$ 2,35 naquele dia para R$ 3,72, segundo dados do Banco Central, cuja taxa calculada diariamente, a PTAX, é uma referência do mercado.

Um dos dias de mais forte alta da moeda no ano passado, em 21 de setembro, foi quando a Justiça condenou o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, além de outros nove acusados de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras.

Outro momento de forte pressão sobre o dólar foi 14 de novembro de 2014. Naquele dia, a Petrobras, fragilizada pelo envolvimento de seus ex-diretores em casos de corrupção envolvendo a estatal, adiou a divulgação de seu balanço. O dólar valorizou 1,59% frente ao real.

Fato é que, no fim das contas, os operadores de câmbio até ficam de olho com o que está acontecendo na Lava Jato, mas aparentemente nem sempre respondem — exceto, claro, se os nomes de Lula e Dilma aparecerem no meio.

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