Um mês após a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília, parlamentares bolsonaristas usam as redes para tentar responsabilizar petistas pelos crimes e emplacar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) a fim de abalar a imagem do governo Lula (PT).
- “Lula praticamente fez uma declaração de culpa sobre o 8 de janeiro”, escreveu o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) em vídeo no qual defende a criação da CPI;
- “O que Lula quer esconder colocando sigilo nas imagens das câmeras do dia 8?”, publicou Carlos Jordy (PL-RJ). O deputado também usou o espaço da tribuna no plenário da Câmara para pedir o engajamento de outros parlamentares na criação da comissão;
- “CPI do dia 08 de janeiro JÁ! 👊”, concordou no Facebook o deputado Luciano Zucco (Republicanos-RS), que usa o nome de urna Tenente-coronel Zucco.
Outros culpados. A tentativa de responsabilizar petistas pelos atos de violência já era pautada na época do ocorrido e mesmo em outras vezes em que houve cenas de depredação durante manifestações bolsonaristas, por meio de supostos “infiltrados” da esquerda.
O Aos Fatos analisou todas as publicações nas páginas de Facebook de 36 parlamentares que compunham a base do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos dois dias e nos dois dias que se seguiram aos atos terroristas de 8 de janeiro.
- Na época, 21 parlamentares eleitos em 2023 se manifestaram sobre o ocorrido, em 40 postagens que somaram 316 mil interações (curtidas e compartilhamentos) na plataforma;
- A maioria — 16 postagens com 135 mil interações — criticava medidas do Judiciário e do governo, como as prisões dos manifestantes, o afastamento do governador Ibaneis Rocha (MDB) e a intervenção federal na segurança pública de Brasília;
- Em segundo lugar, 15 postagens traziam manifestações de repúdio aos atos de vandalismo.
- Mas as publicações de maior engajamento (140 mil interações) levantavam falsas suspeitas sobre a presença de infiltrados entre os manifestantes ou lembrava ações violentas praticadas pela esquerda em anos anteriores, como forma de relativizar os acontecimentos
Na publicação mais popular da época, o deputado Filipe Barros (PL-PR) reproduziu fala do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello na qual ele isenta Bolsonaro de culpa sobre os atos. “Marco Aurélio questionou onde esteve o Estado e por qual motivo não previu e não tomou as providências cabíveis para evitar a invasão”, escreveu o parlamentar.
Embora tenha esfriado, o assunto continua em voga para pelo menos nove deputados, que fizeram 14 publicações sobre o tema nos últimos dois dias, somando 125 mil interações.
- Dessas, 12 criticaram a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de colocar as imagens dos atos terroristas em sigilo;
- Quatro delas propunham a criação de uma CPI para investigar a atuação do governo frente aos atos e outra criticava a atuação do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) sobre o assunto.