É falso o diálogo atribuído ao ministro do STF Alexandre de Moraes e a um engenheiro da empresa Oracle que sugere que as eleições de 2022 foram fraudadas. Além de citarem uma série de informações incorretas sobre o sistema de votação brasileiro, os posts enganosos ainda inventam que a conversa teria sido divulgada pelo empresário Elon Musk, o que não ocorreu.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 1.200 curtidas no Instagram e centenas de compartilhamentos no Facebook neste sábado (5).
Expostas as fraudes nas eleições. Musk expõe falas entre Alexandre de Moraes e engenheiro responsável por fraudar o algoritimo

Posts nas redes têm compartilhado uma troca de mensagens apócrifa para sugerir que o ministro Alexandre de Moraes e um engenheiro da empresa de tecnologia Oracle teriam se aliado para fraudar as eleições de 2022. Segundo os posts, o suposto diálogo teria sido vazado pelo dono do X, Elon Musk.
Em busca na imprensa e em posts de Musk no X arquivados na ferramenta Wayback Machine, Aos Fatos não encontrou qualquer indício de que o empresário tenha divulgado a peça de desinformação.
O conteúdo apócrifo circula nas redes há semanas como uma corrente de WhatsApp, e inclusive já foi desmentido pelo Aos Fatos.
Há uma série de inconsistências que indicam que a conversa é falsa. De acordo com as mensagens, por exemplo, a totalização dos votos do primeiro turno teria começado às 16h. Nesse horário, no entanto, a votação ainda estava acontecendo — o pleito ocorreu das 8h às 17h, no horário de Brasília. Às 16h, apenas resultados do exterior haviam sido computados.
As peças também erram ao alegar que Lula teria assumido a dianteira duas horas e meia depois do início da totalização. A primeira parcial do primeiro turno foi divulgada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) às 17h04, quando Lula aparecia com 53,79% e Bolsonaro, com 33,99% do total de votos.
O petista liderou até às 17h14, quando foi ultrapassado por Bolsonaro. Houve uma nova troca de posição após às 20h, quando Lula retomou a liderança e assim permaneceu até o fim da totalização. A “virada” ocorreu, portanto, cerca de três horas após o início da contagem, e não duas horas e meia.
A totalização do primeiro turno de 2022 terminou às 10h do dia seguinte e mostrou que Lula e Bolsonaro avançaram para o segundo turno com 48,4% e 43,2% dos votos, respectivamente.
As peças de desinformação também disseminam uma série de outras mentiras sobre o processo de votação brasileiro:
- Não é verdade que a Oracle é a responsável por totalizar os votos das eleições brasileiras. A empresa de tecnologia é contratada para realizar a manutenção do supercomputador, equipamento físico que fica em uma sala-cofre do TSE e é operado apenas por funcionários do tribunal;
- A alegação de que a Oracle seria responsável pela contagem dos votos também ignora que a apuração começa ainda na urna eletrônica. Os equipamentos somam os votos das seções eleitorais e emitem boletins, que são impressos e divulgados no site do TSE (confira aqui os dados de 2022);
- As seções enviam os resultados para o sistema da Justiça Eleitoral, que soma os votos automaticamente na ordem em que são entregues os dados das urnas. Questões logísticas fazem com que os votos das regiões Nordeste e Norte sejam computados por último.
Por fim, não há indícios de que houve qualquer tipo de falsificação dos resultados eleitorais.
O caminho da apuração
Aos Fatos já havia desmentido uma peça de desinformação similar, que circulou inicialmente como corrente no WhatsApp. Com base nas informações já apuradas no site do TSE e em reportagens na imprensa, apontamos diversos indícios de que a troca de mensagens era falsa.
Também pesquisamos em fontes oficiais sobre como é feita a totalização dos votos, qual a participação da Oracle no pleito e quais foram os resultados do primeiro turno de 2022 minuto a minuto.
A reportagem também tentou contato com o TSE, o STF e a Oracle, mas não houve resposta até a publicação do texto.