🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Dilma Rousseff não participou de assalto ao banco Banespa em 1968

Por Luiz Fernando Menezes

29 de setembro de 2020, 10h52

A foto que mostra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em um tribunal militar não foi registrada durante um julgamento referente ao assalto de uma das agências do banco Banespa em São Paulo. A imagem (veja aqui), na verdade, mostra a petista sendo interrogada logo após sua prisão, em 1970, pelo crime de subversão. Rousseff acabou sendo condenada e só saiu da prisão no final de 1972.

Relatos da época também mostram que o assalto ao Banespa ao qual se referem as publicações não teve relação com a militância e foi organizado por cinco homens. Além disso, Rousseff nem sequer morava em São Paulo em 1968, quando o crime foi cometido.

Divulgada pelo então deputado federal Jair Bolsonaro em 2009, a desinformação tem circulado nas redes desde então. Na última semana, publicações no Facebook acumularam 11 mil compartilhamentos. Todas foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação do Facebook (veja como funciona).


FALSO

Uma imagem que mostra a ex-presidente Dilma Rousseff em um tribunal voltou a ser compartilhada nas redes para sugerir que a petista teria assaltado uma das agências do banco Banespa em São Paulo em 1968. A foto, publicada originalmente no livro A Vida Quer É Coragem, de Ricardo Amaral, mostra Rousseff em 1970, com 22 anos, em uma auditoria do Tribunal Militar na Ilha das Flores. Naquela época, a estudante estava sendo interrogada após ser presa em São Paulo por “subversão”. Mesmo condenada a seis anos e dois meses de prisão, Rousseff acabou sendo libertada no final de 1972, após conseguir redução da pena no STM (Superior Tribunal Militar).

O assalto ao Banespa em São Paulo de fato ocorreu em outubro de 1968, mas não contou com a participação de Rousseff. Segundo relatos da imprensa da época, cinco assaltantes da “Quadrilha da Metralhadora” participaram da ação, que terminou com o roubo de 180 mil cruzeiros novos. Em nenhum momento, houve a citação do nome da ex-presidente nem há indícios de que uma mulher tenha sido uma das autoras do assalto. O grupo responsável pelo crime teve integrantes presos já em 1968 mas, novamente, não há registro do nome da ex-presidente.

A desinformação de que Rousseff teria envolvimento em crimes como atos terroristas e sequestros ganhou força com uma notícia da Folha de S.Paulo em abril de 2009. Naquela época, o jornal publicou uma suposta ficha criminal da ex-presidente que, mais tarde, se descobriu não ter autenticidade confirmada. Em resposta à Folha, Dilma afirmou que nunca participou da luta armada e que, em 1968, ainda morava em Belo Horizonte e cursava a Faculdade de Ciências Econômicas.

Segundo documentos obtidos pela imprensa em 2010, em um depoimento realizado em 1970, Rousseff disse que o grupo militante do qual fazia parte chegou a assaltar três bancos e realizar um atentado a bomba, mas que nem ela nem o então marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, tiveram “participação ativa” nos casos. Os documentos mostram também que Dilma saiu de Belo Horizonte e foi para o Rio de Janeiro em 1969 antes de chegar a São Paulo.

Desinformações semelhantes, que tentam relacionar a ex-presidente com crimes na época da ditadura militar, são recorrentes nas redes. Um dos principais difusores dessas afirmações falsas é o presidente Jair Bolsonaro. Em 2009, quando ainda era deputado federal, acusou Rousseff de ter participado no assalto do Banespa sem apresentar provas.

Além do falso envolvimento com o assalto ao banco, o Aos Fatos também já desmentiu uma publicação que dizia que Rousseff teria participado do atentado de 1968 que acabou matando o soldado Mário Kozel Filho. A estudante, no entanto, não participava do grupo responsável pelo ataque. Desmentida em novembro de 2018, publicações similares voltaram a ser compartilhadas nas redes nas últimas semanas.

Uma checagem semelhante foi produzida pelo Estadão Verifica em junho deste ano.

Referências:

1. Época
2. Memórias da Ditadura
3. Folha de S.Paulo (Fontes 1, 2, 3 e 4)
4. O Globo
5. Câmara dos Deputados
6. Aos Fatos


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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