Luiz Inácio Lula da Silva
Quero começar fazendo uma saudação especial a cada um e a cada uma de vocês. Uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que recebia todos os dias do povo brasileiro – representado pela Vigília Lula Livre –, num dos momentos mais difíceis da minha vida.
Hoje, neste que é um dos dias mais felizes da minha vida, a saudação que eu faço a vocês não poderia ser outra, tão singela e ao mesmo tempo tão cheia de significado:
Boa tarde, povo brasileiro!
Minha gratidão a vocês, que enfrentaram a violência política antes, durante e depois da campanha eleitoral. Que ocuparam as redes sociais, e que tomaram as ruas, debaixo de sol e chuva, nem que fosse para conquistar um único e precioso voto.
Que tiveram a coragem de vestir a nossa camisa e, ao mesmo tempo, agitar a bandeira do Brasil – quando uma minoria violenta e antidemocrática tentava censurar nossas cores e se apropriar do verde- amarelo, que pertence a todo o povo brasileiro.
A vocês, que vieram de todos os cantos deste país – de perto ou de muito longe, de avião, de ônibus, de carro ou na boleia de caminhão. De moto, bicicleta e até mesmo a pé, numa verdadeira caravana da esperança, para esta festa da democracia.
Mas quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos. Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para quem votou em mim.
Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado de divisão e intolerância.
A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras.
O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria radicalizada que se recusa a viver num regime democrático.
Chega de ódio, fake news, armas e bombas. Nosso povo quer paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz.
A disputa eleitoral acabou. Repito o que disse no meu pronunciamento após a vitória em 30 de outubro, sobre a necessidade de unir o nosso país.
“Não existem dois brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação.”
Somos todos brasileiros e brasileiras, e compartilhamos uma mesma virtude: nós não desistimos nunca.
Ainda que nos arranquem todas as flores, uma por uma, pétala por pétala, nós sabemos que é sempre tempo de replantio, e que a primavera há de chegar. E a primavera chegou.
Hoje, a alegria toma posse do Brasil, de braços dados com a esperança.
Minhas queridas amigas e meus amigos.
Recentemente, reli o discurso da minha primeira posse na Presidência, em 2003. E o que li tornou ainda mais evidente o quanto o Brasil andou para trás.
Naquele 1º de janeiro de 2003, aqui nesta mesma praça, eu e meu querido vice José Alencar assumimos o compromisso de recuperar a dignidade e a autoestima do povo brasileiro – e recuperamos. De investir para melhorar as condições de vida de quem mais necessita – e investimos. De cuidar com muito carinho da saúde e da educação – e cuidamos.
Mas o principal compromisso que assumimos em 2003 foi o de lutar contra a desigualdade e a extrema pobreza, e garantir a cada pessoa deste país o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar todo santo dia – e nós cumprimos esse compromisso:
... acabamos com a fome e a miséria, e reduzimos fortemente a desigualdade.
O Brasil não acabou com a fome nos mandatos de Lula e Dilma. Em nenhum momento da série histórica da pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre insegurança alimentar, iniciada em 2004, o país deixou de registrar milhões de pessoas na categoria “grave”, que é a que considera de fato a fome. O Brasil deixou o Mapa da Fome da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2014, o que não significa que o país deixou de registrar pessoas com insegurança alimentar grave. Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Brasil voltou ao Mapa da Fome, e o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 da Rede Penssan indicou que 33,1 milhões de pessoas não têm garantido o que comer. Sobre a miséria, embora tenha de fato caído durante os governos petistas, o Brasil também nunca deixou de registrar pessoas em situação de extrema pobreza, ou seja, com menos de US$ 1,90 de renda por dia. Segundo o IBGE, o menor índice foi atingido em 2014, ao final do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), com 9,033 milhões de pessoas em extrema pobreza. Entre 2020 e 2021, houve o maior crescimento desse índice segundo registrado pela série histórica: três em cada dez brasileiros passaram a viver abaixo da linha da pobreza.
Infelizmente hoje, 20 anos depois, voltamos a um passado que julgávamos enterrado. Muito do que fizemos foi desfeito de forma irresponsável e criminosa.
A desigualdade e a extrema pobreza voltaram a crescer.
Segundo a SIS (Síntese de Indicadores Sociais), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil bateu recorde de pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza em 2021: 29,4% estavam na primeira categoria e 8,4% na segunda. Esses são os percentuais mais altos ante a população desde o início da série histórica, em 2012. No último ano a desigualdade também cresceu. Segundo o IBGE, o índice Gini do Brasil — métrica aceita internacionalmente para medir a desigualdade de um país — cresceu de 0,524 em 2020 para 0,544 em 2021, sendo que quanto mais próximo o índice for de 1, maior é a desigualdade do país.
A fome está de volta – e não por força do destino, não por obra da natureza, nem por vontade divina.
A volta da fome é um crime, o mais grave de todos, cometido contra o povo brasileiro.
A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil. A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem.
De um lado, uma pequena parcela da população que tudo tem. Do outro lado, uma multidão a quem tudo falta, e uma classe média que vem empobrecendo ano após ano.
Juntos, somos fortes. Divididos, seremos sempre o país do futuro que nunca chega, e que vive em dívida permanente com o seu povo.
Se queremos construir hoje o nosso futuro, se queremos viver num país plenamente desenvolvido para todos e todas, não pode haver lugar para tanta desigualdade.
O Brasil é grande, mas a real grandeza de um país reside na felicidade de seu povo. E ninguém é feliz de fato em meio a tanta desigualdade.
Minhas amigas e meus amigos,
Quando digo “governar”, eu quero dizer “cuidar”. Mais do que governar, vou cuidar com muito carinho deste país e do povo brasileiro.
Nestes últimos anos, o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo. Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas.
Mães garimpando lixo, em busca do alimento para seus filhos.
Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo.
Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam estar na escola, vivendo plenamente a infância a que têm direito.
Trabalhadoras e trabalhadores desempregados exibindo, nos semáforos, cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: “Por favor, me ajuda”.
Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de automóveis importados e jatinhos particulares.
Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade verdadeiramente justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna.
Por isso, eu e meu vice Geraldo Alckmin assumimos hoje, diante de vocês e de todo o povo brasileiro, o compromisso de combater dia e noite todas as formas de desigualdade.
Desigualdade de renda, de gênero e de raça. Desigualdade no mercado de trabalho, na representação política, nas carreiras do Estado. Desigualdade no acesso a saúde, educação e demais serviços públicos.
Desigualdade entre a criança que frequenta a melhor escola particular, e a criança que engraxa sapato na rodoviária, sem escola e sem futuro. Entre a criança feliz com o brinquedo que acabou de ganhar de presente, e a criança que chora de fome na noite de Natal.
Desigualdade entre quem joga comida fora, e quem só se alimenta das sobras.
É inadmissível que os 5% mais ricos deste país detenham a mesma fatia de renda que os demais 95%.
Os dados citados por Lula estão no relatório A Distância Que Nos Une, publicado em 2017 pela ONG Oxfam Brasil e último dado público disponível. De acordo com o documento, que trata de desigualdade no Brasil, os 5% mais ricos do país detém a mesma renda dos demais 95% da população, apenas seis bilionários brasileiros são donos de uma riqueza equivalente aos 100 milhões mais pobres, e uma mulher trabalhadora que ganha um salário mínimo mensal levará 19 anos para receber o mesmo que um super-rico em apenas um mês.
Que seis bilionários brasileiros tenham uma riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões mais pobres do país.
Que um trabalhador ou trabalhadora que ganha um salário mínimo mensal leve 19 anos para receber o equivalente ao que um super rico recebe em um único mês.
E não adianta subir o vidro do automóvel de luxo, para não ver nossos irmãos que se amontoam debaixo dos viadutos, carentes de tudo – a realidade salta aos olhos em cada esquina.
Minhas amigas e meus amigos.
É inaceitável que continuemos a conviver com o preconceito, a discriminação e o racismo. Somos um povo de muitas cores, e todas devem ter os mesmos direitos e oportunidades.
Ninguém será cidadão ou cidadã de segunda classe, ninguém terá mais ou menos amparo do Estado, ninguém será obrigado a enfrentar mais ou menos obstáculos apenas pela cor de sua pele.
Por isso estamos recriando o Ministério da Igualdade Racial, para enterrar a trágica herança do nosso passado escravista.
Os povos indígenas precisam ter suas terras demarcadas e livres das ameaças das atividades econômicas ilegais e predatórias. Precisam ter sua cultura preservada, sua dignidade respeitada e sua sustentabilidade garantida.
Eles não são obstáculos ao desenvolvimento – são guardiões de nossos rios e florestas, e parte fundamental da nossa grandeza enquanto nação. Por isso estamos criando o Ministério dos Povos Indígenas, para combater 500 anos de desigualdade.
Não podemos continuar a conviver com a odiosa opressão imposta às mulheres, submetidas diariamente à violência nas ruas e dentro de suas próprias casas.
É inadmissível que continuem a receber salários inferiores ao dos homens, quando no exercício de uma mesma função. Elas precisam conquistar cada vez mais espaço nas instâncias decisórias deste país – na política, na economia, em todas as áreas estratégicas.
As mulheres devem ser o que elas quiserem ser, devem estar onde quiserem estar. Por isso, estamos trazendo de volta o Ministério das Mulheres.
Foi para combater a desigualdade e suas sequelas que nós vencemos a eleição. E esta será a grande marca do nosso governo.
Dessa luta fundamental surgirá um país transformado. Um país grande, próspero, forte e justo. Um país de todos, por todos e para todos. Um país generoso e solidário, que não deixará ninguém para trás.
Minhas queridas companheiras e meus queridos companheiros.
Reassumo o compromisso de cuidar de todos os brasileiros e brasileiras, sobretudo daqueles que mais necessitam. De acabar outra vez com a fome neste país. De tirar o pobre da fila do osso para colocá-lo novamente no Orçamento.
Temos um imenso legado, ainda vivo na memória de cada brasileiro e cada brasileira, beneficiário ou não das políticas públicas que fizeram uma revolução neste país.
Mas não nos interessa viver do passado. Por isso, longe de qualquer saudosismo, nosso legado será sempre o espelho do futuro que vamos construir para este país.
Em nossos governos, o Brasil conciliou crescimento econômico recorde com a maior inclusão social da história.
E se tornou a sexta maior economia do mundo, ao mesmo tempo em que 36 milhões de brasileiras e brasileiros saíram da extrema pobreza.
O Brasil se tornou a sexta maior economia do mundo em 2011, no primeiro ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), segundo levantamento do FMI (Fundo Monetário Internacional). O país caiu para a sétima posição em 2012 e, hoje, ocupa a nona posição.
Geramos mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada e todos os direitos assegurados.
De acordo com os dados da Rais (Anuário Estatístico da Relação Anual das Informações Sociais), em 2002, um ano antes de Lula ocupar a Presidência, o país tinha 28,6 milhões de empregos formais. Já em 2015, último ano completo de Dilma Rousseff (PT) no poder, esse número era de 48 milhões. Nos 14 anos de governos petistas, portanto, foram criados 19,4 milhões de empregos de carteira assinada, e não mais de 20 milhões, como disse Lula. Se levarmos em consideração apenas os anos Lula (2003-2010), o saldo foi de 15,4 milhões, segundo a mesma base de dados.
Reajustamos o salário mínimo sempre acima de inflação.
Dados do Ministério da Economia mostram que de fato foram concedidos aumentos acima da inflação para o salário mínimo nos governos Lula e Dilma. Em 2005, no primeiro mandato petista, passou a vigorar o cálculo do reajuste que considerava a inflação estimada do ano anterior mais o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos dois anos. Em 2011, Dilma transformou a regra em lei, que vigorou até 2018. Durante a gestão Bolsonaro, os salários passaram a ser reajustados apenas de acordo com a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
Batemos recorde de investimentos em educação – da creche à universidade –, para fazer do Brasil um exportador também de inteligência e conhecimento, e não apenas de commodities e matéria-prima.
Nós mais que dobramos o número de estudantes no ensino superior, e abrimos as portas das universidades para a juventude pobre deste país.
A afirmação do presidente é verdadeira se for considerado também o governo de sua sucessora, Dilma Rousseff (PT). Em 2002, um ano antes de Lula assumir, havia 3,4 milhões de matrículas no ensino superior, de acordo com dados do Censo de Educação Superior, produzido pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Em 2015, último ano completo da gestão de Dilma, havia 8 milhões de matrículas, pouco mais que o dobro. Considerando apenas o governo Lula, finalizado em 2010, o número de matrículas no ensino superior foi de 6,4 milhões.
Jovens brancos, negros e indígenas, para quem o diploma universitário era um sonho inalcançável, tornaram-se doutores.
Combatemos um dos grandes focos de desigualdade – o acesso à saúde. Porque o direito à vida não pode ser refém da quantidade de dinheiro que se tem no banco.
Fizermos o Farmácia Popular, que forneceu medicamentos a quem mais precisava, e o Mais Médicos, que levou atendimento a cerca de 60 milhões de brasileiros e brasileiras, nas periferias das grandes cidades e nos pontos mais remotos do Brasil.
Criamos o Brasil Sorridente, para cuidar da saúde bucal de todos os brasileiros e brasileiras.
Fortalecemos o nosso Sistema Único de Saúde. E quero aproveitar para fazer um agradecimento especial aos profissionais do SUS, pela grandiosidade do trabalho durante a pandemia. Enfrentaram bravamente, ao mesmo tempo, um vírus letal e um governo irresponsável e desumano.
Nos nossos governos, investimos na agricultura familiar e nos pequenos e médios agricultores, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa. E fizemos isso sem descuidar do agronegócio, que obteve investimentos e safras recordes, ano após ano.
Tomamos medidas concretas para conter as mudanças climáticas, e reduzimos o desmatamento da Amazônia em mais de 80%.
O percentual de redução do desmatamento na Amazônia citado por Lula é maior do que o verificado no monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Em 2010, último ano do segundo mandato do petista, foram desmatados 7.000 km², uma redução de 72,4% sobre o apurado em 2002, último ano de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Se for considerado o período de Dilma Rousseff no poder, o recuo é ainda menor: em 2015, último ano completo da petista, o desmatamento caiu 71,3%. Naquele ano, o indicador voltou a apresentar tendência de crescimento, o que gerou críticas de ambientalistas como Marina Silva (Rede), anunciada por Lula como atual ministra do Meio Ambiente.
O Brasil consolidou-se como referência mundial no combate à desigualdade e à fome, e passou a ser internacionalmente respeitado, pela sua política externa ativa e altiva.
Fomos capazes de realizar tudo isso cuidando com total responsabilidade das finanças do país. Nunca fomos irresponsáveis com o dinheiro público.
Fizemos superávit fiscal todos os anos,
A declaração só é verdadeira se Lula estiver se referindo aos seus oito anos de mandato. De fato, entre 2003 e 2010, o resultado das contas públicas foi superavitário (quando as receitas superam as despesas) em todos os anos. No entanto, o presidente costuma misturar em seus discursos dados econômicos que incluem o governo Dilma Rousseff (PT). Neste caso, a alegação de Lula estaria incorreta, já que o déficit fiscal se iniciou em 2014, durante o governo da petista, e perdura até hoje.
eliminamos a dívida externa, ...
A dívida externa brasileira, resultado dos empréstimos e financiamentos do país com agentes estrangeiros, nunca foi quitada. Lula considera que o país teria eliminado esse débito internacional em 2008, quando passou a ter mais dinheiro em reservas (US$ 203 bilhões) do que o montante da dívida (US$ 196 bilhões), mas isso não significa que a dívida externa foi “eliminada”, como afirma o presidente. Em outubro de 2022, de acordo com dados do Banco Central, o Brasil possuía uma dívida pública federal externa estimada de US$ 319,6 bilhões, enquanto as reservas internacionais totalizavam US$ 331 bilhões.
... acumulamos reservas de cerca de 370 bilhões de dólares...
Em 31 de dezembro de 2015, último ano completo do governo de Dilma Rousseff (PT), o Brasil tinha US$ 368,7 bilhões em reservas internacionais, segundo relatório do Banco Central. Já ao fim de 2010, último ano de Lula no poder, a cifra era de US$ 288,57 bilhões.
... e reduzimos a dívida interna a quase metade do que era anteriormente.
A dívida interna do país, que consiste no total de dinheiro que o governo pede emprestado a credores brasileiros quando faltam recursos para executar as despesas previstas no ano, cresceu durante os governos do PT. Em 2002, ano anterior ao primeiro mandato de Lula, a dívida interna líquida do governo federal e do Banco Central era de R$ 1,2 trilhão, em valores corrigidos pelo IPCA, o que correspondia a 24,4% do PIB. Em 2015, último ano completo de Dilma Rousseff no poder, a dívida chegou a R$ 3 trilhões, ou 35,5% do PIB. Considerando apenas a gestão Lula, finalizada em 2010, a dívida chegou a R$ 2,4 trilhões, ou 31,4% do PIB. Os dados são do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Nos nossos governos, nunca houve nem haverá gastança alguma. Sempre investimos, e voltaremos a investir, em nosso bem mais precioso: o povo brasileiro.
Infelizmente, muito do que construímos em 13 anos foi destruído em menos da metade desse tempo. Primeiro, pelo golpe de 2016 contra a presidenta Dilma. E na sequência, pelos quatro anos de um governo de destruição nacional cujo legado a História jamais perdoará:
700 mil brasileiros e brasileiras mortos pela Covid.
125 milhões sofrendo algum grau de insegurança alimentar, de moderada a muito grave. 33 milhões passando fome.
Lula faz referência aos dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, produzido pela Rede Penssan (Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). Segundo o relatório, 33,1 milhões de pessoas passam fome no país. O estudo também diz que, em 2022, 125,2 milhões de brasileiros passaram por algum grau de insegurança alimentar, ou seja, incapacidade no acesso regular e permanente aos alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem sentir a iminência de sofrer alguma restrição no futuro próximo. Não é verdade, entretanto, que essas 125,2 milhões de pessoas estimadas sofrem insegurança alimentar “de moderada a muito grave”, como disse Lula: o número inclui 59,667 milhões de pessoas estimadas em insegurança alimentar leve — quando há preocupação ou incerteza se vai conseguir alimentos no futuro.
Estes são apenas alguns números. Que na verdade não são apenas números, estatísticas, indicadores — são pessoas. Homens, mulheres e crianças, vítimas de um desgoverno afinal derrotado pelo povo, no histórico 30 de outubro de 2022.
Os Grupos Técnicos do Gabinete de Transição, que por dois meses mergulharam nas entranhas do governo anterior, trouxeram a público a real dimensão da tragédia. O que o povo brasileiro sofreu nestes últimos anos foi a lenta e progressiva construção de um genocídio.
Quero citar, a título de exemplo, um pequeno trecho das 100 páginas desse verdadeiro relatório do caos produzido pelo Gabinete de Transição. Diz o relatório:
“O Brasil bateu recordes de feminicídios, as políticas de igualdade racial sofreram severos retrocessos, produziu-se um desmonte das políticas de juventude, e os direitos indígenas nunca foram tão ultrajados na história recente do país.
Os livros didáticos que deverão ser usados no ano letivo de 2023 ainda não começaram a ser editados; faltam remédios no Farmácia Popular; não há estoques de vacinas para o enfrentamento das novas variantes da COVID-19.
Faltam recursos para a compra de merenda escolar; as universidades corriam o risco de não concluir o ano letivo; não existem recursos para a Defesa Civil e a prevenção de acidentes e desastres. Quem está pagando a conta deste apagão é o povo brasileiro.”
Meus amigos e minhas amigas. Nesses últimos anos, vivemos, sem dúvida, um dos piores períodos da nossa história. Uma era de sombras, de incertezas e de muito sofrimento. Mas esse pesadelo chegou ao fim, pelo voto soberano, na eleição mais importante desde a redemocratização do país.
Uma eleição que demonstrou o compromisso do povo brasileiro com a democracia e suas instituições.
Essa extraordinária vitória da democracia nos obriga a olhar para a frente e a esquecer nossas diferenças, que são muito menores que aquilo que nos une para sempre: o amor pelo Brasil e a fé inquebrantável em nosso povo.
Agora, é hora de reacendermos a chama da esperança, da solidariedade e do amor ao próximo.
Agora é hora de voltar a cuidar do Brasil e do povo brasileiro. Gerar empregos, reajustar o salário mínimo acima da inflação, baratear o preço dos alimentos.
Criar ainda mais vagas nas universidades, investir fortemente na saúde, na educação, na ciência e na cultura.
Retomar as obras de infraestrutura e do Minha Casa Minha Vida, abandonadas pelo descaso do governo que se foi.
É hora de trazer investimentos e reindustrializar o Brasil. Combater outra vez as mudanças climáticas e acabar de uma vez por todas com a devastação de nossos biomas, sobretudo a Amazônia.
Romper com o isolamento internacional e voltar a se relacionar com todos os países do mundo.
Não é hora para ressentimentos estéreis. Agora é hora de o Brasil olhar para a frente e voltar a sorrir.
Vamos virar essa página e escrever, em conjunto, um novo e decisivo capítulo da nossa história.
Nosso desafio comum é o da criação de um país justo, inclusivo, sustentável, criativo, democrático e soberano, para todos os brasileiros e brasileiras.
Fiz questão de dizer ao longo de toda a campanha: o Brasil tem jeito. E volto a dizer com toda convicção, mesmo diante do quadro de destruição revelado pelo Gabinete de Transição: o Brasil tem jeito. Depende de nós, de todos nós.
Em meus quatro anos de mandato, vamos trabalhar todos os dias para o Brasil vencer o atraso de mais de 350 anos de escravidão. Para recuperar o tempo e as oportunidades perdidas nesses últimos anos. Para reconquistar seu lugar de destaque no mundo. E para que cada brasileiro e cada brasileira tenha o direito de voltar a sonhar, e as oportunidades para realizar aquilo que sonha.
Precisamos, todos juntos, reconstruir e transformar o Brasil. Mas só reconstruiremos e transformaremos de fato este país se lutarmos com todas as forças contra tudo aquilo que o torna tão desigual.
Essa tarefa não pode ser de apenas um presidente ou mesmo de um governo. É urgente e necessária a formação de uma frente ampla contra a desigualdade, que envolva a sociedade como um todo: trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais, governadores, prefeitos, deputados, senadores, sindicatos, movimentos sociais, associações de classe, servidores públicos, profissionais liberais, líderes religiosos, cidadãos e cidadãs comuns.
É tempo de união e reconstrução. Por isso, faço este chamamento a todos os brasileiros e brasileiras que desejam um Brasil mais justo, solidário e democrático: juntem-se a nós num grande mutirão contra a desigualdade.
Quero terminar pedindo a cada um e a cada uma de vocês: que a alegria de hoje seja a matéria-prima da luta de amanhã e de todos os dias que virão. Que a esperança de hoje fermente o pão que há de ser repartido entre todos.
E que estejamos sempre prontos a reagir, em paz e em ordem, a quaisquer ataques de extremistas que queiram sabotar e destruir a nossa democracia.
Na luta pelo bem do Brasil, usaremos as armas que nossos adversários mais temem: a verdade, que se sobrepôs à mentira; a esperança, que venceu o medo; e o amor, que derrotou o ódio. Viva o Brasil. E viva o povo brasileiro.