Marcelo Camargo/Agência Brasil; Isac Nóbrega/PR

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Eleição presidencial dominou a desinformação em 2022, com saúde e guerra na Ucrânia em seguida

Por Luiz Fernando Menezes

2 de janeiro de 2023, 12h11

Meses antes de as urnas confirmarem que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) disputariam o segundo turno da eleição presidencial, as redes sociais já tratavam o embate como certo: os dois candidatos foram os principais personagens das publicações enganosas desmentidas pelo Aos Fatos em 2022.

Lula foi citado em 156 peças de desinformação; Bolsonaro, em 151. Apesar de o número ser semelhante, as histórias inventadas seguiram rumos divergentes: enquanto o petista era retratado como um ladrão bilionário, defensor de bandidos e inimigo da igreja, o presidente derrotado era um homem simples que evitava gastar dinheiro público, autor de dezenas de obras em todo o Brasil e cristão exemplar.

De forma similar ao que ocorreu em 2021, Lula foi majoritariamente atacado pela desinformação: 86% das publicações que o citavam eram negativas. Já as mentiras e distorções foram utilizadas para beneficiar Bolsonaro: 63% dos posts eram positivos.

As desinformações sobre os candidatos começaram a circular em janeiro, mas tiveram seu pico em outubro, mês em que ocorreram o primeiro e o segundo turno das eleições. Nesse período, a tônica desinformativa das publicações foi inventar falsas promessas de campanha de Lula e sugerir que o sistema eleitoral teria roubado votos de Bolsonaro.

ALÉM DE LULA X BOLSONARO

As eleições presidenciais foram precedidas por uma profusão de mentiras que se espalharam pelas redes desde os primeiros dias do ano. Mais da metade das publicações enganosas virais checadas pelo Aos Fatos em 2022 (369 das 684) estavam relacionadas às eleições; a primeira delas foi desmentida no dia 27 de janeiro.

Tema frequente no discurso de Bolsonaro, as supostas fragilidades do sistema eleitoral e das urnas eletrônicas também se destacaram na pauta desinformativa das redes. Teorias mirabolantes sobre fraude eleitoral apareceram em 46 publicações checadas pelo Aos Fatos durante o ano.

A maior parte das falsas irregularidades mirou as urnas eletrônicas, acusadas de serem inseguras e manipuladas para permitir a vitória de Lula. Ainda que as mentiras sobre o tema tenham circulado desde o início do ano, seu compartilhamento se intensificou nas proximidades do pleito, entre outubro e novembro.

Outros temas. Além da política, outros assuntos recorrentes nas peças de desinformação checadas em 2022 foram saúde (50 publicações) e a Guerra na Ucrânia (31), que se estende desde fevereiro.

Mais uma vez, o assunto principal sobre saúde foi a Covid-19, em especial, as vacinas. A maior parte da desinformação circulou nas redes entre janeiro e fevereiro — 28 das 41 publicações checadas foram compartilhadas nesses dois meses —, logo após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabelecer as diretrizes para a vacinação de crianças.

Viralizaram, por exemplo, publicações que diziam que os imunizantes teriam sido aprovados antes dos testes clínicos nessas faixas etárias, que estariam causando mal súbito em crianças e que já teriam sido responsáveis por milhares de mortes de jovens no exterior.

Outro assunto que não saiu da pauta dos desinformadores foi o chamado tratamento precoce. Apesar da falta de evidência sobre a eficácia de medicamentos como ivermectina e hidroxicloroquina contra a Covid-19, usuários das redes sociais e integrantes do governo insistiram em defender os remédios neste ano. Vale ressaltar que a principal maneira de prevenir a Covid-19 é por meio da vacinação, e recomenda-se que todos tomem as doses de reforço.

Print mostra o ex-ministro Eduardo Pazuello no podcast Cara a Tapa.
Ministro. Eduardo Pazuello desinforma sobre vacinação contra a Covid-19 em entrevista ao podcast Cara a Tapa em agosto de 2022 (Reprodução/Youtube).

O terceiro assunto que mais gerou desinformação em 2022 foi o conflito entre Rússia e Ucrânia. Chama a atenção nesse caso que as peças mais virais não tomavam partido, mas apelavam para o sensacionalismo: vídeos de pessoas rezando, batalhas em outros países e até simulações de videogame circularam no Brasil como se mostrassem a guerra em território ucraniano.

Entre as publicações verificadas, nenhuma fazia crítica direta ao presidente russo, Vladimir Putin. Em contrapartida, Volodimir Zelenski foi alvo de mentiras que tanto beneficiaram quanto prejudicaram sua imagem: críticos o chamaram de nazista e viciado em drogas, e apoiadores glorificaram sua coragem e espírito artístico.

Leia mais
Investigamos Desinformações sobre mortalidade e vacina contra Covid-19 foram as mais populares em 2020
Nas Redes Política supera pandemia e é o tema de desinformação mais checado em 2021

Mais virais. O interesse pela disputa eleitoral entre Lula e Bolsonaro é evidente não só pela quantidade de desinformação detectada como também pelo número de acessos que essas checagens receberam. As cinco publicações do Aos Fatos mais lidas em 2022 tratavam do pleito presidencial:

  1. Plano de governo de Lula não prevê legalização de drogas ou perseguição a religiosos
  2. Vídeo é editado para fazer crer que Lula apoia roubo de celular como meio de sobrevivência
  3. É falso que Lula propõe criação de banheiro infantil unissex caso eleito
  4. TSE não obrigou pastor André Valadão a se retratar nas redes sociais
  5. Bolsonaro, não Lula, enviou ao Congresso Orçamento com auxílio de R$ 405

As cinco publicações enganosas com maior engajamento checadas neste ano foram de ataques ao presidente eleito Lula. Juntas, elas alcançaram mais de 1 milhão de compartilhamentos no Facebook e no Instagram e ao menos 9 milhões de visualizações em redes como Kwai e TikTok no momento em que foram verificadas:

  1. Reportagem do ‘JN’ é tirada de contexto para atribuir a Lula e Dilma contas na Suíça
  2. Vídeo é editado para dizer que Lula se corrigiu e só prometeu ‘picanha de soja’
  3. Vídeo é editado para fazer crer que Lula apoia roubo de celular como meio de sobrevivência
  4. Áudios golpistas atribuídos a Tarcísio de Freitas não foram gravados por ele
  5. Não é verdade que Lula se recusou a descer de ônibus em cidade na Bahia

Colaboraram Bruna Leite e Marco Faustino.

Referências:

1. Aos Fatos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23 e 24)
2. CNN Brasil
3. Drauzio Varella
4. Governo federal

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.