A foto que mostra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em um tribunal militar não foi registrada durante um julgamento referente ao assalto de uma das agências do banco Banespa em São Paulo. A imagem (veja aqui), na verdade, mostra a petista sendo interrogada logo após sua prisão, em 1970, pelo crime de subversão. Rousseff acabou sendo condenada e só saiu da prisão no final de 1972.
Relatos da época também mostram que o assalto ao Banespa ao qual se referem as publicações não teve relação com a militância e foi organizado por cinco homens. Além disso, Rousseff nem sequer morava em São Paulo em 1968, quando o crime foi cometido.
Divulgada pelo então deputado federal Jair Bolsonaro em 2009, a desinformação tem circulado nas redes desde então. Na última semana, publicações no Facebook acumularam 11 mil compartilhamentos. Todas foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação do Facebook (veja como funciona).
Uma imagem que mostra a ex-presidente Dilma Rousseff em um tribunal voltou a ser compartilhada nas redes para sugerir que a petista teria assaltado uma das agências do banco Banespa em São Paulo em 1968. A foto, publicada originalmente no livro A Vida Quer É Coragem, de Ricardo Amaral, mostra Rousseff em 1970, com 22 anos, em uma auditoria do Tribunal Militar na Ilha das Flores. Naquela época, a estudante estava sendo interrogada após ser presa em São Paulo por “subversão”. Mesmo condenada a seis anos e dois meses de prisão, Rousseff acabou sendo libertada no final de 1972, após conseguir redução da pena no STM (Superior Tribunal Militar).
O assalto ao Banespa em São Paulo de fato ocorreu em outubro de 1968, mas não contou com a participação de Rousseff. Segundo relatos da imprensa da época, cinco assaltantes da “Quadrilha da Metralhadora” participaram da ação, que terminou com o roubo de 180 mil cruzeiros novos. Em nenhum momento, houve a citação do nome da ex-presidente nem há indícios de que uma mulher tenha sido uma das autoras do assalto. O grupo responsável pelo crime teve integrantes presos já em 1968 mas, novamente, não há registro do nome da ex-presidente.
A desinformação de que Rousseff teria envolvimento em crimes como atos terroristas e sequestros ganhou força com uma notícia da Folha de S.Paulo em abril de 2009. Naquela época, o jornal publicou uma suposta ficha criminal da ex-presidente que, mais tarde, se descobriu não ter autenticidade confirmada. Em resposta à Folha, Dilma afirmou que nunca participou da luta armada e que, em 1968, ainda morava em Belo Horizonte e cursava a Faculdade de Ciências Econômicas.
Segundo documentos obtidos pela imprensa em 2010, em um depoimento realizado em 1970, Rousseff disse que o grupo militante do qual fazia parte chegou a assaltar três bancos e realizar um atentado a bomba, mas que nem ela nem o então marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, tiveram “participação ativa” nos casos. Os documentos mostram também que Dilma saiu de Belo Horizonte e foi para o Rio de Janeiro em 1969 antes de chegar a São Paulo.
Desinformações semelhantes, que tentam relacionar a ex-presidente com crimes na época da ditadura militar, são recorrentes nas redes. Um dos principais difusores dessas afirmações falsas é o presidente Jair Bolsonaro. Em 2009, quando ainda era deputado federal, acusou Rousseff de ter participado no assalto do Banespa sem apresentar provas.
Além do falso envolvimento com o assalto ao banco, o Aos Fatos também já desmentiu uma publicação que dizia que Rousseff teria participado do atentado de 1968 que acabou matando o soldado Mário Kozel Filho. A estudante, no entanto, não participava do grupo responsável pelo ataque. Desmentida em novembro de 2018, publicações similares voltaram a ser compartilhadas nas redes nas últimas semanas.
Uma checagem semelhante foi produzida pelo Estadão Verifica em junho deste ano.
Referências:
1. Época
2. Memórias da Ditadura
3. Folha de S.Paulo (Fontes 1, 2, 3 e 4)
4. O Globo
5. Câmara dos Deputados
6. Aos Fatos