Disputa entre Bolsonaro e Doria dispara conteúdo de baixa qualidade sobre vacina nas redes

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A disputa entre o governador João Doria (PSDB-SP) e o presidente Jair Bolsonaro em torno da CoronaVac, vacina de origem chinesa para Covid-19 que está em testes em São Paulo, fez disparar nesta semana o número de publicações desinformativas ou de baixa qualidade sobre vacinação no Twitter, no WhatsApp, no YouTube e em sites, apontam dados do monitor em tempo real de Covid-19 do Radar Aos Fatos.

De 11 a 15 de outubro, a ferramenta encontrou uma média diária de 57 publicações de baixa qualidade que mencionavam termos relacionados a vacinas no Twitter. Esse número subiu para 600 publicações por dia entre 16 e 21 de outubro, salto de 950%. Outras redes monitoradas também registraram aumento no período. Em grupos públicos de discussão política do WhatsApp, a média de mensagens de baixa qualidade sobre vacina encontradas pela ferramenta por dia foi de 27 para 71 (166%). Já o YouTube passou de 1,4 para 10 vídeos (614%); e os conteúdos detectados em sites foram de 4,6 para 14,2 por dia (208%).

O movimento de alta começou quando Doria afirmou, na sexta (16), que a vacinação contra o coronavírus seria obrigatória para a população paulista caso o medicamento seja aprovado pelas autoridades sanitárias.

A tendência se acentuou nos últimos dois dias, depois que, na terça (20), o Ministério da Saúde anunciou acordo com o governo paulista para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. A notícia despertou protestos de bolsonaristas nas redes, levando Bolsonaro a dizer no dia seguinte que a compra não seria concretizada. Nesta quinta (22), o presidente voltou a falar sobre o assunto e reforçou que seu governo não compraria a vacina, mesmo depois de aprovação pela Anvisa.

Nem todo conteúdo detectado pelo Radar é necessariamente falso. Com base em padrões de linguagem, a ferramenta coleta e destaca automaticamente publicações que têm marcas de baixa qualidade —por exemplo, que combinem termos ligados a campanhas de desinformação, discursos sensacionalistas e expressões alarmistas (entenda a metodologia aqui).

Ainda assim, publicações exibidas pela ferramenta mostram que tem circulado uma série de alegações falsas sobre vacinas que já foram checadas pelo Aos Fatos.

No WhatsApp, por exemplo, uma das mensagens compartilhadas nos 273 grupos ativos acompanhados pelo Radar alega que o governo chinês dispensou a vacina desenvolvida pela Sinovac, que é testada em parceria com o governo de São Paulo, e distribuiu para sua população a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela empresa AstraZeneca, que tem parceria com o governo federal —o que não é verdade.

Outras publicações da rede questionam a legalidade da vacinação obrigatória, prevista na legislação brasileira desde pelo menos 1975, como no exemplo abaixo, que chama Doria de "ditador comunista genocida assassino".

Aparece ainda uma série de teorias conspiratórias, como a de que a vacinação seria um plano para implantar "nanochips" na humanidade, peça de desinformação que circula pelo menos desde agosto, ou de que a vacina poderia mudar o DNA humano. Como estes exemplos tirados do Twitter e do WhatsApp, respectivamente:

A ideia de que a vacina poderia causar mudanças no DNA e até levar ao desenvolvimento de câncer foi também reproduzida em um vídeo com mais de 130 mil visualizações que debateu a disputa em torno da CoronaVac.

"Os médicos estão falando que a vacina chinesa é uma terapia genética que ela inclusive poderia no futuro causar câncer no futuro nas pessoas", diz um dos participantes.

Por fim, outro exemplo de narrativa de desinformação que circula usa o episódio das vacinas para promover a cloroquina, cuja eficácia contra a Covid-19 não tem comprovação. Caso do texto intitulado "Bélgica: Médicos e Profissionais De Saúde Exigem A Suspensão Da Propaganda Pandêmica", publicado por um site.

Este texto foi enviado antes na newsletter semanal enviada aos assinantes do Radar Aos Fatos, que está em modo degustação até o fim do período eleitoral. Para recebê-la, cadastre-se aqui.

Fontes:
1. UOL
2. Folha de S. Paulo
3. G1
4. Aos Fatos 1, 2, 3, 4 e 5

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