🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Dezembro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Dieta rica em alimentos alcalinos não é capaz de eliminar o coronavírus

Por Luiz Fernando Menezes

9 de dezembro de 2020, 15h23

Não é verdade que a ingestão de alimentos alcalinos, ou seja, com pH maior do que 7, eliminam o coronavírus do corpo humano. Além de trazer uma lista de frutas, legumes e hortaliças consideradas ácidas, não alcalinas, as publicações omitem que não há, até o momento, qualquer alimento capaz de prevenir ou curar alguém da Covid-19.

A peça de desinformação diz ainda que suplementos vitamínicos e uma alimentação nutritiva fortaleceriam o sistema imunológico. Por mais que as autoridades de saúde recomendem uma dieta saudável e variada, ela não substitui a necessidade da adoção de medidas de prevenção, como máscaras e distanciamento social.

As publicações com a informação enganosa contavam com ao menos 1.300 compartilhamentos nesta quarta-feira (9) e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de monitoramento do Facebook (saiba como funciona).


FALSO

Voltou a circular nas redes a informação enganosa de que seria possível eliminar o novo coronavírus do corpo humano por meio da ingestão de alimentos alcalinos. Segundo as publicações, consumir alimentos com pH maior do que 8,5 impediria a infecção. Mas isso não é verdade: não há nenhuma evidência de que dietas possam prevenir ou curar a Covid-19.

“Não existe um alimento específico que irá prevenir a Covid-19”, afirma a OMS (Organização Mundial de Saúde). A recomendação para auxiliar o sistema imune é adotar uma dieta balanceada e variada que inclua grãos, legumes, vegetais, frutas, nozes e alimentos de origem animal. A organização possui até mesmo uma página que reúne informações sobre como manter uma alimentação saudável.

Também não há evidências de que vitaminas e suplementos previnam a infecção. De acordo com a OMS, “os micronutrientes, como as vitaminas D e C e o zinco, são essenciais para o bom funcionamento do sistema imunológico e desempenham um papel vital na promoção da saúde e do bem-estar nutricional”, mas não possuem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19.

Até o momento, as autoridades de saúde indicam como métodos de prevenção da infecção o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização frequente das mãos. Também é sugerido que as pessoas evitem aglomerações e contatos próximos e deixem os aposentos bem ventilados.

A peça informa de forma incorreta ainda o valor do pH dos alimentos apresentados. Segundo tabela da FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora de medicamentos e alimentos dos EUA, os números corretos são:

Banana: 4,5 a 5,2;
Limão: 2 a 2,6;
Abacate: 6,2 a 6,5;
Alho: 5,8;
Manga: 3,4 a 4,8;
Tangerina: 3,3 a 4,4;
Abacaxi: 4,4 a 4,6;
Agrião: 5,8 a 6,1;
Laranja: 3,6 a 4,3.

Como a escala de pH vai de 0 a 14, e substâncias com pH menor do que 7 são consideradas ácidas, enquanto substâncias com pH acima de 7, alcalinas, as postagens cometem ainda outro erro: todos os alimentos da lista são ácidos, não alcalinos.

Vale ressaltar que, embora sejam raras, é possível encontrar na natureza substâncias com pH negativo ou acima de 14. Elas, em geral, dependem de condições muito específicas, como é o caso de algumas encontradas nas altas temperaturas do interior de vulcões.

A peça que vem circulando nas redes sociais é muito semelhante a uma outra publicação que viralizou nas redes em abril. Naquela época, a lista vinha acompanhada da informação incorreta de que os alimentos seriam capazes de aumentar o pH do corpo e, assim, impedir que o vírus se espalhasse.

Pratos frios. Um dado presente na nova versão da peça é o de que seria recomendável consumir apenas alimentos quentes. Conforme explicou Gildo Girotto, pesquisador do Instituto de Química da Unicamp (Universidade de Campinas), essa afirmação distorce as recomendações sanitárias:

“O vírus tem maior chance de se proliferar em ambientes mais frios. Um vírus em uma chapa de metal à temperatura ambiente vai sobreviver mais tempo do que em uma chapa que está sendo aquecida, por exemplo. Portanto, podemos dizer, sim, que em alimentos quentes há menor chance de proliferação do coronavírus”.

Isso, no entanto, não significa que as pessoas não devam comer alimentos frios, como frutas, verduras e legumes. Segundo Girotto, basta lavar bem antes de consumi-los. A OMS indica que, antes de limpá-los com água corrente, as pessoas devem higienizar as mãos com sabão.

Referências:

1. OMS
2. OPAS
3. Ministério da Saúde
4. FDA
5. UFABC
6. Aos Fatos


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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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