Em 7 de julho de 2015, Aos Fatos iniciava suas atividades sob o pretexto de restabelecer o diálogo entre quem faz política e quem efetivamente sofre as consequências dela.
Àquela época, um poderoso presidente da Câmara dava as cartas à revelia de uma presidente da República já enfraquecida, segundo quem a solução para a crise era um ajuste fiscal que nunca veio. Não poderíamos imaginar, porém, que o acirramento do debate entre dois pólos internamente tão diversos poderia resultar no que é este 7 de julho de 2016: mais um dia do segundo mês de um governo transitório quecobrimos consistentemente desde a sua concepção e que, tal como o anterior, é cindido por um sem número de escândalos.
Trata-se um momento singular para brasileiros em geral, é claro, mas especialmente único para jornalistas às voltas com o renascimento da profissão. (Já é ponto pacífico que ele não morreu, não é mesmo?)
Em sua concepção, Aos Fatos sempre acreditou que poderia entregar conteúdo aprofundado, de qualidade, na temperatura do noticiário político. Queimamos nossos dedos nas teclas do computador inúmeras vezes, tal foi a demanda por esse tipo de serviço durante os últimos meses. O resultado, comemorado por uma rede virtuosa de influenciadores digitais, é indelével. Várias dúvidas acerca do ofício, entretanto, permanecem.
Já dissemos certa feita que não nos arrogamos a função de juízes para a verdade absoluta, embora tenhamos certeza de que não há nada tão impermanente quanto os acertos. Numa indústria em revolução, às vezes sequer sabemos se eles de fato existem.
Na última conferência mundial da rede global checadores, o Global Fact 3, da qual fizemos parte, discutiu-se exaustivamente como gerar impacto com o tipo de trabalho que fazemos. O diagnóstico é que checar o discurso de autoridades e publicar reportagens na internet não é mais suficiente para conter a avalanche de boatos que as redes sociais e os próprios políticos disseminam.
A partir dessa premissa, perguntamos ao fundador do PolitiFact e vencedor do Pulitzer, Bill Adair, se a eficácia do trabalho dos checadores pode estar ameaçada. "O problema é que a forma com que boatos triunfaram, por exemplo, durante a campanha do Brexit, no Reino Unido, é um alerta de que apenas publicar checagens na internet não é suficiente. Precisamos encontrar novas formas mostrar verdades e mentiras ao eleitor", ponderou.
Segundo Alexios Mantzarlis, diretor da International Fact-Checking Network, do Poynter Institute, há desafios crescentes, "sobretudo com a ascensão das redes sociais como bolhas de opinião, deixando de fora versões com as quais se discorda, inclusive de fatos". Isso só mostra, conforme disse a Aos Fatos, que o trabalho dos checadores nunca foi tão necessário.
A fronteira final, na percepção da equipe de Aos Fatos, é o vídeo: na TV ou na internet, é necessário publicar declarações feitas em frente às câmeras com a mesma embalagem — inovadora, transparente, objetiva — do fact-checking feito em texto e gráfico. Com linguagem, obviamente, televisiva. Com roupagem popular, com apelo, com didatismo. O potencial é gigantesco.
Futuro. Como mostramos em um dos nossos vídeos comemorativos, neste primeiro ano, viajamos o mundo. Cruzamos fronteiras com reportagens em texto e infográficos inteligentes, cujo desenvolvimento só encontrou sucesso porque um grupo de 301 benfeitores contribuiu para que arrecadássemos R$ 32 mil em nossa primeira campanha de financiamento coletivo. Porém, não, não é suficiente.
No segundo semestre de 2016, Aos Fatos inicia um novo período de prospecção de recursos e desenvolvimento de projetos. Se neste primeiro ano nosso foco foi desenvolver esta plataforma — e, de quebra, cobrir uma das maiores crises políticas já vistas na breve história democrática brasileira — , os próximos meses serão de estruturação de um modelo eficiente de checagens em vídeo, com ênfase em distribuição pela internet.
Nossa campanha de arrecadação anual virá com essa proposta — além de, claro, permanecer como nossa principal fonte de financiamento para nossas operações já consolidadas. Você, leitor, será informado quando tivermos novidades acerca disso.
Transparência. Desde 7 de julho de 2015, Aos Fatos funciona como uma start-up jornalística financiada majoritariamente por seus leitores. Nesse período, 80% das nossas operações foram pagas com o dinheiro arrecadado em nossa primeira campanha de crowdfunding — e outras doações pontuais. Acreditamos que esta é a melhor maneira de financiar o jornalismo. Sem audiência fiel, não resta a qualquer veículo muita função.
Os demais 20% das nossas receitas vieram de parcerias editoriais firmadas neste ano. Não temos como objetivo principal vender conteúdo para outros veículos, mas sabemos que nossa presença em jornais, revistas, sites, redes de TV e de rádio aumenta o alcance da nossa produção.
O processo de venda de checagens e reportagens obedece trâmites comerciais que nos garantem independência: somos nós que sugerimos a pauta, apuramos e editamos. A distribuição do conteúdo fica a cargo do parceiro de Aos Fatos, que compra a exclusividade da publicação.
Isso não deverá mudar. Buscamos multiplicar nossa presença digital, ainda que o coração das nossas operações permaneça neste site. Nele, você encontrará nossa metodologia de checagem, conhecerá nossa equipe, terá acesso à nossa newsletter e às formas de contribuir financeiramente com Aos Fatos. Terá também acesso a conteúdos exclusivos em inglês e a apurações especiais.
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