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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Novembro de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Na COP27, Lula cita quedas e omite altas de desmatamento nos governos do PT

Por Luiz Fernando Menezes

16 de novembro de 2022, 17h02

Em discurso na COP27 (27ª Conferência do Clima das Nações Unidas), nesta quarta (16), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a citar um recorte de dados sobre desmatamento na Amazônia que exclui números desfavoráveis dos governos dele e da sucessora, Dilma Rousseff (PT).

No balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, onde acontece o evento, Lula afirmou que a área desmatada no Brasil caiu 83% entre 2004 e 2012 — excluindo os crescimentos ocorridos nos dois primeiros anos de seu governo e nos últimos anos completos da gestão seguinte. “O Brasil já mostrou ao mundo o caminho para derrotar o desmatamento e o aquecimento global”, afirmou o presidente eleito, ao citar apenas os números favoráveis.

A estratégia de usar dados verdadeiros sobre desmatamento, mas ignorar os desfavoráveis, foi usada ao menos oito vezes durante a campanha eleitoral.

  • Em junho, por exemplo, Lula publicou no Telegram que seu governo teria reduzido o desmatamento em 87%;
  • Em agosto, o petista citou uma redução de 80% durante um encontro em Manaus;
  • Em entrevista em 26 de outubro, Lula disse que o desmatamento diminuiu de 27 mil km² para 4.000 km², dados que correspondem respectivamente aos anos de 2004 e 2012.

Houve aumento do desmatamento entre o final do governo Fernando Henrique Cardoso (1995–2002) e os dois primeiros anos do petista no poder, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais): em 2002, foram devastados 21,6 km² na Amazônia Legal, e o índice chegou a 27.772 km² em 2004. Depois, houve queda em todos os anos exceto 2008, contemplado na fala de Lula na COP27.

Em nota, a assessoria do presidente eleito afirmou que “nos primeiros dois anos, o governo Lula criou os mecanismos de monitoramento de satélite e vigilância contra crimes ambientais que permitiram a redução contínua do desmatamento nos oito anos seguintes”.

O texto enviado ao Aos Fatos não menciona o aumento em 2008, durante o governo dele, e nem por que Lula citou em seu discurso dados apenas até o ano de 2012, omitindo o final do governo de sua sucessora, quando o índice apresentou piora.

Como mostra o gráfico acima, durante o governo Lula os índices de desmatamento foram maiores, em números absolutos, do que atualmente. No entanto, a tendência de queda é evidente. No ano em que Lula deixou a Presidência, o índice foi de 7.000 km², uma redução de 67,6% levando em consideração os oito anos de governo.

Na gestão de Dilma Rousseff houve aumento nos anos de 2013 (5.891 km²) e 2015 (6.207 km²). Levando em consideração todo o período de governos petistas, entre 2003 e 2015 (Dilma foi afastada em maio de 2016), a redução no desmatamento da Amazônia Legal foi de 71,3%.

No governo de Jair Bolsonaro (PL), o índice de desmatamento da Amazônia apresentou aumento em todos os anos, tendência que os dados já apontavam durante o governo Michel Temer (MDB). A área destruída na Amazônia saltou de 7.540 km² em 2018, fim da gestão Temer, para 10,1 mil km² em 2019, primeiro ano de Bolsonaro. Em 2021, foram devastados 13 mil km², maior área desde 2006.

Considerando os três primeiros anos do governo Bolsonaro, a taxa de desmatamento da Amazônia Legal aumentou 73,3%.

Os números referentes a 2022 ainda não foram disponibilizados pelo governo. Na segunda (14), o vice-presidente eleito e coordenador da equipe de transição de governo, Geraldo Alckmin (PSB), cobrou publicamente a gestão Bolsonaro, na figura do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP): “A informação é de que esses números já existem”, disse em entrevista coletiva.

Durante o discurso no Egito, Lula citou dados verdadeiros e contextualizados.

  • A projeção de 250 mil mortes por ano em decorrência de problemas causados pela emergência climática, como desnutrição, malária, diarreia e estresse por calor, foi publicada pela OMS (Organização Mundial de Saúde);
  • A projeção de pegada de carbono das pessoas que pertencem ao 1% de mais ricos do mundo se encontra em relatório da Oxfam, e os US$ 100 bilhões anuais para países desenvolvidos de fato estavam no Acordo de Copenhague da COP15;
  • Também é verdade que, mesmo com a redução de desmatamento registrada durante os governos petistas, o PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio cresceu. De acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o PIB dos ramos agrícola e pecuário, somados, era de R$ 447 bilhões. Em 2015, passou para R$ 1,2 trilhão.

Referências:

1. YouTube (Lula)
2. Escriba (1, 2 e 3)
3. Aos Fatos
4. Inpe
5. InfoAmazonia
6. G1
7. ONU
8. Oxfam
9. Unfccc
10. Cepea

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