A mentira de que o governo Lula teria aumentado o auxílio-reclusão, benefício pago às famílias de alguns presos, para valor acima do salário mínimo foi amplificada nas redes sociais nesta semana com a ajuda de 17 deputados federais e estaduais, aponta levantamento do Aos Fatos. Juntas, as publicações deles reuniam ao menos 70 mil interações nesta quarta-feira (18). Nenhum dos parlamentares se retratou, mas cinco apagaram depois o post enganoso.
O levantamento detectou a informação falsa sobre o reajuste do auxílio em contas de Facebook, Instagram e Twitter de dez deputados federais e sete estaduais, todos eleitos ou reeleitos nas eleições do ano passado. Grande parte do grupo tem como base eleitoral agentes de segurança pública e militares.
A informação disseminada é falsa porque o aumento concedido não foi no valor do auxílio-reclusão, mas no limite salarial que o preso tinha antes de ir para a cadeia. Em 2022, esse teto era de R$ 1.655,98, mas uma portaria do governo aplicou correção de 5,93%, ampliando-o para R$ 1.754,18. Se o preso recebe até esse valor, portanto, a família dele está apta a solicitar o auxílio-reclusão.
O valor do benefício é variável para familiares de detentos que ingrssaram no sistema prisional até 2019 e calculado pela média aritmética de contribuições ao INSS, excluindo as 20% menores. Já os que foram presos depois disso têm direito ao valor fixo correspondente a um salário mínimo, hoje em R$ 1.302.
A mentira de que o governo Lula teria aumentado o benefício começou a circular na sexta-feira (13), mas viralizou a partir da última segunda (16), quando atingiu centenas de milhares de curtidas e dezenas de milhares de compartilhamentos nas três plataformas analisadas.
Foi nesta semana que os 17 deputados publicaram as peças de desinformação sobre o assunto. Um dos posts mais virais, por exemplo, foi o do deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), que, após conseguir mais de 30 mil curtidas no Instagram, apagou a publicação. Procurado por Aos Fatos, ele não respondeu.
Já um tuíte do General Girão Monteiro (PL-RN) dizia que “em um país onde o crime compensa, um preso tem mais direitos que um trabalhador. O bandido recebe aumento e o assalariado, não”. A opinião eivada de desinformação acumulava ao menos 12 mil curtidas e 3 mil retuítes até terça-feira (17), e foi posteriormente deletada das redes.
Além de Monteiro, outros ex-militares e ex-agentes de segurança também ajudaram a disseminar a desinformação, como Cabo Gilberto (PL-PB) e Capitão Alberto Neto (PL-AM). Este último apagou a publicação no Instagram quando ela já havia atingido 5.500 curtidas, sem maiores explicações.
Integrantes da família Bolsonaro, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), também veicularam a informação falsa em seus perfis no Instagram. O ex-mandatário postou a desinformação nos stories do Instagram, onde as publicações são temporárias.
Aos Fatos entrou em contato com as assessorias dos políticos analisados, mas nenhum respondeu até a publicação da reportagem, nesta quarta-feira (18). Além das publicações de Jordy, Girão Monteiro e Alberto Neto, as de Rodolfo Nogueira (PL-MS) e de Luiz Felipe Bragança (PL-SP) também foram deletadas posteriormente.