Desinformação eleitoral alcança 3 milhões de visualizações no X mesmo com bloqueio do STF

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Publicações que disseminavam desinformação sobre as eleições municipais alcançaram 3 milhões de visualizações no X durante o fim de semana do primeiro turno — quando a plataforma ainda estava bloqueada no Brasil por ordem judicial.

A plataforma foi bloqueada no dia 30 de agosto pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e liberada na última terça-feira (8), após a empresa de Elon Musk cumprir as exigências legais para permanecer ativa no Brasil.

Depois que o X foi liberado pelo STF, Aos Fatos pesquisou retroativamente o movimento da rede entre o fim de semana do primeiro turno e segunda-feira (7).

O X foi uma das redes usadas por Pablo Marçal (PRTB), candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo, para disseminar um documento falso que mentia sobre Guilherme Boulos (PSOL) ter sido internado em um surto causado por uso de cocaína. O post com o laudo falsificado foi publicado por Marçal na noite de sexta-feira (4).

Uma decisão judicial emitida no sábado (5) determinou a exclusão do post e a suspensão do perfil do candidato no Instagram, mas não atingiu sua conta no X.

O post com laudo falso permanece no ar na rede com mais de 750 mil visualizações.

Nos dias seguintes, a desinformação seguiu circulando na plataforma publicada por outros perfis.

  • Aos Fatos localizou ao menos 25 posts virais que espalhavam o documento falso ou as alegações enganosas contra Boulos entre os dias 5 e 7 de outubro.
  • Juntas, as publicações somaram quase 2 milhões de visualizações e também seguiam disponíveis até a publicação desta reportagem.

Entre os perfis responsáveis por disseminar o documento falso no X está o de Guilherme Kilter (Novo), segundo vereador eleito mais votado em Curitiba. O então candidato apagou seu post após descobrir que se tratava de uma falsificação, mas publicou outra desinformação contra Boulos no período.

Print de publicação de Guilherme Kitter feita durante período de bloqueio do X no Brasil.
Vereador eleito por Curitiba desinformou sobre Guilherme Boulos ter cometido crime eleitoral por votar com a família (Reprodução)

Além de desinformar, Kilter e outros usuários que publicaram no X durante este período infringiram o bloqueio imposto à plataforma. A decisão que baniu o X do país também proibia que usuários utilizassem a rede através de meios alternativos, como VPN, durante o período de suspensão. A multa prevista para os desobedientes era de R$ 50 mil por dia.

Em mensagem ao Aos Fatos, o vereador eleito escreveu: “Usei sim o X porque o Alexandre de Moraes não é ditador do Brasil. E não fiz nenhum post desinformativo”.

Alegações de fraude. A reportagem também identificou 45 posts que disseminavam desinformação sobre os resultados do pleito ou alegavam que teria ocorrido fraude nas eleições municipais, que somaram mais de 300 mil visualizações.

  • Pelo menos cinco posts alegavam que a apuração dos resultados em São Paulo seria fraudada porque seguia o mesmo padrão de 2022, o que é falso;
  • Aos Fatos também identificou um post que, sem provas, alegava fraude na reeleição de Eduardo Paes (PSD) no Rio de Janeiro;
  • Os posts não sofreram qualquer moderação por parte da plataforma.

Aos Fatos enviou nesta quinta-feira (10) questionamentos à plataforma, que não retornou até a publicação da reportagem. O espaço permanece aberto para manifestação.


ATUALIZAÇÃO: Este texto foi atualizado às 20h25 de 10.set.2024 para incluir o posicionamento de Guilherme Kilter (Novo), eleito vereador na Câmara Municipal de Curitiba.

O caminho da apuração

Por meio de busca avançada no X, Aos Fatos coletou posts com as palavras "fraude" e "laudo" que circularam na plataforma entre os dias 5 e 7 de outubro de 2024 – véspera, dia da eleição e dia seguinte ao primeiro turno das eleições, quando o X ainda estava bloqueado no Brasil.

Analisamos então as 100 publicações com maior número de visualizações de cada uma das buscas para constatar a presença de desinformação, calculando o alcance daquelas que enganavam sobre o pleito.

Também analisamos os perfis responsáveis pela disseminação da desinformação durante o bloqueio da plataforma, buscando pela presença de figuras públicas e entramos em contato com a plataforma e com os perfis citados.

Referências

  1. Aos Fatos (1, 2, 3 e 4)

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